F1 determinante na decisão da Comissão Europeia quanto aos ‘e-fuels’
A Comissão Europeia reverteu a sua decisão de proibir os automóveis animados por motores de combustão interna em 2025, o que é do conhecimento público, mas talvez o que não seja de todos é que a Fórmula 1 foi instrumental para essa mudança de planos.
O mundo automóvel está numa encruzilhada da sua existência devido às questões climatéricas, uma vez que os carros são vistos como um dos grandes poluidores que está a levar a desequilíbrios na sustentabilidade do nosso planeta.
Na verdade, os automóveis são um alvo fácil, uma vez que têm um escape a lançar gases para a atmosfera, mas não são a atividade humana que mais contribui para os problemas ambientais pelos quais passamos e têm tendência a agravar-se.
Essa é a criação de bovinos para a alimentação, segundos um estudo das Nações Unidas, mas claro que é muito mais fácil para os políticos apontar o dedo aos carros do que fazer entender os seus eleitores de que, para salvar o planeta, é necessário, que alterem os seus hábitos alimentares e deixarem de comer tantos bifes, como até agora…
Logo a solução mais fácil seria deixar de lado os ‘pré-históricos’ motores de combustão interna para abraçar os motores eléctricos, livres de gases de escape, muito embora grande parte da energia eléctrica produzida seja através de combustíveis fósseis – 34% e 25% através de centrais nucleares – que elevam à atmosfera os tais gases que, quando produzidos por carros, são tão nocivos.
Este era o caminho único imposto pela Comissão Europeia, que obriga a um investimento massivo na construção de uma infraestrutura que presentemente não existe, com óbvios custos para o meio ambiente, até que alguns países, liderados pela Alemanha e pela Itália, com a ajuda da Fórmula 1, mostraram que outra estrada poderia ser seguida, sem prejuízo do já escolhido, que ajudaria a uma redução verdadeira e significativa da emissão de gases para atmosfera pela mobilidade humana – os combustíveis sintéticos e orgânicos de segunda geração.
Estes tipos de combustíveis são obtidos por métodos completamente limpos, sem acrescentar mais gases à atmosfera, sendo igualmente a sua utilização, ou seja a sua queima no motor, isenta de mais substâncias que contribuam para o desequilíbrio ambiental que se vive presentemente.
Estes combustíveis estão ainda numa fase muito inicial da sua vida, prometendo dar ainda um grande salto de desenvolvimento, tanto ao nível da sua eficácia, como ao nível dos seus custos, uma vez que, sem estar numa fase industrial de escala, o seu preço é ainda muito elevado – cifrando-se nos cinco euros por litro, crendo-se que possa facilmente chegar a preços inferiores aos dois euros por litro.
Mas é aqui que a Fórmula 1 poderá dar o seu contributo decisivo para que esta tecnologia alcance a sua maioridade o quanto antes.
A partir de 2026 a categoria máxima do desporto automóvel vai introduzir um regulamento para as suas unidades de potência que obriga a que metade da potência debitada seja gerada electricamente e a restante através do tradicional motor de combustão interna que será alimentado precisamente por combustíveis de sintéticos ou biológicos de segunda geração.
Como se sabe, a competição leva a que novas soluções sejam testadas, acelerando o desenvolvimento, o que acaba por beneficiar os carros de estrada a médio prazo.
Para já, são quatro as petrolíferas, que veem nesta solução a sua possibilidade se manterem relevantes, que estão na Fórmula 1 a conceber produtos para unidades de potência, o que aumentará para 2026 com a chegada da Audi e do seu parceiro na área.
BP, Exxon, Petronas e Shell estarão todas elas em pista para criar as melhores soluções de gasolina para as suas associadas com intuito de poder apresentar a mais elevada performance em pista possível, ainda que o nível energético dos combustíveis seja limitado a 3.000 megajoules por hora, para contenção de custos.
Foi com base no seu regulamento técnico para as unidades de potência de 2026 que a Fórmula 1 apresentou um estudo junto da Comissão Europeia para defender um caminho que não fosse apenas o do carro eléctrico, e colocar em cima da mesa a estrada que a própria trilhou para o seu futuro, prometendo ser um catalisador desta tecnologia.
Optar pelos carros eléctricos como a única solução para o futuro, seria a Comissão Europeia alhear-se da realidade que aponta para que em 2030, dos 1,4 mil milhões de automóveis a circular, apenas 8% serão carros eléctricos, sendo o impacto destes quase irrelevante.
Se todos estes carros forem alimentados por combustíveis sintéticos, o impacto no meio ambiente será muito mais intenso, que uma transformação gradual e lenta do parque automóvel, que levará anos a que todos sejam movidos a energia eléctrica – a esperança média de vida de um automóvel na Europa é de mais de 15 anos, um número que é ainda mais elevado noutros pontos do globo.
Tendo tudo isto em conta, a Fórmula 1 foi determinante para que a Comissão Europeia tenha aberto a porta aos combustíveis sintéticos e biológicos de segunda geração, tendo agora o peso de mostrar perante um palco global que será instrumental no desenvolvimento desta tecnologia.
Por Jorge Girão
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