OPINIÃO, mundo automóvel e sustentabilidade: a melhor solução é não renegar nenhuma
Andy Palmer, antigo CEO da Nissan e Aston Martin, escreveu um interessante ‘tweet’ que todos os que ele apelida de ‘haters’ dos veículos elétricos, do hidrogénio e dos combustíveis sintéticos, deviam ler.
É curto, não toma muito tempo e tem o poder de fazer muita gente pensar que se calhar é melhor acreditar que a melhor solução são… várias soluções.
Andy Palmer leu no jornal Guardian um artigo de Rowan Atkinson onde este atacava e defendia veículos elétricos. Palmer ficou aí a conhecer o “ódio do lobby dos veículos elétricos às formas alternativas de propulsão e vice-versa”. Recordando um pouco a história, Andy Palmer foi CEO da Nissan quando nasceu o LEAF.
Na altura, foi apelidado de o ‘Padrinho dos Carros Elétricos’.
Segundo Palmer: “Nenhuma solução é perfeita e todas as soluções têm efeitos secundários. Afinal de contas, cada tecnologia encontra-se numa fase diferente de maturidade. Quando comecei a desenvolver o Nissan LEAF, sem dúvida o primeiro veículo elétrico a massificar-se no mundo, a grande maioria dos comentários do público era negativa. Tendo isso em mente, lembremo-nos de que a ‘legislação verde’ está a tentar resolver o problema das emissões de CO2 e não das partículas; as mais críticas são agora o pó dos travões e dos pneus”.
Andy Palmer assume o que já quase toda a gente sabe, mas muito ainda tentam contrariar olhando só para o ‘lado’ que lhes convém: os veículos elétricos produzem CO2 no seu fabrico.
Andy Palmer recorda uma análise da Volvo, que concluiu que um Veículo Elétrico produz cerca de 70% mais CO2 na sua produção que um com motor de combustão equivalente.
Depois, relembra que a utilização de CO2 no funcionamento de um carro elétrico depende da fonte de eletricidade de carregamento, mas será sempre mais limpa do que no funcionamento de um ICE (motor de combustão). Resumindo isto: se olharmos para a vida toda de um carro, desde a sua conceção ao fim da vida, a pegada total de um carro elétrico será sempre inferior à de um carro de motor de combustão convencional.
E Andy Palmer relembra que existem alternativas, que são neste momento o que a União Europeia
interpreta de ‘carbono zero’. E as três alternativas principais são a Célula de combustível; Combustão de hidrogénio; Combustão de combustíveis sintéticos ou E-fuels.
Palmer assegura que todas elas têm vantagens e desvantagens, mas também confirma que todas representam uma forte melhoria face ao que temos hoje.
O hidrogénio é mais indicado para veículos pesados de mercadorias. O sistema permite aproveitar cerca de 80% de peças dos motores de combustão interna e as emissões não são dióxido de carbono, mas sim…água.
É o que sai do tubo de escape, água! Neste caso a grande vantagem em relação aos elétricos é a forte redução do CO2 no fabrico e quase não tem CO2 em funcionamento. Do lado negativo, o abastecimento é problemático e para já o custo do hidrogénio verde, existindo ainda uma pequena quantidade de NoX produzido (NoX é óxido de nitrogénio, é produzido pela má combustão nos cilindros, por alta pressão nos cilindros, e por uma mistura mal feita do combustível, daí que sejam mais comuns nos motores diesel).
Em segundo lugar, a combustão de combustível sintético – que está a evoluir e com a sua ligação à Fórmula 1 – daqui a algum tempo saberemos muito mais dela e das suas vantagens ou desvantagens – o combustível sintético retira CO2 da atmosfera, converte-o em gasolina e depois queima-o num processo de combustão – resultando numa utilização líquida zero de carbono. Aqui a desvantagem é o facto do processo de fabrico ainda não estar maduro e a sustentabilidade do processo de fabrico dos combustíveis. Neste caso há emissões de C02 no tubo de escape, mas compatíveis com a norma Euro7.
Resumindo, nenhuma solução é ótima, e a melhor conclusão é que todos são válidos, com todos se vai aprender, para o bem e para o mal e no final o ou os que ficarem, serão a solução mais madura, e que convence todos de fio a pavio. Até podem acabar por ficar todas, cada uma com as suas ‘nuances’…
O que Andy Palmer conclui é que não há forma da indústria, ao dia de hoje, produzir automóveis com emissões de carbono totalmente nulas, o que se pode fazer é reduzi-las muito.
É a mesma coisa que os impostos. Não podem ser reduzidos a zero, mas pode ser bem ‘afinados’ para que a relação custo/benefício seja a melhor que a indústria consiga para que todos mantenhamos a atual forma de vida. Sabe quantos litros de água são gastos para produzir um hambúrguer? Há estudos que indicam 2400 litros de água, outros 3.000 ou mais. Ficou surpreendido? É o mundo em que vivemos hoje em dia, é este o exemplo para mostrar o ponto a que se chegou.
Nem agora, nem num futuro previsível se resolve esta questão do CO2, mas o que se pode e está a fazer é encontrar formas de reduzir significativamente o consumo de CO2, e para isso o melhor é mesmo reconhecer que não há uma solução perfeita e o melhor é aperfeiçoá-las na medida do possível e continuar a competir para aprender e então sim, se for o caso, chegar a uma solução.
Provavelmente até há mais soluções que ainda não conhecemos. Ainda agora ouvimos falar de um carro ‘aspirador de CO2’, que ao mesmo tempo que gasta ‘aspira-o’. Tendo em conta como o mundo tem evoluído nas últimas décadas não me admira muito que continuem a aparecer soluções melhores…
FOTO Freepik
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