Recordar… Ferdinand Piech
Incontornável, o nome de Ferdinand Piech esteve sempre ligado ao automóvel, ao grupo Volkswagen e á Porsche. Faleceu o ano passado e por isso é hora de recordar aquele que um gestor feroz e um engenheiro brilhante.
Foi debaixo da batuta de Ferdinand Karl Piech que a Vokswagen se tornou o gigante que hoje é. Quando chegou, a VW estava emaranhada em dívidas e problemas de qualidade e fiabilidade. O neto de Ferdinand Porsche (a sua mãe era filha do homem que fundou a Porsche e deu à luz o Volkswagen Carocha) tornou-se CEO da VW em 1993 e de imediato mudou toda a equipa de gestão. Reduziu custos ao convencer os sindicatos a aceitar uma semana de trabalho mais curta e planos para aumentar a produção nos dias de laboração. Com este trabalho de sapa, Piech inverteu a situação, tornou a VW lucrativa e passou a produzir produtos com maior qualidade sem que tivesse tido de cortar na força de trabalho de forma significativa. Conseguiu, assim, Piech ganhar a confiança dos sindicatos e dos acionistas da empresa, mantendo a sua ideia inamovível de produzir carros de superior qualidade e tecnologia avançada.
“Sempre me vi como uma pessoa do produto que acreditava no seu instinto sobre as exigências do mercado. O negócio e a política nunca me distraíram do meu objetivo e da minha missão: desenvolver e fazer carros atraentes.” Foi assim que Ferdinand Piech se caracterizou na sua autobiografia de 2002.
A coroa de glória da Ferdinand Piech foi a aquisição da Porsche em 2012, compra que acabou por virar a seu favor uma longa disputa com o seu primo Wolfgang Porsche, que tentou comprar a VW durante quatro anos, sem sucesso. Piech foi contra a família e ficou do lado da Baixa Saxónia – que tinha poder de bloqueio na estrutura acionista da VW – para rejeitar a oferta da Porsche no exato momento em que a casa de Zuffenhausen se endividou fortemente para concretizar a compra.
A união da VW com a Porsche foi uma espécie de regresso às origens da família onde Ferdinand Porsche foi comissionado pelo regime nazi para criar o original Volkswagen (carro do povo) em 1934. Mas Piech queria mais e desejava criar um império. Por isso comprou a Bentley e a Bugatti e trouxe para dentro do grupo marcas de produção em massa como a Seat e a Skoda e no final de 2012, o grupo VW era proprietária ou tinha a maioria das ações de 12 marcas, incluindo a Lamborghini, a MAN e a Scania e a italiana Ducati. Criou um monstro que se tornou o maior “player” europeu e se permitiu desafiar a Toyota como primeiro construtor mundial.
Mas Ferdinand Piech não era só virtudes. A sua obsessão com o automóvel e o seu desejo de ter os melhores carros sem olhar aos custos, acabou por custar muito dinheiro à Volkswagen. Os terríveis fracassos do caríssimo Volkswagen Phaeton, do impossível Audi A2, fizeram o grupo VW perder dinheiro em cada carro vendido. No caso do Bugatti Veyron, apesar do preço milionário, a marca francesa teria de vender o carro pelo dobro do preço para conseguir atingir o “brake even”. Um recorde negativo que pertence a Piech e á VW.
Ferdinand Piech era terrível quando perdia a confiança nos seus gestores. O caso mais flagrante foi o de Bernd Pischetsrider, o seu sucessor como CEO escolhido por ele. Quando entendeu que o alemão estava a rumar contra a sua ideia, não descansou enquanto não o empurrou para fora da administração da Volkswagen. Mas o que mais páginas encheu foi a luta pelo poder entre Piech e o seu delfim, Martin Winterkorn. O conselho de supervisão decidiu enfrentar o veterano engenheiro e colocou-se do lado do CEO, numa votação sobre a extensão do contrato de Winterkorn, algo que ia contra o desejo de Piech. Perdeu o embate e, furioso, abandonou o cargo de presidente do conselho de supervisão e todos os cargos que detinha no grupo. Curiosamente, pouco depois, espoletava-se o Dieselgate que acabou com a carreira de Martin Winterkorn e custou à VW nada menos que 30 mil milhões de euros em mutas, indeminizações e outros encargos.
Ferdinand Piech e o seu primo Wolfgang Porsche sempre negaram ter tido conhecimento do assunto antes dele ser descoberto pelos americanos, mas a verdade é que todo o departamento de engenharia do grupo sempre apontou o desenvolvimento de uma cultura que não admitia o fracasso como causa do Dieselgate. Os membros do departamento de engenharia do grupo tinham mais medo de perder o emprego do que dizer a Ferdinand Piech que não conseguiriam atingir um objetivo, tecnológico, exigido por Piech.
O veterano executivo e engenheiro acabaria por vender a sua posição acionista no grupo á família por 1,1 mil milhões de euros e afastou, totalmente, do grupo e do negócio.
Ensaios: consulte os testes aos novos carros feitos pelos jornalistas do Auto+ (Clique AQUI)
0 comentários