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Levei um Hyundai Kauai ás corridas no Algarve… e gostei! Do Kauai e das corridas!

By on 3 Dezembro, 2018

Este não é um ensaio normal, daqueles com pontuações, categorias separadas, não, nada disso. Para falar a verdade, este não é um ensaio, mas sim a história de um fim de semana de corridas na companhia de um Hyundai Kauai e de um i20 R5 que se sagrou Campeão de Portugal de Ralis. O primeiro levou-me até ao Algarve, palco para a decisão do título, o segundo levou-me na asa dos meus sonhos de miúdo quando queria ser piloto, ao vê-lo desgastado e cansado no final da prova, depois de ter voado mais alto.

Já passaram mais de 40 anos e, sim fiz corridas, mas apenas exceções a uma regra e não sou, de todo, um “pilotaço”. Por isso mesmo estava um pouco afastado das corridas nacionais e apenas envolvido com aquelas que profissionalmente me obrigam a estar atento, como a Fórmula 1 e a Nascar. Porque as corridas são uma droga e tenho constantes recaídas, projetos, vontade de fazer alguma coisa… mas sempre esbarro na impossibilidade de encontrar os recursos necessários e volto à ressaca. Afastar-me foi a saída possível.

Mas, para mal dos meus pecados, a Hyundai Portugal e os marotos do Sérgio Ribeiro, CEO da marca e o Paulo Ferreira, responsável pelas relações públicas, decidiram convidar o Autosport para assistir ao Rali do Algarve para, em caso de conquista, participar na festa.

Está bom de ver que para um viciado em corridas (então em ralis!!!) o convite era simplesmente irrecusável. É como dizer ao cego se quer ver! Ainda por cima, voltava a uma prova onde vi vários pilotos se sagrarem campeões. Pilotos como o Adruzilo Lopes, Pedro Matos Chaves, enfim histórias acumuladas durante anos e anos de profissão. Como disse, há algum tempo que não visitava a caravana dos ralis nacionais onde permanecem pessoas que muito respeito entre pilotos, técnicos, mecânicos, enfim, a família dos “maluquinhos das corridas”. Por isso aceitar o convite dirigido ao Autosport pela Hyundai Portugal, nem deu direito a ponderação. Sim!

Depois, caso o Armindo Araújo desse o título na temporada de estreia do Team Hyundai Portugal, iriamos fazer a festa. Opa! Corridas e festa!

Para facilitar a logística, foi-me disponibilizado este Hyudnai Kauai 1.6 T-GDI com tração integral. Torci o nariz a levar um carro a gasolina com um motor turbo com 177 CV e caixa automática para tão longe, comecei a fazer contas de cabeça, mas pronto… lá fui!

Um Kauai… a gasolina?!

Visitei os amigos do Entreposto para levantar o carro, instalei os poucos haveres para um fim de semana dentro da bagageira, ajustei a posição de condução e liguei o meu smartphone ao sistema de info entretenimento do Kauai. Onde faltava um sistema de navegação. Mas onde estava a ligação por “straming” que permitiu escutar a música guardada no telefone. Confesso que os primeiros quilómetros me fizeram entrar em pânico quando olhei para o computador de bordo e vi os consumos. Ahhhhhhh!!!

Felizmente que tudo ficou mais calmo e tranquilo e com o acumular dos quilómetros tudo voltou ao normal. A meio do caminho na chata autoestrada para o Algarve, fiz uma paragem para reabastecimento sólido e líquido. Não tinha ninguém á minha espera e quando veio a conta, BOLAS! paguei mais do que se fosse jantar ao Solar dos Presuntos!

Aliviado de duas mãos cheias de euros – alguém tem que colocar travão a este “roubo” autorizado nas áreas de serviço… não estamos em Saint Tropez – prossegui viagem até ao Algarve onde fiquei hospedado num hotel da cadeia Pestana. Um local muito agradável, frente à praia – mesmo que estivesse um tempo farrusco com alguma chuva e frio ainda deu para sentir a areia – embora o hotel em si esteja um bocadinho como aquele vinho antigo que ainda está longe de ser vinagre, mas já está a caminho de estar passado. Mas, verdade seja dita, foram duas noites muito bem dormidas.

Dizia então que cheguei à unidade hoteleira e arrumados os pertences, hora de ir ver a super especial… mas de autocarro. Pois é, o Kauai ficou paradinho à porta do hotel.

Hora para dizer que o SUV da Hyundai é um carro que aceita sem problemas uma viagem destas, mesmo que nesta versão mais desportiva a suspensão seja um pouco mais dura. Como disse mais acima, os primeiros quilómetros deixaram no ar que o consumo de combustível iria ser dramático e que o depósito dificilmente daria para chegar a Portimão, quanto mais voltar.

