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Mazda MX-5:  35 anos de uma das mais belas histórias do automóvel

By on 17 Julho, 2024

O Mazda MX-5 faz 35 anos. Uma idade bonita para um carro que vai ganhando relevância a cada dia. O MX-5 é talvez um dos carros mais importantes em circulação neste momento. Pois lembra-nos que isto dos automóveis não tem de ser tão sério e aborrecido.

Vivemos num mundo cada vez mais frio, apesar do aquecimento global. Um mundo que a cada dia perde cor e diversidade, apesar de todos os dias se falar nisso. Onde o espartilho das obrigações e das preocupações vai apertando cada vez mais. Um mundo cada vez mais sério, mais complexo, menos divertido. E esta sensação vai sendo espelhada na indústria automóvel, com novos modelos, que espantam pelas capacidades dinâmicas e pela tecnologia, mas que, por algum motivo, têm falta de alma.

O automóvel, mais do que uma ferramenta, um meio de transporte, é um instrumento de liberdade. Com um automóvel, podemos ir para o trabalho, ou podemos ir numa aventura. Podemos ir para uma festa, ou para um funeral. A beleza do automóvel é que nos acompanha na maioria dos grandes momentos da nossa vida, sem darmos por isso. Com ele, fomos mais longe, exploramos, rimos, choramos… vivemos.

E os novos automóveis, que são sem dúvida melhores do que os seus antecessores, de alguma forma transformaram-se mais em meios de transporte e menos em instrumento de liberdade. No entanto, o MX-5 mantém a chama acesa e vai remando contra a forte maré, provando que ainda é possível haver alma e diversão ao volante, sem grandes complicações.

Uma filosofia que se mantém, 35 anos depois

Quantos carros conhecemos que mantém a filosofia e os mesmos objetivos desde a sua criação até aos dias de hoje? Muito poucos. Mas o MX-5 mantém-se fiel à ideia dos seus criadores, mesmo que os primeiros traços do carro tenham sido esboçados há quase 50 anos.  E o pai da ideia foi Bob Hall. 

Foi Hall, um jornalista americano, que teve um papel crucial na conceção do Mazda MX-5, apesar de não ser engenheiro. Em 1976, Hall foi questionado por Kenichi Yamamoto e Gai Arai, responsáveis de R&D da marca, sobre qual o carro que a Mazda deveria desenvolver.

A resposta foi um roadster acessível. Passaram-se cinco anos e Hall voltou a encontrar-se com os responsáveis da Mazda, quando foi contratado pela Mazda North America, onde voltou a sugerir a ideia de um roadster inspirado nos britânicos dos anos 60. Apenas em 1982 é que o projeto recebeu luz verde. Foi preciso esperar até 1989, para o MX-5 (NA)ser apresentado no Salão de Chicago. Foi aí que o mundo conheceu o carro que viria a tornar-se numa referência. 

No primeiro ano, a Mazda vendeu 36 mil unidades, e no segundo as vendas subiras para 76 mil. Em 1994, o primeiro upgrade passando a ter duas opções de motorização – um motor 1.8 (131 CV) e um motor 1,6 (90CV) para a Europa. A Segunda geração (NB) foi apresentada em  1998, já sem luzes pop up, mas com as mesmas dimensões, mesmos motores. No ano seguinte o motor 1.8 recebeu um upgrade que o levou para os 146 CV.

O sucesso foi crescendo e em 2000, o primeiro recorde, com 530 mil unidades vendidas, tornando-se no desportivo de dois lugares mais vendido do mundo, um recorde que se mantém até hoje.

A terceira geração (NC) foi apresentada em 2005, em Genebra, com partilha de muitos componentes com o RX 8. Melhor suspensão e mais dispositivos de segurança. O motor base passou a ser o 1,8 L (126 CV) e a versão mais desportiva tinha um motor 2 L (160 CV) com caixa de seis e diferencial autoblocante. Em 2006 recebeu o tejadilho retrátil com a abertura de 12 segundos e em 2007 novo recorde 800 mil unidades vendidas. A terceira geração durou 10 anos

A quarta geração (ND), introduzida em 2014, regressou um pouco mais às raízes do MX-5. A Mazda fugiu ao aumento do tamanho, focando se em ter um carro pequeno, leve, com menos de 1000kg e com melhor distribuição de peso. Foi implementado um novo motor 1,5 mais eficiente e o espaço interior foi melhorado. Em 2017 foi introduzida a versão RF – e o MX-5 chegou a um número redondo: 1 milhão de vendas.

