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História viva do Automóvel, e do ACP: 1º Raid Figueira da Foz-Lisboa em 1902

By on 15 Abril, 2023

O Figueira da Foz – Lisboa podia ser a história dos gloriosos loucos pela memória do automóvel. Mas é bem mais do que isso, pois nele se reuniram 67 concorrentes, com os seus veículos com data de fabrico até 1929, que se apresentaram na Figueira dispostos a responder ao desafio de um percurso de quase 300 quilómetros num traçado que se procurou aproximar o mais possível do efetuado em 27 de Outubro de 1902 e que o italiano Bordino, ao volante do Fiat de S.A. Real o príncipe D. Afonso venceu no tempo de 7 horas, 23 minutos e 23,2 segundos. Esta é uma manifestação da história do automóvel no nosso país e da História do ACP, que hoje completa 120 anos.

São dois quadros vivos que refletem um pouco tudo quanto o ACP, ao longo de praticamente 100 anos tem feito pelo automobilismo e pelos automobilistas em Portugal. Com o número de inscritos limitado pela organização, a cargo do ACP Sport, ACP Clássicos e do Clube Português de Automóveis Antigos, os participantes iniciaram as hostilidades com o 1/2 km de arranque, disputado na marginal da Figueira, uma prova que fez tradição ao tempo, e onde os espectadores puderam apreciar mais de perto a capacidade dos veículos, e perceber de que forma estes ainda são capazes de responder às exigências do cronómetro.

Mas foi no sábado e bem cedo, que a Grande Corrida se apresentou aos muitos milhares que a quiseram acompanhar. E devemos desde já sublinhar que ao longo de todo o percurso foi muito significativo o apoio prestado aos concorrentes, aplaudidos sobretudo nos locais onde se efectuaram os controlos de passagem, que obrigavam a curtas paragens. Com passagem por Montemor-o-Velho, Coimbra, Leiria e Batalha, a caravana fez pausa para almoço no Mosteiro de Alcobaça.

Logo de seguida voltou a fazer-se à estrada para atravessar a zona do Oeste, tendo-se detido no Cadaval onde lhe estava preparada uma recepção na Adega Cooperativa local e diversos carros clássicos se posicionaram para homenagear os concorrentes. Do Cadaval a Lisboa, com chegada ao Campo Grande, as diferenças de andamento foram fazendo o natural escalonamento dos participantes, embora esta não fosse uma prova onde contasse quem chegava em primeiro, mas antes quem respeitava todos os controlos de passagem em tempo pré-determinado.

Do Campo Grande até ao Terreiro do Paço toda a caravana já reunida, atravessou a capital, até atingir a Praça do Comércio onde os carros ficaram em parque, para satisfação dos inúmeros populares que acorreram a acompanhar este verdadeira parada de modelos históricos, um museu vivo em circulação.

Do Darracq histórico aos Pink Floyd. Este foi o primeiro carro a ser registado em Coimbra, pelo médico Armando Gonçalves, igualmente titular da primeira Carta de Condução emitida na região, referiu Tiago Patrício Gouveia que teve a incumbência de conduzir o Darracq com o número 1, o mais antigo veículo em prova, pois data de 1902. Actualmente pertença do Museu do Caramulo, o Darracq foi o automóvel que sofreu o primeiro acidente de viação em Portugal, em Lisboa, frente a um Benz. Esta foi a terceira vez que participou no Figueira da Foz-Lisboa.

O concorrente nº 21, Luís Nunes dos Santos ao volante de um Mercedes-Benz 28/95 à chegada ao Campo Grande comentou a história do seu belo automóvel. Este carro foi comprado no Salão de Paris, vindo para Portugal de barco. No nosso país entrou em competições e venceu o Km de Arranque da Av. da Liberdade, em 1922, com cerca de 42 segundos e o Km Lançado da Av. da Boavista. Ainda atinge os 140 km/hora e, como tem um motor de avião, de 7 litros, com 95 cv reais, consome cerca de 25 litros aos 100 km. Como extras tem um velocímetro com um registador de papel que marca as médias e velocidade máxima, bem como um manómetro de combustível instalado no depósito de 100 litros. Outro modelo com um atractivo especial era o de José Ruiz Thiery, um dos concorrentes convidados pela organização, que alinhou no Aston Martin de 1930, igual ao que participou nas 24 Horas de Le Mans, tendo terminado em 11º lugar. A curiosidade deste automóvel reside no facto de ter sido pertença do baterista dos Pink Floyd.

O seu atual proprietário tem participado em diversas corridas em Inglaterra e Espanha. António Maria Rodrigues, ao volante do Ford Sedan com o nº70, foi o primeiro a chegar ao Campo Grande. Esta foi a sua 20ª participação na prova, daí ter sido aceite a sua inscrição, a título excepcional, com um modelo de 1935. Estou muito satisfeito, porque apesar de alguns problemas na falange do escape conseguiu ser o primeiro no Campo Grande, disse-nos. Proprietário de outros modelos de colecção, refere que para obter peças para o seu carro tem de recorrer a uma empresa sediada em Oklaoma City (EUA), mas que os impostos que paga pela importação das mesmas são de tal forma pesados que duplicam o valor da sua aquisição.

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