Carlos Ghosn dá conferência de imprensa e passa ao ataque
Aquele que é, já, o mais famoso fugitivo do mundo, decidiu abrir a caixa de pandora e passou ao ataque.
Tendo fugido do Japão, alegadamente, dentro de uma caixa de um instrumento musical, rumo ao Líbano, onde viveu desde os seis anos até ir para França estudar, Carlos Ghosn já tinha anunciado que iria falar, livremente, sobre o caso.
E menos de duas semanas da sua espetacular fuga, Ghosn disse que foi tratado de forma brutal e implacável pelas autoridades japonesas. “Fui brutalmente tirado do meu mundo, como eu o conheço. Fui riubado da minha família, meus amigos, das minhas comunidades e da Renault, Nissan e Mitsubishi!” Afirmações de Carlos Ghosn na primeira entrevista coletiva dada desde a sua prisão devido á acusação de ter perpetrado crimes financeiros.
O ex-executivo com 65 anos, passou a ter estatuto de fugitivo internacional, estando na casa de Beirute, alegadamente comprada pela Nissan, onde fez esta conferência. O brasileiro alega que foi derrubado por uma conspiração preparada na Nissan, tendo citado os nomes de alguns deles. “Eu estava pronto para me reformar antes de junho de 2018. Lamentavelmente, aceitei a oferta para continuar a integrar duas empresas (Renault e Nissan). Foi tudo pensado e alguns amigos japoneses pensaram que a única maneira de se livrar da influência da Renault na Nissan era se livrar de mim.”
Mas afinal, quem faz parte desta cabala que urdiram contra Carlos Ghosn? “Quem fexz parte de tudo? Obviamente, o Hiroto Saikawa fazia parte do esquema. Mas há mais: Hari Nada e Toshiaki Onuma, pois eles mostraram isso. Mas há muitas mais pessoas implicadas, como por exemplo um dos membros do concelho, Masakazu Toyoda, que era o elo entre o conselho da Nissan e as autoridades japonesas.”
Portanto, “estou aqui para limpar o meu nome e todas as alegações são falsas e eu nunca deveria ter sido preso. Acreditem, senti.me como um refém num país que servi durante 17 anos! AO longo de 17 anos, fui visto como um modelo no Japão.”
Falando durante uma hora, Carlos Ghosn lembrou que estava a trabalhar na integração da Renault com a Nissan, mas com respeito pela autonomia de ambas as marcas. Também estava a trabalhar na negociação da fusão com a Fiat Chrysler Automobiles (FCA). O brasileiro entende que “a minha inimaginável provação é o resultado da ação de um punhado de indivíduos sem escrúpulos e vingativos. Todas as acusações são vazias e não têm base.”
No final do seu discurso, Ghosn voltou a dizer que os “executivos da Nissan conspiraram contra mim” alegando que uma das motivações para essa urdidura era o desempenho em queda da Nissan a partir de 2017. E porquê? “Em outubro de 2016 decidi retirar-me da Nissan, porque assinei um acordo com a Mitsubishi, mudando-me para o conselho de administração da Mitsubishi.” Ou seja, Carlos Ghosn não tinha nenhum cargo na Nissan no final de 2016, deixando implícito que os problemas da Nissan começaram depois da sua saída e que esta urdidura serviu para abafar esses problemas.
Carlos Ghosn voltou a falar sobre a sua prisão no aeroporto de Tóquio, lembrando que “fui interrogado oito horas sem a presença de um advogado e o promotor do ministério público disse-me, repetidamente, ‘as coisas vão piorar para si se não confessar os crimes’”, uma acusação grave que vem sublinhar as dúvidas existentes sobre o sistema judicial japonês. Orgulhoso de ter um rácio de condenação próximo dos 100%, as autoridades nipónicas acabam por atropelar os direitos dos acusados, permitindo a produção de prova sem mandato judicial e recorrendo a qualquer estratagema possível.
Para já, Carlos Ghosn continua a viver na capital do Líbano, Beirute, na mansão cor de rosa comprada, alegadamente, pela Nissan, respaldado pela falta de acordo de extradição para o Japão, tendo as autoridades do Líbano já anunciado que não têm intenção de o devolver ao Japão. Foi por isso que o brasileiro com cidadania libanesa e francesa, se sentiu à vontade para contar a sua parte da história.
Destaques da conferência de imprensa de Carlos Ghosn
“Todas as acusações contra mim são infundadas”
“Porque razão estenderam a investigação, voltando a prender-me? Porque estavam todos empenhados em me manter em silêncio e expor o meu lado da história? Porque tentaram durante longos 14 meses arrasar comigo ao privarem-me de falar com a minha esposa?
“Um dos motivos desta cabala reside nos resultados em quebra da Nissan a partir de 2017, onde eu já não estava desde outubro de 2016, pois tinha assinado um contrato com a Mitsubishi e tornei-me presidente do conselho.”
“Quem é que ganha com tudo isto?”
“Em 2017, a aliança poderia ter chegado à liderança do mercado, pois eram três empresas em crescimento, lucrativas e estávamos a preparar a fusão com a FCA, negociando com John Elkann.!
“Já não há aliança, pois a FCA foi perdida e a oportunidade de ser o maior grupo mundial desapareceu.”
“Viraram a página errada, pois não há lucro, não há crescimento, não existe iniciativa estratégica, já não existe tecnologia, enfim, não há mais aliança. O que existe hoje é uma simulação de uma aliança.”
“Deixei o Japão porque queria justiça, sendo esta a única possibilidade de restabelecer a minha reputação. Se não conseguir no Japão, terei de o fazer em outro lugar!”
“Não estou aqui para explicar como sai do Japão. Estou aqui para falar sobre o porquê de ter saído. Estou aqui para lançar luz sobre um sistema que viola os princípios mais básicos, os direitos humanos. Estou aqui para limpar o meu nome. Estas alegações são falsas e nunca deveria ter sido preso.”
“O Greg Kelly é um homem honrado e continua a ser vítima do sistema judicial japonês, sem mantido refém.”
“Fui julgado publicamente e presumido culpado face a tudo o mundo!”
“Esta fuga foi a decisão mais complicada da minha vida, mas estava a defrontar um sistema cuja taxa de condenação é de 99,4%, valor que será maior para os estrangeiros.”
“A perda de valor bolsista da Nissan desde a minha prisão atingiu uma cifra superior a 10 mil milhões de dólares. Perderam mais de 40 milhões de dólares por dia. Já o valor da Renault perdeu desde que estou preso cerca de 5 mil milhões de euros.”
“Isso faz parte do assassinato de personagem (as casas de Ghosn) e a imprensa engoliu o isco.”
“Pensava que o responsável pelo tribunal era o juiz, mas não, foi o promotor quem mandou em tudo, fazendo o que queria.”
“Estive no Japão 17 anos e messe tempo, fui um exemplo para os japoneses, mas de repente, caracterizaram-me como frio, ganancioso e ditador.”
“Eu adoro o Japão, gosto do povo do Japão. Porque é que o país me esta a retribuir com o mal? Não entendo!”
“Cometi um erro, não deveria ter ficado mais tempo.”
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