Primeiro ensaio Nissan Juke: continua ousado, mas é melhor que o anterior
Nove anos é muito tempo dizia o poeta e o Juke esteve demasiado tempo exposto à agressão de cada vez mais e melhores rivais. Mas o conceito provou ser o correto.
Em conversa com Ekaterina Apushkina, a responsável pelo projeto Juke, foi possível perceber a dificuldade que rodeou o nascimento desta segunda geração do crossover que criou o segmento B-SUV. “Se recordar, o Juke quanto surgiu foi uma pedrada no charco e só três anos depois é que começaram a surgir rivais. Porém, o Juke continuou a vender muito bem e fazia sentido continuar. Hoje temos 24 rivais diferentes no segmento, por isso esta é a altura certa para lançar esta segunda geração do Juke. Mas tivemos de ter algumas cautelas, pois quisemos manter o estilo arrojado, diferente e ao mesmo tempo satisfazer as críticas que foram sendo feitas por vocês, jornalistas, mas particularmente pelos clientes” lembrou a russa, completando ao dizer que “acho que o novo Juke responde a todas as exigências e está pronto para ser protagonista!”
Não posso deixar de concordar com Ekatarina Apushkina: o novo Juke continua ousado e arrojado no exterior, mas muito melhor no interior.
A Nissan diz muitas vezes que inventou o segmento B-SUV, mas eu acredito que a marca japonesa popularizou o conceito com um crossover que saiu da caixa com um estilo arrojado e um interior diferente de tudo o que havia. E lembro bem a apresentação do primeiro Juke com a consola central a lembrar, diziam os homens do marketing e o então CEO, Andy Palmer, a fazer a comunhão entre o carro e a moto. Longe estaríamos todos nós, nessa altura, de acreditar que nove anos depois a casa japonesa tenha vendido mais de 1 milhão de unidadez no Velho Continente e 14 mil unidades em Portugal. Mas o declínio era mais que evidente e entre 2017 e 2018 o Juke perdeu 23 720 unidades (90 896 em 2017 e 67 176 unidades em 2018) e este ano, entre janeiro e agosto, a Nissan vendeu, ainda assim, 38 640 unidades, menos 8 500 unidades que em igual período de 2018.

O que muda na segunda geração do Juke?
O novo Juke continua a ser um carro pequeno, alto e com um estilo diferenciado do resto do segmento. Cresceu em todas as dimensões: é mais comprido 75 mm (4210 mm), mais largo 29 mm (1800 mm) e mais alto 13 mm (1595 mm). Mas o mais impressionante é o ganho na distância entre eixos. São mais 105 mm (2636 mm) que fazem toda a diferença.
Com estes 4,2 metros de comprimento, o Juke fica entre um Clio (4050 mm) e um Megane (4359 mm) e com uma bagageira que oferece mais 20% de capacidade (422 litros passa a ser das maiores do segmento), torna-se um carro que passa a lutar numa classe diferente, ou seja, deixou de ser um miúdo entre adultos para ser um carro capaz de ser opção aos modelos do segmento acima. Tudo isto é cortesia da plataforma da Aliança Renault Nissan Mitsubishi, a CMF-B que serve de base aos novos Clio e Captur. E esta faz toda a diferença, apesar de ser uma base convencional que só aceita motores transversais e tração dianteira com suspensões McPherson á frente e eixo de torção na traseira. Mas isso não inibe o Juke de ter dado um enorme passo em frente face á anterior geração.
Entretanto, a Nissan decidiu simplificar tudo e o Juke deixou de ter várias opções de motores para oferecer apenas o bloco 1.0 DIG-T, uma unidade de três cilindros a gasolina sobrealimentada, com 117 CV e 200 Nm de binário com “overboost”. So há este motor com a opção de caixa manual de seis velocidades ou automática de dupla embraiagem (a EDC da Renault) com sete marchas. Em termos de performances, a Nissan segue a tendência atual de dar mais importância à eficiência em termos de consumos e emissões. Por isso, o Juke com este motor não vai além dos 10,4 segundos no exercício dos 0-100 km/h, com caixa automática o mesmo exercício leva mais 0,7 segundos. Curiosamente, o Juke é mais rápido 15% que o anterior.
