Land Rover Discovery TD6 HSE – Ensaio
Land Rover Discovery TD6 HSE: excessivo!
Texto: José Manuel Costa
Tamanho, capacidade fora de estrada, preço, equipamento, (quase) tudo é excessivo neste Discovery que marcando de forma clara a diferença para a anterior geração, comete a proeza de fazer regressar aos SUV algo que deveria fazer parte das suas características de base: a funcionalidade e a utilidade. Mas por 100 mil euros, há que pensar bem se vale a pena levar para casa este “bicho”!
Confortável. Muito! Versátil, útil e funcional. Luxuoso (até certo ponto). Não, não estamos a falar de um Range Rover, mas de um Land Rover, mesmo que nos dias que correm separá-las seja cada vez mais complicado. E falo do Discovery, caso ainda não tenha percebido, e não do Discovery Sport, o mais pequeno (salvo seja) membro da família Land Rover. Eu que fui à apresentação do primeiro Discovery (conhecido como Project Jay), fico arrepiado com a evolução que nos trouxe de um carro meio desajeitado, com grande capacidade para andar fora de estrada, enorme bagageira e um motor diesel que mais parecia uma caixa de pregos sem grande desempenho, para este Discovery. Impressionante!
Poderia ter experimentado o Discovery com o motor 2.0 litros Ingenium que a Land Rover diz permitir melhor comportamento que este Discovery TD6 (motor mais leve e equilibrado), mas tocou-me em sorte este matulão com motor V6 de 3.0 litros que a casa britânica diz ser mais refinado que a unidade usada no Audi Q7. E porque o Discovery é um puro SUV dos modernos, pela janela foi o chassis semi separado da carroçaria da quarta geração e algumas gordurinhas a mais. Assim, o Discovery é mais leve que o anterior e para não ofender ninguém, está mais perto do chão. Não parece, mas o Discovery está a 28,3 centímetros do chão – antes estava a 3,10 cm! Ou seja, está á mesma altura que um Mercedes GLE e menos do que é possível com um Mercedes GLS com as suas suspensões pneumáticos e zilhões de programas de afinação!
Pronto, estava a pensar arejar 100 mil euros e ficou preocupado porque o carro já não vai passar por cima do batente do portão da quinta. Bolas! Em compensação, pode mandar o seu carrinho para dentro da barragem que ele consegue andar com água até 90 cm de profundidade, a caixa de redutoras não ficou perdida na prancheta de desenho do engenheiro de transmissões e o sistema “Terrain Response” está um miminho com as novas regulações. Há um modo para tudo e mais alguma coisa.
Ou seja, o Discovery materializa aquilo que a Land Rover faz, tão bem, na Range Rover, combinar de forma perfeita capacidade fora de estrada sem igual com luxo, requinte e equipamento completo. Nos Range Rover, sabemos que essa combinação chega com uma etiqueta de preço absurda, mas na Land Rover as coisas são muito semelhantes. Este Discovery TD6 HSE custa, aqui no jardim à beira mar plantado, nada menos que 100.628 euros! Há pois é… Ou seja, excetuando o Porsche Cayenne Diesel (3.0 TDI 262 CV) que custa 99.368 euros – mesmo assim 1200 euros menos! – BMW X5 30d (258 CV e 89.811 euros), Audi Q7 3.0 TDI (272 CV e 91.276 euros), Volvo XC90 D5 R Design (225 CV e 84.464 euros) e Mercedes GLE 350d (258 CV e 90.287 euros) são, todos!!, mais baratos entre 10 e 15 mil euros que o Discovery!!
Curiosamente, o Discovery parece ser mais pequeno e menos imponente que o anterior, o que é mesmo uma ilusão de ótica oferecida pelo estilo definido para a quinta geração e que parece ter mais detratores que adeptos. Confesso que esta igualdade de estilos da marca começa a irritar um nadinha e no caso do Discovery, muitas vezes, parece que estamos a olhar para uma sapatilha. Não é feliz, na minha opinião, o desenho do Discovery. Mas como gostos não se discutem, fica só a minha ideia. Adiante!
