Mobi.E: 4,35 milhões de carregamentos em nove meses
Carlos Tavares: “O que foi decidido a nível europeu foi um erro crasso”

Carro elétrico: saiba como o deve conduzir

By on 4 Maio, 2017

No futuro a questão será: como nos habituamos a não conduzir? Mas isso ainda vai certamente levar algum tempo. Hoje em dia a mudança de hábitos faz-se com a transição dos carros movidos totalmente a combustíveis fósseis para os híbridos (incluindo híbrido plug-in) e, mais radicalmente, para os veículos elétricos. Possivelmente estes ainda soam a algo estranho no nosso país. Muitos talvez nunca se tenham sequer sentado num e muitos mais ainda nem sequer conduzido. A verdade é que os veículos elétricos já se passeiam nas estradas nacionais e gradualmente com maior regularidade.

cq5dam.web.1280.1280

Mas se na forma podem passar despercebidos, no conceito não. De facto num modelo elétrico as diferenças vão bem para além daquilo que mundanamente se ouve: “que estranho, não faz barulho” ou “e para carregar, como fazemos?”. A própria condução obriga a uma mudança e adaptação. Não é forçoso que o façamos, mas aí não estaríamos a tirar partido daquilo que são as potencialidades do veículo elétrico e, assim sendo, não descobriríamos a sua verdadeira identidade. Seria como ter uma Bimby em casa e pegar na caixa de fósforos à procura do bico de gás para a ligar. Não faz qualquer sentido. Podem pensar que o exemplo é despropositado, e até o pode ser, mas não usar um veículo elétrico à luz das suas características, também o é.

2

Conceito: em traços gerais, e sempre tendo em conta que há variantes em marcas e modelos, um veículo elétrico é propulsionado por um motor elétrico, estando a energia armazenada em baterias. Apesar de o seu carregamento poder variar em termos de especificidades, todos eles podem ser carregados através dos postos de carregamento público para o efeito ou através de tomadas domésticas.

Aceleração: enquanto os carros convencionais têm o seu binário máximo disponível a determinado número de rotações do motor, nos veículos elétricos este está disponível desde o início da aceleração, o mesmo que dizer, desde os 0 km/h. Temo-lo ao alcance mal pisamos o pedal do acelerador e o seu uso só depende da nossa vontade, porque a potência está de imediato e na sua totalidade à nossa disposição. Não é que seja difícil adaptarmo-nos, mas a um primeiro contacto pode causar estranheza. Por isso, não é surpreendente que modelos elétricos, com igual ou menos potência que veículos equiparados movidos a combustíveis fósseis, tenham um arranque mais expressivo e surpreendente, mesmo que a potência não seja estrondosa.

Zoe Electric 3

Carregamento em marcha: quando em andamento há duas formas de podermos recarregar as baterias dos veículos elétricos. Sempre que travamos e quando seguimos em roda livre, o mesmo que dizer, embalados sem recorrermos à aceleração (aqui há que ter atenção que o sistema de regeneração de energia de alguns veículos atua como se de uma travagem se tratasse, algo que é variável na forma e intensidade entre marcas e modelos). Isto faz com que se torne um interessante e estimulante desafio estarmos a seguir viagem e percebermos que se formos mais brandos e progressivos a pisar o acelerador, se deixarmos o carro rodar livremente em situações em que possivelmente nos modelos convencionais iríamos acelerar, e sempre que travamos, podemos estar a poupar e a recarregar energia, contribuindo assim para aumentar a autonomia do nosso veículo elétrico.

Postura e conselhos para o carregamento em marcha: no fundo, não há uma fórmula mágica e não falamos aqui de Física Quântica, o processo é bem simples, basta seguir o código da estrada. Pode parecer uma resposta óbvia e pouco interessante, mas os veículos elétricos, pelo sua génese, acabam por guiar a sociedade para uma condução mais segura, pensada e menos fervorosa ao volante. Por exemplo, se mantivermos a distância de segurança, em muitas situações, basta aliviarmos o pé do acelerador e somos dispensados do ato de travar devido à atuação do sistema de regeneração de energia que atua como “ travão” (em alguns modelos) ou, nos casos em que tal não aconteça, aí sim através de um ligeiro toque no travão – poupamos energia e recarregamos o carro. Em todas as descidas, escusamos de acelerar, porque, muitas vezes, não é por seguirmos mais depressa 5 km/h que irá significar na prática uma grande redução de tempo na chegada ao destino. Aí basta deixarmos o carro fluir, ver a bateria a carregar, e seguir. As acelerações a fundo podem ser dispensadas, até porque, se pensarmos bem, na maioria dos casos, salvo ultrapassagens, não necessitamos delas e o que fazem é que nós gastemos mais combustível ou, no caso, mais energia. Se somarmos tudo isto e o aplicarmos, nós próprios estamos já a assumir uma postura mais ponderada, calma e tranquila ao volante, poupando energia, continuando a marcha e, num efeito “bola de neve”, seguindo mais copiosamente o Código da Estrada, com um pormenor, nem damos por isso.

1 abertura

O prazer de poupar em andamento: devido ao processo de carregamento dos veículos elétricos durante a condução, acabamos por ser seduzidos por este “admirável mundo novo” a aplicarmo-nos para não o desiludir. O estímulo continua lá, o rastilho é que é diferente. Se andar depressa pode fazer-nos subir a tensão e dar-nos franco prazer ao volante, acreditem que gerir a condução no nosso dia a dia ao estilo de um monolugar de Fórmula E e ganhar quilómetros com isso, também dá. De um momento para o outro apercebemo-nos da proeza de poder sair de casa com uma determinada autonomia e chegar ao destino com uma autonomia superior à que tínhamos quando arrancámos. Um feito que, conseguido uma primeira vez, queremos reproduzir e tentar superar uma segunda, terceira, quarta… e por aí em diante. Nem sempre é possível, mas muitas vezes dá.

Tipos de percurso: quando temos várias opções de trajeto para um mesmo destino, um interessante exercício é podermos pensar antes a viagem e optar por um com maior número de descidas, mais plano, ou que não implique tanta aceleração, de forma a pouparmos ou regenerarmos energia. É um exercício que podemos fazer com qualquer carro, mas, na prática, arriscamo-nos a dizer que quase ninguém o fará, até porque na realidade, nos modelos movidos a combustíveis fósseis, se formos fazer “aqueles 20 km”, até podemos poupar e ver os registos de consumos na consola central, mas essa economia nunca tem o mesmo impacto que a materialização que nos é dada em quilómetros graças ao sistema de regeneração de um veículo elétrico. O conceito de se poder estar a ganhar algo enquanto se está a “gastar”, dá sem dúvida que pensar.

André Duarte

Ensaios: consulte os testes aos novos carros feitos pelos jornalistas do Auto+ (Clique AQUI)