Com 1.25 milhões de unidades vendidas em todo o mundo, o MX-5 é claramente o desportivo de dois lugares mais vendidos de sempre e a tendência do mercado diz-nos que esse recorde não será batido tão cedo.

O que nos traz o presente?

O Mazda MX-5 2024 não mudou muito e  mantém o premiado design Kodo. As novidades incluem a nova cor “Aero Grey Metallic” e o modelo Kazari com capota bege. O modelo RF possui um teto rígido retrátil automático, que abre ou fecha em 13 segundos. Internamente, o carro apresenta uma tela central maior de 8,8 polegadas com Android Auto™ e Apple CarPlay® sem fio, espelho retrovisor sem moldura e painéis de instrumentos redesenhados.

Os faróis LED avançados integram as luzes diurnas e as luzes traseiras revistas, agora também em LED. O novo MX-5 oferece rodas de liga leve de 17 polegadas e sete opções de cores. Está disponível em três níveis de acabamento: Prime-Line, Exclusive-Line e Homura. 

O Homura inclui travões Brembo, assentos Recaro e rodas forjadas BBS com o motor Skyactiv-G 2.0, além de outros recursos desportivos. A edição especial Kazari destaca-se por combinações de cores únicas e estofamento de couro Nappa perfurado.

O Mazda MX-5 2024 introduz o DSC-Track, um modo de Controlo Dinâmico de Estabilidade otimizado para circuitos, e um Diferencial autoblocante Assimétrico. O DSC-Track controla o excesso de derrapagem em situações perigosas, permitindo que o motorista mantenha o controle até o último momento. O diferencial autoblocante assimétrico melhora a estabilidade ao entrar em curvas, especialmente durante a desaceleração, resultando numa performance de curva mais suave e linear. 

Quanto aos motores, o Skyactiv-G 2.0 oferece 189 CV a 7.000 rpm e binário máximo de 205 Nm a 4.000 rpm, acelerando de 0 a 100 km/h em 6,5 segundos (6,8 segundos para o modelo RF). Este motor inclui o sistema de recuperação de energia de travagem i-Eloop e o sistema de paragem de marcha lenta i-stop.

A linha de motores também inclui o Skyactiv-G 1.5, que produz 130 CV a 7.000 rpm e binário máximo de 152 Nm a 4.500 rpm. Ambos os motores são acoplados a uma transmissão manual Skyactiv-MT de seis velocidades, exclusiva para o MX-5, e o modelo RF 2.0 Kazari está disponível também com transmissão automática.

Além destas novidades, o modelo de 2024 conta com sistemas de assistência ao condutor e segurança, como o Lane Departure Warning System (LDWS), Lane-keep Assist System (LAS), assistência de velocidade inteligente, faróis LED com ajuste automático e modos de luz variáveis. Modelos a partir do Exclusive-line possuem assistência de estacionamento (RCTA), aviso de saída de veículo, assistente de mudança de faixa (BSM) e sistema de redução de colisão secundária.

O Emergency Brake Assist (SBS) e o Emergency Brake Assist Plus (SBS-RC) oferecem travage, automática para evitar colisões. O Traffic Sign Recognition (TSR), Driver Attention Alert (DAA) e uma câmara traseira aprimorada também estão incluídos. O capô ativo levanta-se em caso de colisão com um pedestre para reduzir o risco de ferimentos graves, mantendo o design do carro.

Um dos carros mais importantes do mundo

Jeremy Clarkson disse uma vez o seguinte sobre o MX-5: “Se quiserem um carro desportivo, o MX-5 é perfeito. Nada na estrada poderá dar tanta diversão e só leva 5 estrelas porque não lhe posso dar 50”. Quem acompanha o trabalho do jornalista britânico sabe que é dado ao exagero e à hipérbole, mas no caso do MX-5… não podia estar mais acertado.

O conceito Jinba Ittai – ligação com o cavalo e o cavaleiro – pode parecer mais um truque de marketing para nos convencer dos pontos fortes de um carro. Mas este conceito no MX-5 faz todo o sentido e não é despropositado. Pudemos confirmar isso no evento da Mazda, em Zadar, na Croácia. Os 35 anos merecem ser festejados e a marca teve a amabilidade de nos convidar para um evento que consistia, simplesmente, em recordar os pontos fortes deste que é um ícone da marca. 

