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Markku Alén: “O controlo de tração eram os pés e o rabo!”

By on 30 Maio, 2017

Convidado especial da Abarth, o antigo piloto finlandês Markku Alén esteve no sábado, 27 de Maio, no Circuito Vasco Sameiro, em Braga, onde participou na quinta edição do “Abarth’s Day”, evento que reuniu naquele espaço algumas centenas de fãs e clientes da marca que ali foram conhecer as novidades da Abarth.

A marca italiana permitiu a condução em pista, com segurança mas esquecendo os naturais limites impostos pelo código da estrada. Markku Alén, ele próprio, levou muitos dos presentes “à pendura” para algumas voltas à pista do kartódromo, ao volante do “velhinho” Spider da Abarth, mas também do novo 124 Abarth, para verdadeiros “shots” de adrenalina.

Ao meio da tarde, numa pausa das muitas actividades que os responsáveis da Abarth prepararam para este dia, falámos com o antigo piloto finlandês sobre as suas recordações do Rali de Portugal, as comparações com a realidade de hoje, mas também outros temas como a condução autónoma que muitos dizem estar próxima e até a forma como chegou aos ralis desde criança. Com o sorriso sempre presente, este finlandês que se assumiu fã de Portugal começou por lembrar que nunca teve que desistir nas provas portuguesas em que participou: “Consegui cinco vitórias em Portugal e nunca desisti em nenhuma prova em que entrei. Devo ter participado em 12 a 15 provas e nunca desisti. Aliás, creio que é o único país em que nunca fui obrigado a abandonar em nenhuma prova e isso deixa-me boas recordações.”

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“A minha primeira vitória aconteceu em 1975, ao volante de um Spider. Hoje, a qualidade de um Abarth leva-nos a que a sua condução seja muito idêntica à entrada num escritório em que tudo está programado. Temos que fazer um bom trabalho mas tudo está mais facilitado”, acrescentou Markku Alén que entende ser hoje tudo “muito diferente”, nomeadamente nos apoios à condução: “No meu tempo não tínhamos o controlo de tracção ou o controlo de arranque. Hoje há todo um conjunto de soluções e ajudas tecnológicas que não existiam no meu tempo.”

“Quando eu corria, o controlo de tracção era permitido pelos nossos pés e o nosso rabo, o ‘culo’ no banco, isso era o nosso controlo de tracção, o ‘feeling’. Hoje não é preciso ter o mesmo ‘feelling’. Existe o controlo de tracção, existe o controlo de arranque, até mesmo a capacidade de permitir mais potência à frente ou à retaguarda, e tudo está ao alcance dos controlos eléctricos. No meu tempo, os componentes eléctricos eram as escovas pára-brisas e as luzes. Mesmo os “flaps” automáticos só surgiram mais tarde com o Lancia Delta. Hoje tudo é eléctrico, por vezes até demasiado eléctrico.”

“César Torres era um homem rijo”

Na memória deste antigo piloto finlandês continua bem presente o nosso Rali de Portugal, uma prova especial muito pela acção de um homem: César Torres.

“No Rali de Portugal, no meu tempo, saíamos de Cascais ao fim da tarde de quarta-feira e só regressávamos ao Estoril no domingo. Passávamos seis horas por dia em prova e cinco horas em ligações, enquanto que hoje tudo acontece em três horas. Existe uma grande diferença nos ralis de hoje que começam às oito horas da manhã e, às seis da tarde (por vezes nem isso), tudo está concluído. Depois, nos dias de hoje, se houver muito pó ou se surgir um problema tudo pára, enquanto que no meu tempo tínhamos que prosseguir e enfrentar os problemas. O César Torres era um homem rijo e nós sabíamos que o Rali de Portugal obrigava a algum endurance.”

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“Tínhamos que prosseguir e tudo corria bem porque o César era um homem positivo. Hoje, se alguma coisa corre mal avança-se logo para um plano B enquanto que naquele tempo raramente se cancelava o que quer que fosse, e menos ainda em Portugal. Hoje em dia o foco das preocupações é a segurança”, acrescentou Markku Alén frisando que naquele tempo a preocupação era poder andar de prego a fundo.

Em termos de segurança, aliás, “até o interior dos carros eram diferentes” como recordou o convidado da Abarth em Braga: “Por baixo do banco do navegador e por baixo do meu banco levávamos depósitos de combustíveis cada um com 50 litros, uma coisa impensável nos dias de hoje pela insegurança que isso significaria.”

“Condução autónoma ainda está distante!”

À margem dos ralis e do automobilismo desportivo quisemos recolher de Markku Alén a sua opinião relativamente ao que surge cada vez mais como o futuro no mundo automóvel: a condução autónoma. Para alguém que tem no volante o seu instrumento de trabalho, ser-lhe retirado o prazer de conduzir é algo que este finlandês tem alguma dificuldade em perceber e acredita mesmo que essa é “uma realidade algo distante”.

“Acho que a condução autónoma ainda está distante. Por razões de segurança isso pode vir a acontecer mas, pessoalmente, se me disserem para entrar num carro para seguir para um determinado local mas ninguém vai a conduzir eu não iria.”

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“Acredito que a condução autónoma seja o futuro, mas também penso que haverá ainda muito trabalho para fazer até chegarmos lá. Talvez daqui a mais 10 anos possamos ter uma ideia mais aproximada de como tudo poderá vir a acontecer mas para já ainda é cedo para termos uma ideia de como tudo acontecerá”, acrescentou Markku Alén, um finlandês que diz ter algum estilo italiano de condução mas sendo sempre e em primeira instância um finlandês, hoje bem mais tranquilo do que era quando conduzia em competição: “No meu tempo era mais nervoso, envolvia-me em tudo, estava em constante stress, hoje tudo é mais tranquilo.”

À pergunta sobre o que fazia Markku Alén quando tinha 16 ou 17 anos, e perante um comentário divertido lançado para a conversa — Corria atrás das raparigas!? — o nosso interlocutor lança uma gargalhada e assume: “Isso era muito importante sim. Por certo que essa era a actividade principal antes e depois dos carros (risos).”

“Eu vivia no campo, nos arredores de Helsínquia, e comecei a conduzir com seis ou sete anos. Aos 12 anos comecei a correr ao volante de um Mini Cooper com o Timo Salonen, numa altura em que passávamos se fosse preciso 24 horas a correr em lagos gelados. Logo que fiz 18 anos tirei a licença desportiva a uma terça-feira, fui participar logo no meu primeiro rali na quarta-feira e fiquei em segundo.”

Chegava ao final a conversa com os jornalistas porque era tempo de regressar à pista do kartódromo do circuito de Braga para mais algumas voltas nos limites ao volante do 124 Abarth, sempre com o mesmo sorriso mesmo quando “montado” em cima do acelerador para colocar o desportivo da Abarth a derrapar sobre o asfalto a fazer as delícias de todos os que puderam assistir à sua condução, com a mesma qualidade, afinal, que lhe permitiram os cinco triunfos no Rali de Portugal.

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