Clássico: Como o IVA ‘lixou’ o Lotus Seven
Génios na indústria automóvel existiram muitos, mas um dos que mais impressionou foi Colin Chapman que até na sua morte manteve uma aura de mistério. O inglês deu origem a vários modelos desportivos e de competição, sempre com uma classe e brilhantismo mesmo perante projetos falhados. O Lotus Seven não é um desses exemplos de projectos falhados e materializa um dos conceitos-chave de Chapman: prestações apuradas através de baixo peso e simplicidade.
A ideia por detrás do Seven era permitir que qualquer pessoa pudesse ter um carro homologado para andar em estrada capaz de ir para os circuitos cumprir corridas sem grandes modificações. Depois do Lotus Eleven produzido numa edição muito limitada, Chapman chamou Seven a este modelo depois de esse número ter ficado sem veículo devido ao abortar do projecto da Fórmula 2. Equipado com motor Riley, o monolugar acabou por não ser construído e como este novo modelo estava destinado, igualmente, às pistas, Colin Chapman decidiu dar-lhe o nome de Seven.
O chassis tubular bi-lugar era coberto por painéis de alumínio e em termos de estilo, o Seven era básico: parecia um tubo com rodas com formas rectilíneas onde apenas a parte dianteira tinha direito a uma ligeira curva por cima da tomada de ar para o radiador. Para manter o peso muito baixo, o Seven não tinha portas, apenas duas peças em plástico mole com vidros em “plexiglás” que articuladas nos montantes do párabrisas cumpriam essa função. Os guarda-lamas dianteiros e traseiro também eram realizados em alumínio, embora fossem mais parecidos com os das motos. Sim, que o Seven estava mais próximo de um monolugar que de um veículo convencional.
O peso, uma das questões mais importantes no Lotus Seven, era surpreendentemente baixo: os primeiros Seven equipados com o motor Ford de 1.1 litros e 40 CV não iam além dos 500 quilogramas (relação peso/potência de 12,5 kgs/CV). No que toca à suspensão, o facto de ter sido pensado como um carro de corridas para circular na rua, deu-lhe acesso a um sistema de triângulos sobrepostos à frente – à imagem dos monolugares – enquanto atrás tudo era mais rudimentar com o recurso a um eixo rígido guiado por braços laterais, sendo uma mistura de peças oriundas da Ford e Austin. As afinações não levaram em linha de conta o conforto. A direcção era directa e não possuía assistência. A distância ao solo era muito reduzida e por isso o centro de gravidade muito baixo.
Em termos aerodinâmicos, o Seven era um carro em teoria perfeito: não tinha optimização de nenhum apêndice nem sequer tratamento da carroçaria, por isso não deveriam existir preocupações. Porém, apesar de ser muito estreito, o Lotus Seven ainda detém o recorde do carro com maior coeficiente de arrasto (Cd): 0,65 ou 0,75 consoante as versões! Além disso, os pequenos guarda-lamas criavam sustentação e a elevada velocidade o carro perdia direcionalidade. Nada preocupante para a estrada, grave para as corridas. Dai muitos Seven aparecerem nas pistas sem estes guarda-lamas.
Em termos de travagem, as escolhas abundavam entre unidades vindas de outros modelos, até conjuntos específicos para a competição. O baixo peso permitia que a qualidade da travagem nunca tivesse sido colocada em causa.
Com tudo isto, seria de esperar um brilhante comportamento, até porque o Seven tinha uma distribuição de pesos perfeita e um centro de gravidade muito baixo. A verdade é que era preciso alguma mão-de-obra para dominar um Lotus Seven em pista, especialmente se tinha montado um motor com mais alguma alma.
Sendo um carro artesanal, o Lotus Seven padecia de alguns problemas, principalmente ferrugem que muitas vezes levava à súbita ruptura do chassis, especialmente nos pontos de ancoragem e a meio do carro.
Colin Chapman acabou por se desfazer do Seven depois da Grã-Bretanha ter alterado as regras fiscais.
O Seven podia ser comprado em kit (na famosa forma CKD, ou seja, “Completely Knocked Down” ou totalmente desmontado) com menores taxas do que comprado montado e isso inspirou muitos ingleses a comprarem um Seven (foram vendidos mais de 2500 carros entre 1957 e 1972). Porém, havia um problema: para beneficiar das taxas CKD, não podia ter manual de instruções para a montagem. Para contornar essa situação, Colin Chapman criou um “Manual de Desmontagem do Lotus Seven” e argumentando que não havia qualquer lei que proibisse a inclusão de um manual de desmontagem, bastava aos compradores lerem o manual do fim para o princípio. Brilhante!
Com a introdução do IVA em Janeiro de 1973 (ou VAT na Inglaterra) os Seven deixaram de ter um preço aceitável devido aos impostos e Chapman optou por realizar modelos de séries restritas.
Acabou por vender os direitos de construção do Seven ao único importador que restou, a Caterham Cars e estes mantêm até hoje a vida do Seven, debaixo do nome Caterham e com mais refinamentos tecnológicos. Porém, a base é ainda a mesma…
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