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4×4 e SUVs: a paixão secreta da Skoda

By on 12 Abril, 2018

Os 4X4 e os SUV sempre inspiraram as expedições mais míticas da História do automóvel. No caso da SKODA, eles têm sido uma viagem de vida: desde os anos 30 que a marca dá largas ao seu fascínio por este tipo de viaturas.

Olha-se para os mais recentes lançamentos da SKODA, os SUV Kodiaq e Karoq, e tudo parece no lugar certo, como se a marca do “Simply Clever” estivesse no seu meio natural. Procura-se um pouco mais e lá está: ficamos a saber que modelos 4×4 dos tempos modernos, as Octavia Combi 4×4 e Superb Combi 4×4, são líderes de mercado no seu segmento em seis países: Suíça, Noruega, Áustria, Polónia, Espanha e Finlândia. A SKODA parece estar como peixe na água quando chega a altura de pensar em veículos especiais. Surpresa? Talvez não: basta recuar no tempo para entender de onde vem este material genético.

A história da SKODA é uma estrada cheia de curvas e contra-curvas. De paisagens que mudam rapidamente, de climas variáveis e cores contrastantes. Até o país onde nasceu mudou de nome duas vezes: primeiro Boémia, depois Checoslováquia e, por fim, República Checa. Nasceu da vontade de dois entusiastas, Václav Klement e Václav Laurin, e produziu alguns dos carros mais luxuosos de uma Europa que, naquele princípio do século XX, se despedia paulatinamente dos grandes impérios.  Atravessou duas guerras mundiais e sobreviveu a uma “cortina de ferro” que a mandou produzir carros populares, em nome dos preceitos da Economia Planificada. Quando todos lhe vaticinavam o fim, soube transformar-se ao ponto de suscitar o interesse de um grande grupo “ocidental”, a Volkswagen, que a adquiriu em 1991. Daí até agora, o crescimento foi exponencial.

Quase um século de altos e baixos. Como aqueles que só um 4X4 poderia ultrapassar. O trocadilho até se aplica e está longe de ser forçado: desde a década de 30, poucos anos passados sobre a sua fundação enquanto marca, que a SKODA dedica uma boa parte das suas energias a estudar e a produzir veículos de tração integral, naquela que é uma das facetas menos conhecidas da marca.

As primeiras experiências foram quase caseiras, com os engenheiros da marca a desbravarem caminho ao volante de uns protótipos de três eixos, em que a tração era distribuída pelas quatro rodas posteriores. Nenhum daqueles projetos chegou sequer à linha de produção, mas este trabalho deixou a marca bem preparada para o primeiro grande desafio: em 1936, o exército checo lança um concurso público para uma viatura destinada às deslocações de campo dos oficiais, ao que a SKODA responde com o modelo 903. Baseado no 650, um carro de passageiros, lá estava a configuração de três eixos, com os dois posteriores a assegurarem a tração. O motor dos protótipos produzidos para este concurso era um 3 litros de seis cilindros, com 61 cv.

Da guerra à cortina de ferro

Nunca chegou a haver contrato para o 903, tanto mais que, pouco tempo depois eclodia a II Guerra Mundial e o domínio Nazi da então Checoslováquia. Durante a ocupação, os trabalhos da SKODA em Mladá Boleslav (ainda hoje o coração da marca) foram fortemente limitados, mas o 903 foi um dos modelos escolhidos para a produção, num total de 42 veículos fabricados entre 1939 e 1942. As aptidões do 903 eram reconhecidas, em especial a sua versatilidade: a velocidade máxima era de 100 km/h, isto num veículo que conseguia superar subidas com gradientes de 45%. O consumo? Uma agradável surpresa, pelo menos para a época: 25 litros/100 km. Durante os anos da guerra, entre 1941 e 1943 a SKODA produziu ainda o Superb 3000 KFZ, um veículo de transporte militar de que se produziram cerca de 1600 unidades de tração traseira e que serviu de teste para versões 4×4, que receberam a designação 956.

