Ford Anglia: da vida ao ecrã
Há modelos que têm um percurso pacato mas que ganham uma nova vida devido a alguns acontecimentos ou situações em específico. Um desses casos é precisamente o Ford Anglia. O modelo foi uma aposta da marca para o mercado europeu e teve uma longevidade nas linhas de produção de 28 anos, entre 1939 e 1967, sendo produzido em Inglaterra.
Mais recentemente, em 2002, conheceu talvez o maior protagonismo da era moderna, pelo menos, do grande ecrã, quando foi utilizado no segundo filme da saga Harry Potter, Harry Potter e a Câmara dos Segredos, para levar Ron Weasley e Harry até Hogwarts. As peripécias por que o Anglia passa são bem visíveis e o veículo encaixa na perfeição no contexto cénico da adaptação da obra à sétima arte.
No entanto, “por detrás das cenas” há alguns detalhes curiosos e bem menos conhecidos. O modelo que surge no filme é autêntico, um Ford Anglia 105E de 1962 com o número de chassis 7990 TD, e foi construído na fábrica da marca no Reino Unido. Durante a produção, John Richardson, responsável pelos efeitos especiais do filme, retirou-lhe o motor e mais alguns elementos para o tornar mais leve, introduzindo-o numa grua móvel para o poderem facilmente fazer rodar ou girar durante as filmagens. Depois disto, colocaram a grua na par detrás de uma pick up para o moverem e trabalharem as cenas.
No total foram utilizados 16 Ford Anglia, cada um com adaptações específicas: alguns foram cortados ao meio para facilitar as filmagens no seu interior; outros foram equipados com motores mais potentes para as cenas a velocidades mais elevados; outros ainda foram sendo destruídos por fases para se obter a cena em que o modelo bate na árvore (ndr.: denominada Salgueiro Zurzidor no filme) à chegada a Hogwarts.
Porém, não é só de cinema que é feita a história deste modelo. Aqui deixamos por isso uma pequena resenha do seu percurso:
Tendo inicialmente por base o 7Y, a primeira linhagem do Anglia ficou internamente conhecida por E04AO. O carro era marcado pela simplicidade: design alusivo aos anos 30; duas portas; quatro lugares; mecânica simples e um motor de 10 cv.
No final da década de 40 tinham sido produzidas 55.807 unidades do ‘interno’ E04A que deu lugar ao E494A, que foi produzido como Ford Popular. Em 1953 a Ford refrescou as linhas do Anglia, sob o ‘nome de código’ 100E.
O mercado passava assim a contar com um Anglia de três volumes de imagem moderna que, apesar das mexidas, mantinha a sua genética simplista e o competitivo baixo preço de mercado. Este modelo equipava um motor de válvulas laterais, acoplado a uma caixa de três velocidades. Uma característica curiosa é que ostentava um limpa pára-brisas operado a vácuo, que era conhecido por parar nas inclinações.
Porém, foi em 1959 que aquele que é o Anglia mais conhecido de todos surgiu, o 105E. A versão padrão ostentava um vidro traseiro com inclinação ao contrário do habitual e sob o capot apresentava um motor dianteiro longitudinal, de quatro cilindros e refrigerado a água. Este tinha 997 cc e uma potência que já chegava aos 37,5 cv às 4.800 rpm. A velocidade máxima era de 120 km/h e o registos dos 0 aos 100 km/h de 28 segundos.
Um dos marcos do percurso do Ford Anglia remonta a 1961, quando assinou o registo de 16.000 km ininterruptos, realizados durante sete dias e a uma média de cerca de 95 km/h, ao conhecido traçado de Goodwood.
André Duarte
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