Carlos Ghosn irá dar uma conferencia de imprensa no dia 8 de janeiro
Após mais de um ano preso, Carlos Ghosn protagonizou uma fuga hollywoodesca do Japão, estando agora no Líbano, onde não há acordo de extradição, apesar do mandado de captura internacional da Interpol.
Ou seja, Carlos Ghosn é, hoje, um fugitivo internacional, voltando a colocar sobre si todos os holofotes da imprensa mundial. O brasileiro, cidadão libanês e francês, está no Líbano, está agora livre para oferecer a sua versão dos factos, sem os filtros obrigatórios da justiça japonesa. Polícia e justiça japonesas que ficam muito mal na fotografia, pois o caso Ghosn vem expor algumas áreas da justiça que não serão muito bem vistas pelo ocidente, e a fuga do brasileiro deixou à vista dificuldades da polícia.
Livre para falar, Carlos Ghosn tem muito para contar e algumas contas para ajustar, o que deixa, desde já, muita gente nervosa. Porque se a alegada conduta menos séria do executivo só foi possível devido à liberdade de que dispunha, também é verdade que outros beneficiaram desta “liberdade” de decisão.
No fundo, Carlos Ghosn poderá colocar em jogo toda a sua reputação de gestor brilhante que serviu de “mestre” para um dos melhores CEO da atualidade, o português Carlos Tavares. Ghosn foi um “mago” no que toca ao corte de custos, na recuperação financeira das empresas e foi ele quem resgatou das garras da falência a Nissan, cria do uma aliança que, ainda hoje, é o terceiro maior grupo mundial do setor. O que Ghosn vai tentar limpar é a imagem de criminoso de colarinho branco e de fugitivo que agora se cola ao corpo.
Quem esteve tantos anos na liderança da Aliança Renault Nissan Mitsubishi, conhecerá muitas das situações menos corretas da governança destas empresas e o brasileiro não terá, acreditamos, pruridos nenhuns em atirar com a lama para a ventoinha para salvar a sua pele.
Depois da sua chegada a Beirute – depois de uma empresa privada de segurança ter desenhado a fuga e Ghosn ter usado um passaporte que não foi entregue às autoridades japonesas – avisou que iria fazer uma conferência de imprensa já no dia 8 de janeiro (próxima 4ª feira) e promete esclarecer tudo sobre a situação espoletada em novembro de 2018 no aeroporto de Haneda, quando foi detido sob a acusação de má conduta financeira e apropriação de bens e recursos da Nissan em proveito próprio.
O guião da conferência de imprensa já é conhecido: Ghosn vai zurzir forte e feio no sistema judicial do Japão, aproveitando para dar força aos que dizem ser um sistema nada justo onde o ministério público pode fazer o que quiser para conseguir manter uma taxa de condenação próxima dos 100%; Ghosn vai lembrar a falta de cumprimento dos direitos humanos por parte das autoridades japonesas, ao impedirem o contacto com a família, ao não levar em linha de conta a presunção de inocência; a teoria da conspiração, reforçada com o afastamento de Hiroto Saitawa da liderança da Nissan, continuará a ser um cavalo de batalha de Ghosn; o reforço da teoria onde a ideia da Nissan era manchar o executivo brasileiro e impedir, assim, a fusão da Nissan com a Renault, impedindo que a casa japonesa perdesse a sua autonomia, algo que os orgulhosos japoneses não concordavam de forma nenhuma; Ghosn já tina falado sobre os “assassinos corporativos”, alguns executivos que trabalhavam com Ghosn e que se viraram contra o brasileiro em proveito próprio, sendo que os nomes vão ser revelado nesta conferencia de imprensa; a administração da Nissan vai estar debaixo de fogo, pois Ghosn considera-a responsável pelo descalabro que a empresa vive neste momento, perdendo de vista a necessidade da fusão com a Renault; Ghosn irá atacar o Governo francês, algo que a sua esposa, a francesa Carole, já tinha feito, ao dizer que o “silêncio do Eliseu é insurdecedor” acrescentando que “pensei que a França fosse um pais que defendia a presunção de inocência. Todos esqueceram o que o Carlos fez pela economia da França e pela Renault.”
Este será o guião, mas espera-se ainda mais, pois Carlos Ghosn é um lutador e um homem muito astuto. Não é de meias palavras e acredita-se que a sua abordagem não será meiga nem subtil, mantendo Emmanuel Macron de sobreaviso, pois sendo cidadão francês, Carlos Ghosn pode ir para França quando quiser, beneficiará do facto da nação gaulesa não extraditar os seus cidadãos para fora da União Europeia e pode criar um enorme imbróglio jurídico e diplomático. Carlos Ghosn é, agora, um fugitivo internacional e estando acossado pode virar uma verdadeira pedra no sapato para franceses e japoneses.
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