No que toca aos consumos, a Nissan reclama 6,0 l/100 km para o Juke manual e 6,1 l/100 km para o Juke automático, enquanto que em termos de emissões, são 135 gr/km de CO2, menos 30% que anteriormente, para o manual e 138 gr/km para o automático.

Afinal, o Juke está mesmo muito diferente?
O que fez vender o Juke desde a primeira hora foi, além da novidade, o estilo do carro. E a Nissan não hesitou em “cavalgar” essa ideia ao revelar que o Juke é descrito pelos clientes como um carro distinto (52%), divertido de conduzir (25%) e jovem (20%). Ou seja, o Juke vendeu, claramente, pela sua imagem irreverente que se destacava de uma multidão cinzenta.
Evidentemente que o novo Juke teria se seguir a mesma via e esta segunda geração é facilmente identificada, pois a ideia é a mesma, com agora com mais músculo – as jantes de 19 polegadas que preenchem na totalidade as musculadas cavas das rodas ajudam a essa imagem – e bebendo inspiração no anterior modelo, em outros modelos da Nissan e até no Toyota CH-R, olhando para a traseira.
Ou seja, por fora, o Juke continua irreverente e, na minha opinião, deixou de ser um carro de extremos (amor ou ódio) para ser um belo exercício de estilo. Eu gosto muito e acho que face ao anterior é uma belíssima evolução.
Os menos atentos podem pensar, ao olhar para o interior, que o Juke deu um passo atrás. E é verdade que olhando ao trabalho feito no exterior da nova geração do Juke, o interior é, realmente, convencional. Porém, não deixa de haver algumas originalidades: as saídas de ar da climatização e a personalização permitida em determinadas áreas. O desenho é menos futurista, mas é muito mais prático e tem muito mais qualidade que o anterior modelo. O sistema Nissan Connect volta a evoluir, o carro “fala” com o nosso smartphone e consoante o nível de equipamento, a dotação de equipamentos de segurança impressiona.
A configuração do interior, sim, é convencional com uma posição de condução elevada com amplo ajuste em todas as direções, um volante bem posicionado e de pequenas dimensões e uma alavanca da caixa de velocidades que me parece estar mais perto do condutor que anteriormente. A superfície vidrada é maior que no anterior modelo, logo a visibilidade é melhor, mesmo que o óculo traseiro continue pequeno. O capô mais curvado permite que seja possível avaliar melhor as manobras de estacionamento. Todos os comandos são novos e funcionam sem esforço, mas com decisão e uma sensação de qualidade que no anterior não existia.
O salto qualitativo é mais que evidente e pequenos detalhes mostram como a Nissan foi inteligente na evolução do Juke: não podendo seguir outra via no exterior, sabia que no interior poderia voltar a um registo mais comum e o comando dos modos de condução deixou de ser uma alegoria para estar resumido a um botão colocado na base da alavanca da caixa que tem três posições, Eco, Normal, Sport.
Outra melhoria está na traseira do Juke, já que com a majorada distância entre eixos, há agora muito mais espaço: o espaço para os joelhos no banco traseiro aumentou 58 mm e há mais 11 mm de espaço em altura. Como disse, há mais espaço na bagageira. São mais 20% face ao anterior modelo (422 contra 354 litros), mas sobretudo um melhor acesso: a largura máxima do acesso é de 1043 mm (mais 29 mm) e a mínima é de 1003 mm (mais 131 mm), com a altura ao solo do acesso a estar 131 mm mais baixa. Uma enorme evolução, também aqui, no que toca á habitabilidade e á mala.

E que tal o Juke na estrada?
A Nissan fala muito de agilidade e do carácter desportivo do Juke. Se a primeira ainda reconheço depois de mais de 300 quilómetros com as versões manual e automática, o segundo nem por isso. E de nada vale ligar o modo Sport, pois as diferenças são poucas. O carro consegue curvar com à vontade, não coloca dificuldades de maior, mas não tem essa aspiração e muito menos uma envolvência por aí além na condução. Há rivais que são mais envolventes e mais eficazes no que toca ao comportamento, mas o Juke não faz fraca figura neste aspeto.
