Ensaio: Alfa Romeo Stelvio 2.0 280 cv AWD
O primeiro SUV da Alfa-Romeo apresenta-se finalmente na “arena” e com excelentes predicados para se integrar facilmente no segmento mais expansivo dos últimos anos. A mais potente versão a gasolina pode não ser a mais equilibrada para o mercado nacional, mas é, seguramente, a que mais deixa água na boca…
Texto: Filipe Pinto Mesquita
O olhar desconfiado do portageiro não engana e a pergunta surge num ápice: “Qual é mesmo o carro?”. “Alfa-Romeo Stelvio”, respondo convicto, mas sem surpresa, pela… surpresa do interlocutor! Sem perder tempo, agarra no manual de taxas de portagens e dispara: ´É Classe 1 e… bonito!”. Não disfarço um sorriso complacente, agradeço e arranco! Durante quatro dias, o diálogo em cada portagem não variou muito! O primeiro SUV concebido pela Alfa-Romeo causa surpresa, arranca suspiros, suscita inveja e aumenta o ego de quem o conduz! E fá-lo com a maior naturalidade do mundo. É certo que a marca de Arese se atrasou perante rivais de respeito, como o Porsche Macan, o Jaguar F-Pace ou os mais usuais BMW X3 ou Mercedes GLC, mas, de uma vez só recuperou o tempo perdido! A estética está de acordo com os padrões de beleza e pergaminhos da Alfa-Romeo, com a sua linhagem a ser imediatamente identificável para os fãs da marca.
Mas nesta estreia bem conseguida, a Alfa-Romeo está mais interessada em “sair da sua própria casca” e atingir o universo “extra-alfistas”. E não será difícil fazê-lo com a proporcionalidade das suas formas e o equilíbrio do seu design, logo como cartão de visita. Na versão mais musculada – a 2.0 Gasolina 280 cv AWD AT8 Q4 First Edition (é difícil perceber porque decidiu a Alfa Romeo pôr quase todas as características do carro na sua designação!) – o exterior parece “fluir” ainda melhor, dotada que está com jantes de alumínio de 20″, pinças de travões coloridas e faróis bi-xenon à frente e LED atrás.
Abertas as portas do Stelvio, o Mundo também parece sorrir, mas mais pela agradabilidade dos materiais, ergonomia dos diversos comandos e ampla visibilidade oferecida, do que pelo espaço, tanto à frente como atrás. Não que as cotas de habitabilidade sejam reduzidas, estando até em linha de conta com o que a concorrência também apresenta, mas não são referenciais no segmento deste tipo de SUV, sobretudo ao nível da capacidade da bagageira (que tem fundo plano e portão elétrico), que não ultrapassa os 525 litros. De fora, também fica o registo de qualquer “gadget” verdadeiramente inovador (exceção feita talvez ao quadro “Efficiente Drive” que monotoriza o estilo de condução e que dá para ver, por exemplo, quantas passagens de caixa já fez), sem que isso comprometa uma vasta lista de equipamento, com destaque para o ecrã de infoentretenimento de 8,8’’, Navi 3D, câmara de marcha-atrás, sistema Hi-Fi Sound Theatre, entre outros.
Não obstante, o Stelvio está longe de ser um automóvel banal! A posição de condução ideal é fácil de encontrar (com os bancos de regulação elétrica e com memória) e esse é um ponto de partida para se começar a extrair deste SUV o que de melhor ele tem para oferecer: o comportamento dinâmico! Fazendo jus ao ADN dos modelos da marca transalpina, o Stelvio, principalmente a versão mais potente até agora desenvolvida, revela atributos que o colocam ao nível de alguns automóveis de estatura mais baixa, graças ao excelente desempenho da suspensão, afinada mais a pensar no ataque das curvas, que no passeio de fim-de-semana. Incómodo? Não. O “seletor de conforto” instalado na consola central, que permite escolher entre o ADN pretendido – Advanced Efficiency, Neutral e Dinâmico – e que altera parâmetros como binário do motor, resposta do travão, relações de mudança de caixa e sistemas de segurança de controlo de estabilidade e de tração, torna-se mágico, dotando o Stelvio do tipo de personalidade que mais se adequar ao estado de espírito do condutor. E é quando este se encontra aplicado contra o “cronómetro” e à procura da máxima expressividade dinâmica, que o SUV da Alfa-Romeo melhores sensações deixa transparecer, uma vez que revela um comportamento homogéneo, seguro e até, poder-se-á dizer, desportivo, fruto de uma direção comunicativa, um amortecimento rígido capaz de neutralizar uma boa parte dos movimentos da carroçaria e, claro, de um motor 2.0 litros de 280 cavalos que engole rotações de forma voraz, auxiliado pela muito eficiente caixa automática de 8 velocidades, cujas bem dimensionadas patilhas no volante muito contribuem para tirar prazer em condução desportiva.
O facto do sistema Q4 ou a tração integral marcarem presença é também uma garantia de elevação da adrenalina já que o nível de motricidade é sempre elevado. Isto é válido tanto para as estradas de asfalto, como para as de terra, onde Stelvio não fica “nada mal na fotografia” e tem desenvoltura para ultrapassar alguns trilhos mais aventureiros. Destaque menos positivo fica para os consumos, que oscilam entre os 8.9 e os 14.2 litros (em ritmos muito elevados) já que quanto ao preço de 65.000 €, não se pode dizer que seja para qualquer
bolsa, mas adequa-se às qualidades do produto oferecido. Não é preciso ser “alfista de gema”, para perceber que a Alfa-Romeo soube interpretar de forma muito convincente a filosofia SUV!
FICHA TÉCNICA
Motor 2.0, 4 cilindros., inj. eletrónica, gasolina, 1995 cm3; Potência 280 cv/5250 RPM; Binário 400 Nm/2250 RPM; Transmissão integral, cx. automática 8 vel.; Suspensão triângulos duplos à frente e multibraços atrás; Travagem DV/DV; Peso 1660 Kg; Mala 525 litros; Depósito 64 litros; Vel. Máx. 230 km/h; Aceleração 0-100 Km/h 5,7 s; Consumo Médio 7,0 l/100 Km, Consumo AutoSport 8,9 l/100 Km; Emissões 161 g/Km
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