Tudo melhora no interior, onde é “business as usual” e as diferenças esbatem-se de forma clara face ao anterior modelo. Por um lado, a Land Rover esforçou-se para não usar tudo aquilo que podemos ver num Jaguar (anda há algumas coisinhas), e já não há nada do tempo da Ford e que se usaram nos… Volvo. Aplauso!
Naturalmente que temos de trepar para dentro do Discovery e quando me sentei dei logo por um ou dois problemas. Primeiro, o assento do banco é um pouco curto e a forma da consola central não deixa assim tanto espaço como era suposto num carro tão grande. Depois, mesmo com a regulação, elétrica, do banco afinada para o ponto mais baixo possível, ficamos ainda bem acima da linha de cintura e com uma visibilidade panorâmica que nos deixa no controlo das operações. Dá mesmo para olhar para o lado e ver as caras de enfado de alguns perante um carro tão matulão, a face roxa de raiva para o “gajo ricaço que anda a exibir o carrinho” de outros ou a menina loira, ou morena, que confere o seu facebook na paragem do semáforo. Enfim, vamos sentados numa posição elevada, com perfeito controlo do veículo e dos instrumentos e comandos.
Atrás dos bancos dianteiros, passamos a outra dimensão, a dimensão do espaço, não sideral, mas consideravelmente amplo. A segunda fila de banco é espaçosa e na terceira – que está escondida debaixo do piso da bagageira – é surpreendente que dois adultos possam viajar sem problemas. O espaço é realmente generoso e a Land Rover não se esqueceu dos ganchos Isofix para prender cadeirinhas de bebé. E se quiser manter o rabiosque quentinho, pode encomendar o aquecimento desses bancos.
Aberto o enorme portão traseiro, parece que entramos num armazém! Na versão de cinco lugares, são 1137 litros de capacidade na bagageira. Se usar os sete lugares, a capacidade desde para os 258 litros, a capacidade de um utilitário. Ou seja, pode levar seis amigos ou amigas no carro e ainda tem espaço para a roupinha do fim de semana. E para que tudo seja mais simples, existem uns botões – replicados no ecrã do sistema de info entretenimento – que regulam o rebatimento das duas filas de bancos e ainda uma separação com comando elétrico que impede a carga de bater no portão traseiro. E o deixa sentar-se com mais conforto se estiver a pescar ou na coutada de caça de um amigo. Ou então foi á praia e precisa de limpar os pezinhos como um comum plebeu… Ah, quase me esquecia! Pode controlar o rebatimento dos bancos através do seu smartphone via uma aplicação. Vá lá… dá nas vistas! Inexplicavelmente, a chapeleira é um comum sistema de recolher que é manual e que para transformar o Discovery em sete lugares, temos de a retirar. Podia ser mais sofisticado, verdade?!
O refinamento do Discovery, por seu turno, é bom, mas o motor é um pouco vocal e dentro do habitáculo as coisas não são nada parecidas ao que se passa num Cayenne ou num Mercedes GLE, por exemplo. Até o vento é capaz de perturbar o ambiente a bordo do Discovery, ouvindo-se a enrolar nos espaçlhos retrovisores e até nas borrachas das portas. Hum, hum… não devia ser assim.
Vá lá que o resto do interior consegue fazer esquecer estes detalhes e a condução também ajuda. Apesar de ser enorme, o Discovery conduz-se com a ponta dos dedos, o comportamento é preciso e o motor tem a reserva de binário suficiente para dar aquele salto para diante sempre que necessário. A direção é assistida eletricamente, e o enorme volante (habitual na Land Rover) tem o tato certo e recebemos alguma informação sobre aquilo que as rodas estão a fazer com o peso certo na assistência. O que ajuda quando o assunto são curvas, pois atirar com quase cinco metros de carro, com 1,80 metros de altura e mais de duas toneladas de peso, para dentro de uma curva não é tarefa fácil.