No que toca ao conforto, o Juke surpreende pela positiva, porque a Nissan não quis seguir a via mais fácil e endurecer a suspensão para contrariar os normais movimentos de uma carroçaria alta e conferir um comportamento mais desportivo. E nem mesmo as jantes de 19 polegadas que lhe ficam tão bem, prejudicam muito o conforto. Já nas lombas e nas bandas sonoras, sente-se perfeitamente a chegada aos limitadores de curso dos amortecedores, com um barulho claro. Os pneus grandes geram algum ruído.
Enfim, gostei muito do comportamento e da forma como o Juke pisa o asfalto e também gostei do motor 1.0 DIG-T. Claro que é, também por aqui, que o Juke não consegue ter um carácter desportivo, pois são apenas 117 CV e o bloco triclindrico tem enorme anemia abaixo das 2000 rpm. A partir dai, a subida de rotação é rápida e o motor empurra com decisão o Juke para diante. E se até àquele patamar de rotação não se nota o habitual “prrrrreee” dos três cilindros, a partir dai o motor muda de som, mas sempre sem incomodar os ocupantes. Aliás, sendo inteiramente honesto, raramente se nota que estamos ao volante de um carro com motor de três cilindros.

Como disse acima, a performance do carro está longe de ser desportiva, mas é aquela que é possível com este motor que é mais económico que desportivo. Beneficia do carro ser levezinho (1182 kgs com caixa manual e 1207 kgs com caixa DCT) para não ter grandes dificuldades, mas com 200 Nm e 117 CV, mais é impossível.
O Juke com caixa manual é agradável de utilizar, fácil e suave, mas com algumas dificuldades de engrenamento, principalmente na grelha 4ª, 5ª, 6ª, sendo fácil sair de 5ª para 4ª quando se quer passar para a 6ª velocidade. Já a caixa de dupla embraiagem é suave e funciona de forma perfeita, apesar de algumas hesitações e algum desconforto quando no modo Sport. Nada de preocupante e que me leva a recomendar esta caixa face á unidade manual.
Veredicto
Sinceramente, tenho alguma dificuldade em recomendar um SUV ou um crossover face a um carro convencional, porque estes serão sempre mais eficazes em termos de consumos e de emissões, além do comportamento sempre melhor. Porém, o Juke, tenho de reconhecer, seduz-me pelo estilo muito agradável e pelo facto da Nissan ter corrigido quase todos os problemas da anterior geração. Os preços são muito agradáveis o equipamento completo, não é exemplar no refinamento e no comportamento, mas parece-me que a Nissan tem entre mãos um enorme sucesso.
Ficha técnica
Nissan Juke 1.0 DIG-T
Motor
Tipo: 3 cilindros, injeção direta e turbo com intercooler
Cilindrada (cm3): 999
Potência máxima (CV/rpm): 117/5250
Binário máximo (Nm/rpm): 200/1750 – 3750 (função overboost)
Transmissão: dianteira, caixa manual ou dupla embraiagem com 6 e 7 velocidades
Direção: Pinhão e cremalheira assistida eletricamente
Suspensão (ft/tr): McPherson/eixo torção
Travões (fr/tr): Discos
Prestações e consumos
Aceleração 0-100 km/h (s): 10,4 (11,1 DCT)
Velocidade máxima (km/h): 180
Consumos (l/100 km): 6,0 (6,1 DCT)
Emissões CO2 (gr/km): 135 (138 DCT)
Dimensões e pesos
Comprimento/Largura/Altura (mm): 4210/1800/1595
Distância entre eixos (mm): 2636
Peso (kg): 1182
Capacidade da bagageira (l): 422
Pneus (fr/tr): 225/45 R19
Ensaios: consulte os testes aos novos carros feitos pelos jornalistas do Auto+ (Clique AQUI)
0 comentários