Lembra-se de André Citroën: Visionário completo
André Citroën nunca chegou a ver aquele que foi o primeiro grande emblema da marca que criou, na primeira década do século passado. A sua morte, com um cancro no estômago, em 1935, aconteceu pouco menos de dois anos antes dos seu sucessor à frente da fábrica, ter decidido criar o automóvel que, para a História, ficou conhecido como 2 CV. Mas nem por isso este francês de origem judaica, filho de um joalheiro e de uma polaca, parisiense de gema, deixou de encontrar o seu lugar na galeria dos grandes homens que mudaram o Mundo.
André Gustave ficou órfão aos seis anos e acabou por ser criado pela mãe, que rapidamente tomou também em mãos a continuação do negócio de diamantes e jóias finas, que o marido Lévie lhe tinha deixado. Por isso, o jovem André teve uma vida algo desafogada e, a 1 de Outubro de 1885, com apenas sete anos, tomou a primeira grande decisão da sua vida: nesse dia, entrou para o 9º C no liceu Condorcet e, no ato da matrícula, decidiu adicionar um trema ao “e” do seu apelido.
Inteligente e audacioso, teve em Jules Verne, escritor que descobriu aos dez anos e que devorou com ansiedade e curiosidade, um dos seus grandes heróis – e, por que não dizê-lo, inspiradores. André Citroën teve também a sorte de crescer numa das mais fascinantes épocas da humanidade, quando a ciência se tornou uma maravilha de descobertas constantes e a evolução era impressionante. E, quando a Torre Eiffel foi inaugurada, olhou para
ela e decidiu que iria ser engenheiro. Impaciente por natureza, investiu tudo o que tinha naquilo que, numa viagem à Polónia, o deixou impressionado – o processo de corte das engrenagens em forma de chevron.
Ciente do futuro desta descoberta, se aplicada no aço, comprou a patente. Em 1906, entrou para a fábrica Mors e, em dez anos, duplicou a produção de automóveis, graças à reorganização da empresa. A Citroën nasceu
em 1912, como sociedade anónima de engrenagens.
Na Primeira Grande Guerra, a Citroën associa-se ao esforço de guerra e, quando esta terminou, a fábrica de André Citroën tinha já produzido mais de 24 milhões de obuses. Visionário completo, Citroën pressentiu a importância que o automóvel iria ter no futuro e na vida das pessoas. Admirador da revolução industrial americana, visitou as fábricas da Ford e, depois do conflito ter terminado, reconverteu a sua fábrica para a produção
de automóveis, tornando-se, na Europa, o primeiro a produzir em grande série, por forma a reduzir o preço final. Mas não produzia apenas os carros: sabia que, ao vendê-los, vendia também um serviço de assistência, manutenção, reparação e… financiamento.
Foi, portanto, pioneiro neste tipo de ofertas, hoje tão em voga. Porém, mais que isso, André Citroën criou a primeira rede de concessionários, o primeiro serviço de prevenção de acidentes rodoviários, os primeiros semáforos, o primeiro catálogo de venda de peças separadas, a primeira sociedade europeia de crédito ao consumo…
Humanista profundo, quase todos os dias visitava as oficinas e convivia com os seus funcionários, não hesitando mesmo em ajudar fisicamente se necessário. A sua morte prematura deixou um vazio que, na realidade, foi colmatado com os espantosos produtos que deixou como herança.
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