O anterior modelo tinha um sistema de êmbolos que contrariava o rolamento da carroçaria, este Discovery adorna menos que o anterior, mas ainda se entorna um pouco e para dizer a verdade, está longe do comportamento do Audi Q7 ou até do soberbo Volvo XC90. Claro está que tudo isto não é demasiado importante pois se não arriscará colocar as rodinhas do carrito na lama ou na barragem, também não andará a abrir feito doido arriscando desmanchar o Discovery numa curva. Portanto, o Discovery chega para o que interessa.
O outro lado da moeda é a forma como ele avisa que estamos a abusar dele de forma descarada e o conforto. O Discovery é soberano quando rolamos em ritmo adequado. Subimos a fasquia e a direção começa a ficar mais vaga e com a chegada da inclinação da carroçaria, fica feito o aviso que a partir dali tudo se pode precipitar. O eixo dianteiro começa a perder aderência e os pneus (muito mistos e menos virados para uma utilização em alcatrão) começam a gritar até que entram em ação as ajudas á condução e recolocam tudo no lugar. A vantagem destes é que são muito discretos quando entram em ação e permitem que quem for sentado no banco ao lado acredite que sejamos um ás do volante. Ainda assim, tenho de lhe dizer que entre o aviso e a crise, fica uma alargadíssima margem de segurança. Mas não desafie as leis da física pois são mais de duas toneladas de carro.
Esquecendo as aventuras ao volante, o Discovery faz valer a sua vocação familiar oferecendo um conforto excelente, apesar das jantes de 21 polegadas com que este Discovery estava equipado. Absorve as lombas com facilidade e apenas senti alguma dificuldade numa estrada mais remexida e com piso mesmo mau, onde alguns barulhos e uma ou outra chegada ao limite da suspensão foi sentido. Nada de fundamentalmente errado, portanto, nem sequer é preocupação.
Veredicto
Se tiver bolso fundos, um barco de médias dimensões, tiver uma quinta no Douro ou no Alentejo ou tiver assistido pouca televisão nos último anos e alargou a prole além da média de dois rebentos por casal, o Discovery pode servir-lhe que nem uma luva. Não é o mais elegante dos SUV, é verdade, mas é luxuoso, está muito bem equipado, não é gastador e tem sete lugares. Além disso, tem capacidades todo o terreno que nenhum dos seus rivais sequer sonha. Se é suficiente para pagar mais 10 a 15 mil euros que os rivais, não sei. Quer dizer… sei. Não vale! E a este preço, se calhar mais vale comprar um Range Rover Sport que é mais ou menos a mesma coisa, mas com melhor aspeto e outro “pedigree”, mesmo que com menos equipamento. Na essência, o Land Rover Discovery é uma espécie de contraponto para a tendência de se fazer SUV cada vez maiores e mais desportivos, perdendo pelo caminho praticabilidade e capacidade fora de estrada. Resta saber se vale a pena pagar 100 mil euros para ser diferente…
FICHA TÉCNICA
Motor
Tipo – V6, injção direta, turbo diesel
Cilindrada (cm3) – 2993
Diâmetro x curso (mm) – 84 x 90
Taxa de compressão – 16,1
Potência máxima (cv/rpm) – 258/3750
Binário máximo (Nm/rpm) – 600/1750-2250
Transmissão, direcção, suspensão e travões
Transmissão – Tração integral, caixa automática 8 vel.
Direcção – direção de pinhão e cremalheira, com assistência elétrica
Suspensão (fr/tr) – Independente triângulos duplos e molas pneumáticas/independente multibraços com molas
Travões (fr/tr) – Discos ventilados/discos ventilados
Prestações e consumos
Aceleração 0-100 km/h (s) – 8,1
Velocidade máxima (km/h) – 209
Consumos Extra-urb./urbano/misto (l/100 km) – 6,5/8,3/7,2
Emissões de CO2 (g/km) – 189
Dimensões e pesos
Comp./largura/altura (mm) – 4970/1846/2073
Distância entre eixos (mm) – 2923
Largura de vias (fr/tr) (mm) – 1692/1686
Peso (kg) – 2223
Capacidade da bagageira (l) – 258
Depósito de combustível (l) – 85
Pneus – 275/55 R21
Preços
Preço da versão ensaiada (Euros): 100628€
Preço da versão base (Euros): €
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