Estará o Ford Capri de regresso?
Chegou a falar-se de um SUV eléctrico, mas isso são apenas rumores, pois o nome Ford Capri deverá regressar numa plataforma MEB EV, da VW, igual aos modelos da família I.D., e que tem uma arquitectura que elimina todo o lastro da ‘era fóssil’, uma vez que foi concebida para carros eléctricos e que leva a mudanças fundamentais no design da carroçaria, no design do interior, na embalagem e nas características do grupo motopropulsor.
Após a apresentação do novo Ford Explorer SUV, surgiu a ideia de que o seu ‘gémeo’, que deverá ser revelado no início do próximo ano, poderá chamar-se Capri, o famoso coupé desportivo de duas portas que a Ford vendeu em grande número em toda a Europa entre 1968 e 1986 e do qual recordamos a história nas linhas que se seguem. Vamos ver se regressa…e como.
Ford Capri ou o músculo europeu
O Ford Capri marcou uma era na Europa enquanto interpretação dos “muscle-cars” americanos. Nas estradas ou nas corridas de Turismos, as três gerações do Capri conquistaram um carisma especial entre os adeptos europeus.
A dicotomia Europa-Estados Unidos trouxe benefícios históricos a ambas as partes. Se foram os colonos europeus que fizeram da América aquilo que ela é hoje, algumas ideias americanas também fundaram o desenvolvimento técnico e económico da Europa.
Na indústria automóvel, o Ford Capri é um desses exemplos. Na segunda metade da década de 1960, a Ford inglesa decidiu criar um modelo que reproduzisse o estrondoso êxito que o Mustang tinha obtido em solo americano. O objectivo era criar um coupé “fastback”, de linhas simples, atraentes e que estivesse ao alcance de um espectro alargado de compradores.
Em 1966 a Ford deu o aval ao início do desenvolvimento do projeto com um investimento de 20 milhões de libras. Foi-lhe dado o nome de código “Colt” (que, tal como Mustang, se refere a um cavalo) mas a designação já estava registada pela Mitsubishi e antes do lançamento oficial (1969) a Ford escolheu o nome Capri, tal como a ilha ao largo de Itália. A Ford já tinha usado o termo Capri num dos seus modelos, o Cônsul, mas foi com o coupé desportivo que o nome atingiu repercussão entre os adeptos.
Dupla personalidade
Curiosamente, o primeiro Capri tinha duas gamas de motorizações diferentes, consoante o país onde era fabricado. O modelo britânico usava o bloco Kent (do Escort Mk1), de quatro cilindros em linha, com 1.3 e 1.6 litros (do Cortina), enquanto a versão alemã utilizava a rara configuração V4, com cilindradas de 1.3, 1.5 ou 1.7 litros. A tracção traseira e as versões mais potentes tornaram o Capri apetecível para os adeptos da condução desportiva. A evolução dos motores tornou o Capri RS 2600 alemão um modelo emblemático. O RS 2600 usava uma versão melhorada do V6 Cologne, com injecção Kugelfischer e 150 cavalos de potência. Foi a versão-base do carro de Grupo 2 no Europeu de Turismos (ler em separado).
Em 1973, no “face-lift” do Capri Mk1 (que entre nós ficou conhecido como ‘Caprissimo’), foram introduzidos os conhecidos motores “Pinto”, de árvore de cames à cabeça, para os modelos 1600, 1600GT, 2000GT e 3000GT. Em Agosto desse ano atingiu-se a marca de um milhão de Capri produzidos. Contudo, a Crise do Petróleo obrigou a Ford a conceber um carro mais adaptado a uma utilização quotidiana.
Em Fevereiro de 1974 é apresentado o Capri Mk2, de linhas mais suaves mas claramente identificadas com a primeira geração. O carro passava a ser um “hatchback”, com uma terceira porta traseira (mala) para facilitar a entrada de objetos volumosos. Mantinham-se as motorizações anteriores, algo que só mudou com o Mk3, lançado em 1978. A partir daí, o 1.6 passava a ser o motor das versões mais básicas que, no fundo, suportavam as vendas da gama Capri. Mas o desempenho comercial do carro já tinha entrado numa espiral descendente. O 2.8 Injection (160 cv), apresentado em 1981, foi uma lufada nas vendas e manteve o Capri em produção mais dois ou três anos do que o planeado pela Ford.
A partir de Novembro de 1984, o Capri passou a ser vendido apenas no Reino Unido, sendo fabricadas somente versões com o volante à direita. A 19 de Dezembro de 1986, o último dos Ford Capri saiu da linha de montagem. Era a unidade nº 1.886.647.
Cavalos de corrida
Nos anos 70 o departamento de competição da Ford era muito activo. Como o Escort, cuja primeira geração surgiu em 1968, já tinha sucesso nos ralis, a Ford quis aperfeiçoar o Capri para as pistas de asfalto. O objectivo eram os campeonatos de Turismos espalhados pela Europa, que eram uma óptima fonte de publicidade devido ao elevado número de espectadores que iam aos autódromos.
O Capri RS2600, de Grupo 2, ganhou o Campeonato Europeu de Turismos em 1971 e 72 com os alemães Dieter Glemser e Jochen Mass. Mas como no ano seguinte a BMW venceu a competição com o 3.0 CSL “Batmobile”, a Ford ripostou com o monstruoso Capri RS3100. A guerra “aerodinâmica” com a BMW levou a Ford a implementar enormes spoilers dianteiros e traseiros, além de um motor V6 Cosworth de 3.4 litros com 440 cavalos. Um dos pilotos da Ford era um jovem promissor chamado Niki Lauda. Mas o fim dos carros de Grupo 2 seria precipitado pela escalada dos custos de desenvolvimento e pela crise petrolífera.
Datas importantes
1961 – Ford Consul Capri
1969 – Lançamento do Ford Capri Mk1
1972 – Redesenho do Mk1 (“Caprissimo”)
1974 – Ford Capri Mk2
1978 – Ford Capri Mk3
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