Esta ligação a viaturas militares haveria de continuar após a II Guerra Mundial, destacando-se modelos como o 971 e 972, um conceito com base no Tatra 805 e que incluía uma versão anfíbia. Um dos maiores sucessos tecnológicos surgiu em 1952 com o 953, que podia, como os modernos “jipes”, rodar em 4×4 ou 4×2, e com características dinâmicas verdadeiramente notáveis para a época: superava gradientes de 58% e obstáculos verticais de 0,25 m, para além de poder atravessar cursos de água com 60 cm de profundidade. O 953 provou ser o melhor entre várias opções numa sessão de testes promovida em Dresden para reequipar as forças do Pacto de Varsóvia, só que… o russo Gaz-69 foi o escolhido.

“Em muitos aspetos, os veículos militares fabricados pela SKODA eram melhores que os utilizados regularmente pela União Soviética e/ou pelas forças do Pacto de Varsóvia. No entanto, a rentabilidade, as ordens para dar prioridade à produção civil de ‘um carro para o cidadão comum’ e capacidades desajustadas dos requisitos das tropas aliadas acabaram por ditar a decisão de focar a marca em veículos 4×4 para a agricultura em vez dos militares”, explica Lukás Nachtmann, diretor do Arquivo SKODA.

No início dos anos 60, a marca cooperou com a CZ Strakonice no desenvolvimento do 998, mais conhecido como Agromobil. Com o seu visual a fazer lembrar o mais ocidental Steyr Puch Haflinger, este é hoje um dos carros mais raros da história da SKODA: apenas foram produzidos alguns protótipos, provavelmente 13, dos quais pelo menos dois foram preservados. Um deles figura hoje no acervo do museu da SKODA.

Uma aventura na terra dos kiwis…

A história da SKODA e da sua ligação aos veículos de utilização especial está cheia de surpresas. Como aquela que nos chega da Nova Zelândia: corria o ano de 1966, muito antes da queda do muro de Berlim ou da aquisição por parte do Grupo Volkswagen, quando o importador local decide fabricar um SUV (isso mesmo, um SUV!) adequado às deslocações nos grandes estradões de terra.

Chamava-se Trekka e foi o primeiro carro a ser projetado e fabricado no país, resultando num esforço conjunto da SKODA, do importador neozelandês e de empresas locais com a expertise necessária. O processo era tudo menos fácil: toda a base técnica, originária do modelo Octavia, era despachada de Mladá Boleslav até à Nova Zelândia, mais exatamente para Otahuhu, um subúrbio de Auckland. E neste envio incluía-se nada menos do que motor, caixa de velocidades, eixos, bem como o chassis adaptado ao projeto, diferindo essencialmente na distância entre eixos, que teve de ser encurtada de 2.389 mm para 2.165 mm.

Na Nova Zelândia (que, para que se note, fica praticamente nos antípodas da República Checa…), era colocada em cima de tudo isto uma carroçaria de linhas bens rurais, desenvolvida por uma equipa constituída pelo designer britânico George Taylor e pelo engenheiro Josef Velebný, que anteriormente servira como chefe de desenvolvimento de carroçarias… isso mesmo, na SKODA.

Com suspensão independente e chassis de longarinas – muito próprio para os caminhos do “down under” – o Trekka montava o mesmo 1.2 de 47 cv do europeu Octavia. Os clientes podiam escolher entre várias versões: uma pick-up de três portas com entre dois e oito assentos, uma versão coberta (capota de lona ou rígida de plástico), havendo ainda a opção “station wagon” de carroçaria integral, ou a popular variante “de praia”, com uma base desprovida de painéis laterais.

O Trekka, na sua essência, era muito semelhante ao conceito dos SUV atuais: duas rodas motrizes, boa capacidade para sair do asfalto e uma versatilidade de opções que permitia a utilização diversificada, fosse nas mãos de um agricultor dos confins da Nova Zelândia ou em passeios de fim-de-semana

Não deixa de ser curioso como, passados mais de 50 anos, a marca SKODA esteja a brilhar precisamente com este tipo de ideias. Coincidência? Talvez não. Porque na História não há acasos.

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