Carlos Ghosn foi preso devido a suspeitas de fraude e a Nissan vai despedi-lo
Após um relatório com várias denúncias que espoletou uma investigação interna, a Nissan descobriu que Carlos Ghosn escondeu parte significativa dos seus salários anuais às autoridades japonesas, além de outros atos graves de má conduta. Com ele foi arrastado Greg Kelly, “representative director”, o executivo de topo encarregue de gerir a operação empresarial de acordo com o código de empresas no Japão para “joint ventures” ou acordos como os da Aliança Renault Nissan. E este detalhe tem muita importância, pois Greg Kelly, à luz da lei japonesa não é considerado um empregado da companhia e não tem direito a receber alguns benefícios que são oferecidos aos empregados da companhia. E terá sido por aqui que as denuncias se foram avolumando até que a investigação interna, que decorre há vários meses, descobriu o que Ghosn e Kelly andaram a fazer nos últimos cinco anos.
O presidente da Nissan, Carlos Ghosn, de acordo com a agência Kyodo, escondeu 5 mil milhões de yenes do seu vencimento (cerca de 38 milhões de euros) nos últimos 5 anos. A Nissan passou todas as informações recolhidas às autoridades nipónicas, tendo o Ministério Público japonês procedeu á detenção de Carlos Ghosn.
O presidente da Nissan é, ainda, o presidente da Aliança Renault Nissan Mitsubishi, o terceiro maior grupo da indústria automóvel mundial.
A Nissan emitiu um comunicado onde refere que a “investigação interna realizada mostra que, durante muitos anos, tanto Carlos Ghosn como Greg Kelly entregaram declarações de vencimento aos reguladores do mercado mobiliário de Tóquio (Tokyo Stock Exchange Securities) que que estavam bem abaixo dos valores recebidos, reduzindo, assim, os valores recebidos e fugindo aos impostos. Além disso, no que toca a Carlos Ghosn, a nossa investigação descobriu outros atos de má conduta financeira e de más práticas de gestão, como o uso pessoal de recursos da empresa, confirmando, igualmente, a profundo envolvimento de Greg Kelly nessas situações.”
A Renault também já reagiu em comunicado, lacónico, assinado por Philippe Lagayette, administrador sénior da Renault e pelos presidentes dos comités do Conselho de Administração, Marie Annick Darmaillac e Patrick Thomas, onde é dito que os membros da administração “tomaram conhecimento do sucedido hoje com o presidente e CEO da Renault e aguardando informações mais precisas prestadas por Carlos Ghosn, não deixamos de reiterar o nosso apego à defesa intransigente dos interesses do Grupo Renault na Aliança Renault Nissan Mitsubishi. Nesse sentido, o Conselho de Administração do grupo Renault irá reunir-se o mais breve possível.”
Exceção feita a estes dois comunicados, não há mais reações a esta grave situação, sendo que os efeitos deste anúncio já se fizeram sentir no preço das ações da Nissan e da Renault: as primeiras caíram mais de 11% na Bolsa de Tóquio, as segundas mais de 15% no Euronext.
Não causa muita estranheza que o assunto principal tenha a ver com os ordenados de Carlos Ghosn, um tema polemico desde sempre pelo gestor ser um dos mais bem pagos na Europa e na Ásia. Ghosn recebia vários salários devido aos múltiplos cargos que desempenhava na Aliança Renault Nissan Mitsubishi: CEOP da Renault, presidente da Nissan e da Mitsubishi e presidente da Aliança. Na Nissan, por exemplo, recebeu 8,7 milhões de euros em 2016 e, percebe-se agora erradamente, 5,6 milhões de euros em 2017, acrescentando 7,4 milhões de euros da Renault (menos 20% do que ganhava anteriormente, pois os acionistas da Renault não queriam pagar tanto) e cerca de 1,8 milhões de euros da Mitsubishi. Um total simpático próximo dos 15 milhões de euros anuais embolsados por Carlos Ghosn.
Não deixa de ser irónico que é a Nissan, a empresa que foi salva por Carlos Ghosn em 1999, quando convenceu a Renault a investir no moribundo construtor japonês, que agora lhe aponta o dedo de forma clara e contundente. Ironias de uma vida que levou Carlos Ghosn ao topo e o atirou ao chão com a mesma facilidade.
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