Nada disso! Com a velocidade estabilizada, o motor 1.6 litros sobrealimentado começou a beber cada vez menos e a meio da viagem já estava em perfeitamente razoáveis 7,1 l/100 km. Sim, eu sei que faça a um carro a gasóleo é muito. Mas que diabo! um 1.6 litros com 177 CV e caixa automática não pode alimentar-se por uma palhinha! E olhem que fora de auto estrada o panorama é melhor, pois cheguei aos 6,8 l/100 km. Nem vale a pena dizer mais nada. É ótimo!

Super especial com sabor algarvio

Sentado no autocarro a caminho de Portimão, dei por mim a pensar como os automóveis da Hyundai estão diferentes. Lembrei-me dos Accent – ainda cheguei a ir a Espanha para ver corridas da Copa espanhola Accent e cheguei a experimentar o carro que depois apareceu em Portugal para múltiplas competições… – e da visita às fábricas da Hyundai… na Coreia do Sul. Eram carros sem graça, com um estilo tristonho, qualidade de chapa e de materiais que deixava tanto, mas tanto a desejar. As mecânicas eram sólidas, mas insonsas. Ficava na retina de todos o preço e o equipamento oferecido de série.

Passados pouco mais de duas dezenas e meia de anos, a Hyundai está radicalmente diferente e a gama que hoje é comercializada em Portugal é tão boa ou melhor que a de muitos construtores europeus. Acorda!!!!!

Estava tão embrenhado nos meus pensamentos que nem dei pela chegada ao restaurante. Claro! Tínhamos de reabastecer antes da super especial e como alguns tinham já penalizado por no hotel e na ligação não foi possível acelerar, tínhamos pouco tempo para, literalmente, engolir o jantar e chegar a tempo de ver passar o Hyundai i20 R5 do Armindo Araújo.

Entre duas garfadas, beberricar uma água e enfardar um doce, passaram trinta minutos e, ala que se faz tarde, fomos para o largo da câmara com a voz do “speaker” a martelar os ouvidos – e a consciência já que misturava igual dose de voluntarismo e desconhecimento, onde os nomes dos pilotos estrangeiros eram mais amargos que limão selvagem… – á espera que chegassem os artistas.

Um traçado curto e lento, como seria de esperar, estava apinhado de gente e, de forma quase incompreensível, em zonas que não lembram ao diabo. Por acaso correu tudo bem e ninguém se despistou e tudo decorreu da melhor forma. Mas, sinceramente, pessoas acantonadas por frágeis grades contra uma parede numa zona em curva onde há um mini passeio a servir de separador central e onde na segunda volta á rotunda, os pilotos passavam, certamente, acima dos 60 km/h, houvesse um furo, uma quebra ou uma aselhice e lá tínhamos as carpideiras profissionais a falar mal da competição automóvel.

Espetáculo completo, hora de regressar ao repasto, pois tínhamos segunda ronda marcada para o mesmo troço, perdão, restaurante. Mas desta feita sem pressas… tínhamos muito tempo para a assistência. Meia de conversa, revisitar o péssimo momento vivido a meio do ano com o acidente do Carlos Vieira e do Jet Carvalho, no Rali Vidreiro e fecho do troço, perdão, do restaurante. Ala para o autocarro e regresso ao hotel para uma noite de repouso.

Peguei no tema de meditação no caminho de ida para o restaurante e fiz comparações entre o passado e o presente da Hyundai. Hoje a gama do construtor coreano está muito mais completa, com qualidade e até já faz carros de corrida que vencem… corridas! É que naquele fim de semana, a Hyundai poderia ser Campeão do Mundo de Ralis, vencer o WTCR e ganhar o Campeonato de Portugal de Ralis. Jugo que o Jão Pestana passou por mim e deixou-me anestesiado que só volto a recordar-me de alguma coisa quando cheguei ao hotel, tomei um banho e… deitei-me nos braços de Morfeu.

E, de repente, o título é nosso, perdão, deles!

Alvorada, banho, pequeno almoço, autocarro. Mais uma vez o meu Kauai ficou parado à porta do hotel, sossegadito à espera da viagem de volta. Mais um momento de reflexão. Pura e dura com os olhos fechados e, diria sem apostar, com algum som cacofónico e rude á mistura. Acordei, perdão, despertei da minha reflexão quando chegámos à primeira zona onde poderíamos assistir à passagem dos carros. Um curto passeio e ali estávamos numa zona rápida com um “pif paf”. Confesso que esconder o entusiasmo de estar ali e poder ouvir o “vroooaaaaa”, o “broopp, bropp”, “crshiiiiiii” dos travões, o “pow, pow” do ALS, enfim, tudo aquilo que nos faz os pelos do corpo eriçarem, não foi fácil. Ainda por cima alguns dos companheiros de viagem iam perguntando isto e aquilo sobre os ralis.

E foi na estrada que fiquei a saber que não iria ver passar o meu amigo algarvio, o Ricardo Teodósio. Andando como poucos, liderava a prova quando o motor do seu Skoda Fabia R5 decidiu entregar a alma ao criador deixando derramado no chão óleo e o título de 2018.

