Primeiro ensaio Renault Clio TCe 100: um enorme passo em frente
Isto de ser mais idoso tem algumas vantagens, nomeadamente quando temos na mão o convite para conhecer a quinta geração de um carro que conheço desde o primeiro modelo apresentado em Paris em 1990. E dos cinco até agora lançados, só não estive no lançamento da segunda geração. Era maçarico e o chefe foi no meu lugar até ao Caribe. Serve este pequeno “Regresso ao Passado no Auto+ e no Autosport” para lhe dizer que me sinto particularmente à vontade para avaliar esta quinta geração do Clio, um carro que, não parecendo, é muito diferente do anterior e marca uma forte evolução.
A anterior geração do utilitário francês foi duramente criticada devido à fraca qualidade dos interiores. Fui dos menos ácidos nas críticas e ainda hoje entendo que o Clio tinha mais um problema de qualidade percecionada do que real. Claro que não era brilhante, longe disso, e face aos rivais mais importantes, o Clio levava uma verdadeira “abada”. Curiosamente, isso não o impediu de já caminhando no plano inclinado da substituição, vendesse em 2018 mais de 328 mil unidades e tivesse aumentado as vendas 2,2% face a 2017. É o segundo carro mais vendido na Europa e ao longo da sua história já vendeu mais de 15 milhões de unidade, qualquer coisa como um carro a cada minuto.
Sim, é verdade, a quarta geração do Clio era fraquinho no que tocava à qualidade dos materiais, mas a montagem até que aguentava o embate. Mas face ao que os rivais já tinham apresentado e o que se está a preparar, a Renault tinha de alterar o Clio. Mas foi prudente e seguindo a velha máxima da indústria automóvel “em equipa que ganha mexe-se pouco”.
O primeiro ensaio a este Clio, deixou claro que a Renault deu um passo em frente e fez um utilitário de primeira água. Detalhes que melhoraram: a direção passou a ser mais consistente e deixou aquela sensação de artificialidade da anterior geração; o chassis, novo, é neutro com um eixo traseiro que se mantém sossegado e uma dianteira que, não evitando algumas escorregadelas quando abusamos da velocidade, é sempre progressiva e nunca nos coloca numa camisa de sete varas. Isto apesar do Clio estar mais orientado para o conforto, com molas e amortecedores suaves. E posso dizer que em autoestrada e em estrada nacional, o Clio é imperial, quando chegamos a pisos mais degradados a coisa não é tão boa e quando os buracos são reis, sentimos as pancadas. A culpa não morre solteira: as jantes de 17 polegadas, felizmente opcionais, são culpadas deste estado de coisas. Acredito que com as jantes de 15 e 16 polegadas, o Clio seja mais confortável.
Por outro lado, o comportamento é muito interessante e o Clio coloca-se a par dos melhores do segmento, mesmo que um Ford Fiesta continue a ser mais divertido de conduzir.
A parte mecânica também recebeu novidades, com a introdução do bloco 1.0 TCe 100 CV e o 1.3 TCe, desenvolvido em parceria com a Mercedes. Este segundo motor surge numa versão RS Line e está disponível com caixa de velocidades automática. Este primeiro ensaio foi feito com o primeiro e por isso vamos nos cingir à apreciação do Clio com o bloco 1.0 TCe de 100 CV.
O motor, com três cilindros, tem um tom rouco, mas discreto. Apesar de ter apenas 150 Nm de binário (a maioria dos rivais, com injeção direta, anda pelos 200 Nm), não há zonas vazias, mas não tem o fôlego necessário para evitar que tenhamos de recorrer à caixa de velocidades – bem escalonada, mas com um comando que não é lá grande coisa, lento e algumas vezes teimoso – para uma ultrapassagem ou para vencer uma subida mais íngreme. Isto, apesar do Clio estar mais leve 50 quilos.
O reverso da medalha de tudo isto reside nos consumos e emissões. O Clio com este motor 1.0 TCe emite 100 gr/km de CO2 e uma média de 4,4 litros por cada centena de quilómetros. No final deste primeiro ensaio, o valor não foi tão bom, mas 5,7 l/100 km é uma excelente cifra.
Mas a grande diferença está, mesmo, no interior. É verdade que a habitabilidade e a bagageira não melhoraram muito: a bagageira tem 391 litros, antes tinha 330 litros, no banco traseiro há um pouco mais de espaço pois os bancos foram redesenhados e são, agora, mais finos.
A grande diferença está no tabliê, desenhado de outra forma e para o conteúdo. O painel de instrumentos é digital, totalmente personalizável, a consola central tem agora um ecrã flutuante, enfim, estamos perante um interior totalmente novo que exibe o “Smart Cockpit” da Renault.
E dele fazem parte, então, o painel de instrumentos digital que tem 7 ou 10 polegadas, consoante o nível de equipamento, o ecrã flutuante com 9,3 polegadas, a consola central com carregador sem fios para o smartphone, travão de mão elétrico e, ainda, espaços de arrumação que perfazem 26 litros de capacidade, mais 4 litros que o anterior modelo.
A tecnologia embarcada é de topo e tenho de destacar a travagem autónoma de emergência com deteção de peões, alertas de distância de segurança para os modelos á frente e ainda o “Lane Assist” que não passa de um sistema convencional, mas com um “twist”. Ou seja, se o sistema for o mais completo, além de utilizar o cruise control com radar que tem função “stop & go” (ou seja, para e arranca em caso do mesmo suceder com o veículo à frente) permite que o carro fique centrado na faixa de rodagem e permita que durante alguns segundos retire as mãos do volante. Por questões legais, não pode andar sem as mãos no volante, mas o sistema reconhece a mão no volante e nem é necessário fazer algum gesto com a direção.
O ecrã central é sensível ao toque e todos esperamos que o novo Easy-Link seja bem mais fiável que o defunto R-Link.
Veredicto
Claro salto em frente, o Clio tem muito mais qualidade, tem melhor chassis e o comportamento subiu de classe, apesar de ser um carro virado mais para uma utilização familiar, ou seja, mais orientado para o conforto. Não há grandes progressos em termos de habitabilidade e capacidade da mala, mas o Clio é um carro que pisa bem, serve, perfeitamente, o objetivo que tem de ser utilitário e oferece muita tecnologia, alguma inovadora no segmento e muito útil. Enfim, nota muito positiva neste primeiro contacto com o novo Clio, para confirmar quando o carro chegar a Portugal em setembro e puder fazer o ensaio completo. Ah! e não há, ainda, preços.
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