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Faz sentido uma fusão entre a Renault e a FCA?

By on 28 Maio, 2019

Os sucessivos obstáculos que a Renault tem encontrado para concretizar a fusão com a Nissan, particularmente depois da detenção de Carlos Ghosn, o “cérebro” dessa operação, podem ser coisa do passado se avançar a fusão entre o Grupo Renault e a Fiat Chrysler Automobiles (FCA).

A Aliança Renault Nissan Mitsubishi continua colada com cuspo e ameaça desmoronar-se a todo o momento, pelo que a oferta de fusão da FCA pode ser uma espécie de tábua de salvação da Renault.

Após o afastamento de Carlos Ghosn, ainda hoje envolto numa nuvem opaca que não deixa perceber onde começa a urdidura e termina o crime, a Nissan tem colocado sucessivos entraves á ideia original de se fundir com a Renault, alegando os japoneses que a posição de liderança da casa francesa é injusta e que deveriam ter partes iguais. Tudo porque uma fação da administração da Nissan está preocupada com a intervenção do governo francês (acionista da Renault) na gestão de uma empresa japonesa.

Desde o afastamento de Ghosn que Jean Dominique Senard, presidente da Renault e Thierry Bollore, CEO do grupo Renault, tem andado numa roda viva entre Paris e Tóquio para encontrar uma plataforma de entendimento que seja aceite por Hiroto Saikawa, o CEO da Nissan e pelo governo japonês. O problema é que Saikawa não quer saber de fusões, continua a entender que as duas partes deveriam ter um peso semelhante e por isso, Senard e Bollore trazem, de cada viagem, uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma. 

E a verdade é que apesar de muito pressionado pelos galopantes prejuízos e pelas dificuldades que a Nissan enfrenta desde a saída de Ghosn, Saikawa continua com o apoio do conselho de administração da casa japonesa. O que eles não contavam era que a FCA apresentasse esta solução que pode salvar a Renault e acabar com a Nissan rapidamente.

Os laços de ligação entre a Renault e a Nissan são enormes com forte ligação em termos de plataformas, tecnologias e muito mais. Aliás, só juntos é que ambos podem dar à Aliança a capacidade financeira para fazer a transição para tecnologias mais onerosas, como a eletrificação, condução autónoma e serviços de mobilidade. A parceria entre Renault e Nissan significa cerca de 5 mil milhões de euros de poupanças.

Ora, se a Renault deixar cair a Aliança e forjar a fusão com a FCA, ganha mais musculo, entra no mercado norte americano, cria o terceiro grupo mundial e as poupanças podem estar acima dos 7 mil milhões de euros. E, ao mesmo tempo, descapitaliza a Nissan e deixa um vazio tecnológico que deixaria a marca japonesa á mercê de tubarões como a General Motors, Volkswagen ou até empresas como a Uber ou a Tesla. 

Por outro lado, a Renault acarinha esta proposta da FCA, pois os resultados da Nissan começam a afetar os resultados da marca francesa. Os 43% de capital que a Renault detém na Nissan, render-lhe-iam centenas de milhões de euros em dividendos e outros pagamentos, mas os recentes resultados da Nissan levaram a casa francesa a afirmar que a marca japonesa teve um contributo negativo para o seu lucro no primeiro trimestre de 56 milhões de euros. E já se sabe que o previsto corte de 30% nos dividendos da Nissan vai custar à Renault qualquer coisa como 130 milhões de euros!

Ou seja, o “casamento” com a FCA é muito mais interessante que manter uma relação forçada com a Nissan. E no comunicado que anuncia esta proposta de fusão da Fa com a Renault, a FCA lembra que se a Nissan quiser participar, pode fazê-lo, como quem diz “pensem bem que sem a Renault pode ser o fim da linha.”

O divórcio com a Nissan não terá custos demasiado elevados e até culturalmente, a fusão com a FCA seria mais natural e, finalmente, a proposta 50/50 acabaria com os problemas que têm minado a relação entre Nissan e Renault.

A visão de Carlos Ghosn não era bem esta, mas se a fusão entre a Renault e a FCA for por diante, a visão do gestor brasileiro acabará por se concretizar, por caminhos diferentes. A relação forçada com a Nissan poderá acabar em divórcio amargo para os japoneses com os franceses a caírem nos braços dos italianos. A não ser que esta ligação com a FCA faça a Nissan mudar de planos e se juntar à festa. Ai, o grupo que nascesse destes casamentos seria um verdadeiro colosso. Eficaz ou vencedor, isso já são contas de outro rosário…

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