Claro que nas hostes da Hyundai foi a festa total. Não só Armindo Araújo alcançava o seu quinto título nacional, desempatando com Joaquim Santos e Carlos Bica, como dava ao Team Hyundai Portugal o seu primeiro título, na época de estreia. E para completar o “ramalhete”, José Pedro Fontes perdia muito tempo com um furo e o Hyundai i20 R5 que tão atrás tinha andado no primeiro dia, saltou para o primeiro lugar! Ahhhh!!! como o desporto automóvel é lindo!!!!

A partir daqui, nada mais importou, apenas a festa que a Hyundai preparou na chegada do último troço do Rali do Algarve, onde já lá estávamos depois de opiparamente ter almoçado, literalmente, na esquina do final do troço. Mas num restaurante estranho. Quer dizer… quando serviam a comida, uma das colaboradoras deixou duas travessas de comida perto uma da outra. Ato imediato: uma reprimenda da chefe de mesas que lhe disse, “não podem ficar tão juntas. Olha que o patrão não quer!” Mas… quem é que esta a pagar o almoço?! Excertos de um almoço no meio da serra algarvia.

Com “t-shirts” brancas a celebrarem o título – e aqui tenho de fazer um reparo, pois as “t-shirts” tinham o nome do Armindo Araújo e da Hyundai, mas o Luís Ramalho não estava lá… – toda a equipa fez uma “espera” ao Hyundai i20 R5, não sem antes dedicarem um forte aplauso a José Pedro Fontes e a Miguel Barbosa, num ato de faiplay que gostei de ver.

Fechados os taipais da festa, deitados os foguetes e feitas as fotos, era hora de recolher ao hotel antes de seguir para o jantar que abria a festa final do título alcançado no Algarve. As palavras habituais, os agradecimentos, os sustos com o vendaval que abraçou a Praia da Rocha e ia manando tudo pelos ares e a certeza que tinha sido um ano duro, mas compensador.

Fim de festa e regresso do Kauai à ação

Parabéns à Hyundai, ao Armindo Araújo, ao Luís Ramalho, à equipa RMC que assistiu o Hyundai i20 R5 e a toda a estrutura que contribuiu para a festa. Como já sou idoso, não segui para a festa e recolhi, uma vez mais ao hotel, não sem mais um episódio rocambolesco: o condutor do autocarro armou uma caldeirada porque não estava para andar para trás e para diante porque não tinha jantado e tinha estado mais de uma hora à espera dos convidados. Ora, não chega uma hora e meia para jantar? Se calhar sou eu que estou a ficar velho…

Domingo de manhã acordei de madrugada, tomei um valente pequeno almoço e reencontrei o “meu” Kauai. Arrumei a tralha e fiz-me á estrada, não sem antes passar por dois locais que me dizem muito e que não interessa, agora, explicar até porque a prosa já vai longa.

Aviei os quase 290 quilómetros até casa de uma vez só. E se no início fiquei sobressaltado com os consumos, afinal ainda deu para voltar para casa e só á chegada á Ponte Vasco da Gama, o Kauai suplicou por gasolina. Já não aguentava mais e lá lhe dei uma “sandes” de 20 euros de gasolina sem chumbo de 95 octanas. Vinte euros que, nos dias que correrem, dão para colocar no depósito umas gotas tipo limão espremido. Lá dizia o meu querido e amado pai “anda meio mundo a enganar o outro meio…” Tinhas razão papá!

O conforto do Kauai permitiu-me chegar fresco a casa  onde quase 72 horas de ausência me tinha deixado uma lágrima no canto do olho de saudades da minha filhota. Atirado, literalmente, ao chão por ela, fui mimoseado com beijinhos e abraços.

Assente a poeira das saudades da minha filha e da minha adorada esposa, sentei-me a pensar. Bolas, que bom foi regressar aos ralis! Aquele arrepio na espinha, o cheiro a gasolina, à borracha morta dos pneus, os detalhes da pilotagem dos mais rápidos e dos mais lentos. Hummmmm foi muito bom. Até me deu vontade de reativar o meu projeto para os Ralis de Regularidade Histórica. Querem que lhes conte o que é? Querem? Está bem, eu não conto que devem estar mortinhos de ler o final, já que chegaram até aqui.

O final não é feliz… tive de devolver o Hyundai Kauai 1.6 T-GDI 4×4 (maroto, ainda o retive até terça feira…) quando já estava a ficar afeiçoado a ele. E ele a mim, tenho a certeza, mesmo que carregar comigo não seja fácil. E, depois, fiquei a pensar com os meus fechos (não tem de ser sempre com os botões!): não devia ter ido… não devia ter ido! Agora fica este gostinho de quero mais… Mas agora, talvez, só para o ano. Mas vamos lá a ver se a Hyundai me empresta outra vez o Kauai… ou quem sabe o i20 R5? Hein? Não? ‘Tá bem…

José Manuel Costa

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