Diário de um português em Tóquio com a Nissan: dia 1… e dia 2… e dia 3
Chamar diário a algo que aparece três dias depois do seu início é o que se costuma dizer “um mau começo”. Mas façam-me o favor de descontar o “jet lag” e aquela sensação do Sting “Oh I’m an alien, i’m an legal alien, I’m an English man in New York.” No meu caso também sou um extraterrestre, espécie de, mas no Japão. Desculpas quase tao boas como as dos avançados que falham golos…
Confesso que já não me lembrava de como o Japão pode ser tão interessante e estimulante e, por outro lado, tão comum como o Bairro do Grilo (para quem não sabe onde é, fica em Camarate), Alfama ou a Amadora (e nada contra, pois vivi lá muitos anos). A tecnologia é fantástica, mas tudo o resto é comum, com uma diferença: ninguém buzina, não há ninguém a querer passar na fila de trânsito, não há gritos, enfim, ordeiros, pacientes, educados.
As vénias sucedem-se, os agradecimentos também, e tudo corre sobre rodas, mesmo quando eles dizem “yess, yesss, yesss” e na prática não tenham percebido rigorosamente nada e façam o que entendem. Não é defeito, é feitio.
O Japão que encontrei está muito diferente e por isso foi quase perder a virgindade nipónica. Se isso pode acontecer! Até agora, descontando acordar todos os dias à hora a que habitualmente me vou deitar, as saudades da minha filhota e os hábitos de comida destes rapazes, estou a gostar. Uma vez mais.
Após um primeiro dia de viagem em modo Pablo Pichardo – triplo salto Lisboa – Dubai – Tóquio – onde conheci o Airbus A380 (desculpem esta assomo de gajo rico que só anda TAP por causa das milhas) e tentei adaptar o relógio biológico à diferença horária, o segundo dia começou em fanfarra! Falhei a hora de despertar, dei de fuças com a porta fechada do pequeno almoço e tive de usar todo o meu charme e beleza natural para convencer a obstinada japonesa, guardiã da porta do pequeno almoço, a deixar-me comer um papo seco, uma golfada de sumo de laranja e uma fruta já resto de rapar a taça.
Depois, errei a saída do hotel – porque raio os hotéis japoneses têm átrios do tamanho do Altice Arena e uma mão cheia de saídas diferentes?! – e quase não apanhava o autocarro para me levar ao museu da Nissan. Ufa!
O que aconteceu entre aquele momento e a chegada ao Nissan Heritage Center, surge muito nublado. É que alternei entre o ressono incómodo a que juntava o acordar com aquela cara “francamente quem está a ressonar”, e o percurso, feito num dia feriado devido à coroação do Imperador japonês, que durou mais de duas horas! Como não acordei com nada em cima de mim, nada de importante terá acontecido.
O primeiro dia de atividade, segundo de estada no Japão, terminou com mais uma viagem de autocarro para assistir à apresentação da equipa Nissan e-dams que vai competir na sexta temporada da Fórmula E. Ocasião para voltar a cumprimentar Sebastien Buemi. Fica bem num diário dizer que cumprimentei um piloto conhecido. Que se lembrou de mim, ou pelo menos foi simpático e disse que sim. Acabou o dia com um jantar “à japonesa” e fui-me deitar a sonhar com presunto, secretos de porco preto e francesinhas. Horrível!
Desaguamos no terceiro dia que começou, invariavelmente, comigo atrasado e com uma bomba a meu lado no elevador. Uma querida amiga japonesa (acho que somos amigos…) loura com 1,45 metros e não mais de 45 quilos, maquilhada por uma aprendiz do assunto e profundamente desastrada em cima de saltos com 15 cm. Riu-se muito, ofereceu-me o cartão de visita e eu, em troca, ofereci-lhe um conselho: “querida, vai tirar esses sapatos antes que tenhas um traumatismo craniano”. Não percebi a cara que fez, mas lá foi à sua vida tentando sobreviver à queda que, acredito, terá sido inevitável. E pronto, amanhã prometo que trago do diário do quarto dia de um português em terras japonesas.
José Manuel Costa
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