Entrevista Youchi Matsuda (Design Mazda): “Pediram-me um novo desafio com o MX-30”
O Salão de Tóquio marcou a apresentação do primeiro modelo elétrico da Mazda, o MX-30 e antes de o podermos ensaiar em estradas portugueses, estive em Tóquio e entrevistei o responsável pelo estilo do novo modelo, Youchi Matsuda.
Nasceu há 52 anos (23 de março de 1967) e chegou à Mazda em abril de 1990 para o departamento de estilo da casa japonesa. Cinco anos depois chegou ao departamento de interiores e em abril de 1999 veio até ao Velho Continente. “Foi uma experiência interessante e enriquecedora.”
Em outubro de 2000 assume a responsabilidade do design de interiores e recebeu a responsabilidade de desenhar o interior do Mazda 3 e do CX-7. Em maio de 2005, Youchi Matsuda assume responsabilidade no estilo da segunda geração do Mazda 3 e do CX-5 e é o responsável pelo estilo da versão americana do Mazda6. Foi ele quem supervisionou o desenho do CX-9 em abril de 2011, para no ano seguinte ser ele a ter a responsabilidade do estilo do CX-3. Finalmente, 2016, foi-lhe atribuída e pasta para o estilo do primeiro modelo elétrico da Mazda, o MX-30.
“O que a administração e o gestor do produto nos pediu foi para criarmos novas linhas, novas ideias e por isso decidimos abraçar outros desafios e outras formas” começou por me dizer o simpático Youchi Matsuda que, durante a entrevista, falou apenas em japonês, apesar de compreender as perguntas. O resultado, como ele disse “é o MX-30, um carro diferente, é verdade, mas Mazda!”
Naturalmente que depois de ter assistido à revelação do MX-30, a primeira pergunta era evidente… porque razão fizeram o carro tão diferente do que tem sido a norma dos últimos modelos da marca. “As diferenças residem, exatamente, no facto de nos terem pedido algo diferente do habitual. Ou seja, ir fora da caixa e do que temos feito. Por isso esta configuração que nos oferece uma nova imagem.” Sendo o MX-30 um carro elétrico, não seria mais lógico aproveitar para reduzir a frente e alargar o interior? Matsuda não é da mesma opinião. “Quando for lá fora vá perto do carro e pode verificar que não há muitas diferenças em termos de habitabilidade face a um CX-5, por exemplo.” Mas há outras razões para isso.
“Sim, decidimos o ‘packaging’ do MX-30 tendo em conta a ligação entre o homem e a máquina (o já famoso Jinba Ittai). Além disso, surgiu a dúvida: onde vamos colocar os pilares A? Entendemos que o carro tinha de ter uma boa visibilidade em curva e não só, pelo que essa colocação teria de ser mais ou menos conservadora. Isto porque se conseguir ver a ponta do capô na maioria das situações, isso significa que os pilares estão bem posicionados e a segurança na condução é maior.”
Mas uma das maiores razões está no facto do “MX-30 terá versões com extensor de autonomia, pelo que tivemos de ceder a alguns compromissos.” Ou seja, várias razões contribuíram para que o MX-30 tivesse uma forma absolutamente convencional, mas diferente daquilo que se poderia esperar, olhando ao Mazda 3 e ao CX-30. “Sim, claramente, o facto do carro poder ter um extensor de autonomia no futuro – e não estou a dizer que isso vai acontecer (embora já saibamos que vai acontecer, ndr) – ditou a forma do MX-30.”
E respondendo a uma pequena provocação da minha parte – e quando chegar a condução autónoma vai ficar tudo igual ou vão mexer novamente – Matsuda sorriu muito, mas não confirmou nada. “Não temos nada previsto sobre a condução autónoma, não estou a trabalhar em nenhum projeto desses, por isso não estou capacitado para lhe responder.” Mas, ainda foi simpático e lembrou que “nessa altura haverá uma relação diferente entre homem e máquina, uma proximidade diferente e necessidades também distintas, pelo que certamente o panorama será diverso.”
Matsuda-san quis deixar claro uma coisa. “A Mazda vai ser muito precisa no que toca à condução, a precisão e qualidade do comportamento.”
Estava já no final do tempo para esta entrevista e não resisti a insistir na razão para o MX-30 ser tão diferente e com um estilo muito menos consensual. Porque não fizeram um CX-30 elétrico. “Como disse no início, tínhamos de criar uma nova identidade, um estilo diferente para este novo modelo. Por isso há uma traseira diferente e as portas de abertura antagónica. A base continua a ser o ‘kodo design’, mas com o MX-30 expandimos a expressão da nossa linguagem de estilo. Até agora, não tínhamos feito isso, mas decidimos fazer isso com este modelo especial.”
Chegava ao final a entrevista com Youchi Matsuda, ele que depois de responder às questões colocadas, foi para perto do MX-30, tirou as fotografias necessárias e ainda me perguntou “então, não acha que o carro é interessante?” Claro que é interessante por ser diferente, mas ainda vai levar algum tempo até digerir esta alteração de estilo. Não é tão bonito como CX-30, porém… é daqueles que primeiro estranha-se, depois entranha-se.
José Manuel Costa
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