Com um cenário fantástico, em que o mar e as montanhas se unem numa simbiose única, percorremos todo o tipo de estradas, com retas intermináveis, com sucessões de curvas deliciosas. A cada quilómetro, o MX-5 fez cada vez mais sentido e a tal ligação homem / máquina foi crescendo.

Mas o melhor momento estava reservado para o fim do evento, num troço de estrada da E65, à beira do mar. Aquele pedaço de asfalto tornou-se num pequeno paraíso. A sucessão de curvas, umas mais abertas, outras mais fechadas, permitiram tirar qualquer réstia de dúvida sobre o MX-5. Talvez uma das melhores experiências que tivemos nos últimos tempos ao volante de um automóvel. 

Experimentamos o 2.0 e a força do motor mais musculado e cheio encantou-nos. Este, sim, é um verdadeiro desportivo e quem gostar de emoções mais fortes, vai adorar esta versão. Infelizmente vai ser descontinuada na Europa, devido às emissões (se quiser esta versão tem de ser muito rápido, pois a construção deste modelo para a Europa parou e só existem ainda os modelos que havia em stock). Mas o 1,5 revelou-se num carro muito divertido de conduzir. 

Receosos que fosse apenas uma paixão de verão, voltamos a ensaiar o MX-5, agora na versão RF em Portugal. Felizmente, temos paisagens tão ou mais belas que as de Zadar e voltamos a ter a mesma sensação. Um carro que pode não ser o mais prático do mundo, longe disso, mas que é um dos mais divertidos de conduzir.

Não houve um momento em que estivemos ao volante do MX-5 e não sentimos uma alegria por vezes difícil de definir. A simplicidade do carro, o feeling do volante, a caixa deliciosa, o motor que exige que o levemos a rotações altas, o som. Tudo faz sentido. E os consumos? Nas estradas de Zadar, a um ritmo que nos escusaremos de comentar, o motor devolveu um consumo de 6,3 L aos 100 km depois de ser fortemente castigado. A versão de 2 litros, consumiu apenas mais um litro por cada 100 km. 

O MX-5 é um carro importante porque nos lembra dos velhos tempos, em que o automóvel era simples, leve e divertido. Este Mazda é a prova viva que é ainda possível fazer carros que seja mais do que apenas meios de transporte. Carros que trazem cor à vida. Carros que estão longe da perfeição, mas que ainda assim nos trazem sensações únicas. 

Preços

A questão do acessível, nos dias de hoje é discutível. A única opção mecânica disponível em Portugal em 2024 é o Skyactiv-G de 1,5 litros. Os Preços de Venda ao Público iniciam-se nos 35.947 € (MX-5 ST) e nos 38.447 € (MX-5 RF) da versão Prime-line, evoluindo para os 41.947 € (ST) e 44.447 € (RF) do nível Exclusive-line.

A Edição Especial MX-5 Kazari é proposta por 42.747 € (ST) e 45.247 € (RF). Para os dias que correm não é propriamente um carro barato, mais ainda se olharmos de forma fria e pensarmos que dificilmente será um carro para usar todos os dias. É confortável o suficiente para uma utilização diária, é económico, fiável. Tem muitos pontos a favor, mas a falta de espaço para arrumação, a sua altura, e tudo o que faz dele o MX-5 tornaram a vida um pouco mais complicada. Se vale a pena o esforço? Muito! E se a Mazda quisesse apostar em modelos um pouco menos despidos de equipamento e, por conseguinte, mais baratos, ainda mais sentido faria. 

O MX-5 deve ser preservado. A Mazda deve ser elogiada por manter um conceito que para a grande maioria das marcas nem sequer é equacionado. Mais ainda, a marca pretende manter o conceito e o futuro NE está a ser desenvolvido. Claro que a eletrificação fará parte desse futuro, mas talvez a filosofia do MX-30 R-EV seja aplicada ao futuro roadster. O atual MX-5 é uma janela para um passado que não é assim tão longínquo, apesar de o parecer. A prova de que a simplicidade e a leveza é, na maior parte das vezes, a melhor solução.

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