Top Gear: BBC suspende programa que fez sonhar
Top Gear. Sinónimo de entretenimento para os petrolheads e até para os que nem gostam assim tanto de carros. O programa britânico sobre automóveis tem uma longa história, que remonta a 1977. Depois de muitas roupagens e muitos formatos, o programa foi agora terminado pela BBC, por um período indeterminado.
Poucos se devem lembrar dos primórdios do Top Gear, numa altura em que era mais um programa sobre carros. No entanto, em 2002 o rumo do programa mudou com Jeremy Clarkson e Andy Wilman a operarem uma revolução no formato e na forma como a informação era dada. Deixou de ser um programa em que se falava, de forma por vezes entediante, sobre carros para ser uma hora de boa disposição, em que os carros eram o principal tema de conversa. Richard Hammond e Jason Dawe completaram o primeiro trio de apresentadores com Clarkson, numa fase ainda muito embrionária do que viria a ser o Top Gear, já com a entrada de James May.
Passo a passo, temporada a temporada, o programa foi ganhando uma legião de fãs que o tornaram num dos programas mais vistos no mundo. O Top Gear passou a servir doses generosas de pneu queimado, altas rotações e de um humor quase infantil, pela mão de três apresentadores com personalidade para dar e vender, cada um à sua maneira. O Top Gear deixou de ser um programa sobre carros. Passou a ser muito mais que isso.
Em vez de vermos três especialistas a falar das virtudes e falhas dos veículos apresentados, passamos a ter três amigos, com uma química tremenda, a mostrar os carros, nem sempre de forma muito “científica” (se é que isso existe) e a viajar pelo mundo. Quem nunca sonhou fazer uma “road trip” com os melhores amigos pela Europa fora, com alguns dos melhores carros do mundo. O Top Gear servia-nos esse sonho de forma simples e bem disposta. De 2002 a 2015, o formato foi crescendo e o programa tornou-se quase do tamanho da BBC e aqui criou-se mais um pormenor delicioso, em que os três apresentadores, especialmente Clarkson desafiavam a entidade patronal, quase como os jovens desafiam os pais. Os ingredientes juntaram-se de forma perfeita e cada episódio era apenas mais um sonho servido de forma cada vez mais opulenta.
Mas em 2015, um incidente nas filmagens entre Clarkson e um dos membros da produção que resultou em violência verbal e física. O contrato de Clarkson foi terminado e com ele saíram Hammond e May. O sonho começou a terminar aí.
O trio de estarolas mudou-se para a Amazon, onde passaram a ter ainda mais meios, mas a magia perdeu-se um pouco. Do lado da BBC houve várias tentativas de manter o formato, com nomes como Chris Evans, Matt LeBlanc, Rory Reid, Sabine Schmitz, Chris Harris e Eddie Jordan a entrarem em cena. Mas a receção foi fria e, esses nomes foram saindo de cena, mantendo-se Harris, já bem conhecido do mundo da internet pelos excelentes vídeos em que era protagonista.
A última versão do Top Gear contava com Harris, Andrew Flintoff e Paddy McGuinness, e os números começaram a subir, mas um acidente em que Flintoff bastante mal tratado acabou por ditar o fim do Top Gear. A BBC não diz que é o fim do programa, mas por um “período indeterminado” o programa vai ser parado, mantendo-se a publicação e o site.
É triste ver o fim de um programa que marcou uma era e mudou a forma como os carros passaram a ser apresentados ao mundo. Um formato leve, bem-disposto, alicerçado em três personagens muito diferentes, mas com uma ligação inigualável. O Top Gear passou a ser uma montra que beneficiava as marcas e os espetadores (e claro os responsáveis do programa). O tal sonho de tantos, mostrado com a simplicidade e a loucura que as amizades devem sempre preservar. Em 2023, a história chega ao fim, pelo menos para já, depois várias tentativas de reacender a chama que nunca mais foi tão intensa. Ficam as boas memórias e os grandes momentos de TV.
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