As cinco razões para a saída da Honda do Reino Unido não têm ligação, apenas, com o Brexit
A Honda decidiu abandonar a sua fábrica de Swindon no prazo de três anos, colocando em risco 3500 postos de trabalho (mais 10 mil indiretos) de uma unidade de produção cujas linhas estão ocupadas, apenas, com o Civic. Já de lá saíram o Jazz e o CR-V, deixando a capacidade de produção muito superior àquelas que está a ser entregue.
O AUTOMAIS já lhe tinha explicado as várias razões, mas o ex-patrão da Honda no Reino Unido, em entrevista á revista Autocar, explicou as cinco razões fundamentais para este acontecimento. Philip Crossman, patrão da Honda UK entre 2013 e 2016, afirmou que “uma tempestade perfeita culminou com uma decisão devastadora e para os envolvidos, verdadeiramente triste.” Para este ex-responsável, há uma certeza: não foi pela qualidade da força de trabalho que a Honda vai sair. Mas há cinco razões básicas.
Mudanças no mercado global
A travagem do mercado chinês, a redução de vendas no segundo maior mercado mundial (os EUA) e uma performance europeia longe do desejado, combinam-se para que a Honda reveja alguns dos seus investimentos espalhados pelo mundo. O declínio do diesel não afetou em demasia a Honda, pois até 2004 viveram sem motores a gasóleo e podem fazê-lo agora. Mas os produtos terão de ser outros e a produção mais barata.
Quebra do mercado chinês
O “eldorado” para a indústria automóvel mundial, o maior mercado automóvel do mundo, ajudou e de que maneira aos lucros da Honda, pois a marca japonesa tinha duplicado as suas vendas desde 2013. Porém, 2018 assistiu a uma travagem violenta do mercado chinês, depois de crescimentos a duplo dígito, anos a fio. Para piorar a situação, a Honda conheceu muitos problemas de fiabilidade com os produtos feitos localmente, danificando a sua imagem. A espiral recessiva das vendas não foi investida e como a Honda não possui modelos elétricos – a grande moda na China devido aos chorudos incentivos do governo para obviar a dependência do petróleo externo – as vendas caíram de forma assustadora.
Eletrificação
Não tendo modelos puramente elétricos (excetuando os que vende de forma residual com pilha de combustível a hidrogénio)e só há pouco regressada ao mercado dos híbridos, a Honda terá de investir massivamente para recuperar tempo e apresentar-se ao mercado com propostas eletrificadas credíveis. Assim, não espanta que uma das razões esgrimidas seja, exatamente, a necessidade de investir na eletrificação. A Honda há muito que trabalha com a pilha de combustível, mas isso é um sistema que continua longe de estar amadurecido e por isso a marca japonesa precisa de ação imediata. E isso custa muito, mas mesmo, muito dinheiro.
Acordo de comércio Japão – União Europeia
Para lá do Brexit, esta será a razão mais forte para o abandono da fábrica britânica. Os construtores japoneses estabeleceram-se na Europa com fortes investimentos para contornarem as taxas aduaneiras cobradas pelos países europeus. O acordo entre o Japão e a União Europeia está feito e diz que nos próximos oito anos, as taxas vão cair, de forma progressiva, de 10% para zero. Ou seja, ficará mais barato acelerar a produção no Japão e importar os carros diretamente para o Velho Continente. Dai deixar de fazer sentido uma fábrica no Reino Unido.
Incerteza do Brexit
A Honda não quis se intrometer na discussão sobre o Brexit, referindo que não foi um fator de decisão para acabar com a fábrica de Swindon. Porém, é evidente que numa antevisã do que poderá acontecer num prazo alargado de 5 ou 10 anos, a saída do Reino Unido da União Europeia seria, sempre, um assunto em cima da mesa. Ainda por cima não se sabendo se o Reino Unido sai com um mau acordo ou sem acordo nenhum. Como todos sabem, é dos manuais, incerteza nunca é boa conselheira para os negócios e por isso, a Honda saltou fora antes que o caldo comece a ferver.
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