RENAULT ZOE ZE 40 – ENSAIO TESTE
Um enorme passo em frente!
O renovado Zoe manteve o que tinha de melhor o citadino elétrico, corrigindo aquilo que estava menos bem no carro, tornando-o numa interessante proposta elétrica.
José Manuel Costa ([email protected])
A Favor – Eficiência, autonomia, interior, opção de aluguer de bateria
Contra – Falta carregador rápido (só 50 kW), habitabilidade, ajustes dos bancos
Como já reparou, este ensaio não é convencional e não está dividido em áreas de apreciação pontuada, porque entendi que o meu querido leitor(a) anda a ser bombardeado com a eletrificação dos carros e 2020 será um ano charneira rumo à eletrificação. Por isso, decidi focar este ensaio nas questões práticas de utilização de um carro utilitário, que nasceu para ser uma geração do Clio e acabou como ponta de lança elétrico da Renault. Se gostar daquilo que lhe vou propor, deixe uma nota nos comentários, porque há por aí mais alguns carros que vão ser abordados desta forma.
Ficou quase igual
A renovação que a Renault impôs ao Zoe não é inocente. Lembra-se de algum utilitário totalmente elétrico nos últimos anos? Pois… mas os tempos de eldorado em que a Renault aproveitou para dominar o segmento e as vendas de veículos elétricos na Europa – mais de 35 mil unidades em 2018 e quase 45 mil vendidas em 2019 – estão a acabar. O engraçado Honda E está a chegar e a PSA está a fazer o cerco à casa francesa com o Peugeot e-208, com o DS3 Etense e o Opel e-Corsa, isto para não falar do Mini elétrico. Portanto, os dias de domínio solitário do Zoe estão a acabar.
A tentação de mudar a fórmula do Zoe era forte, mas a Renault manteve as dimensões iguais nos quatro metros de comprimento, não mexeu muito no estilo e na volumetria do carro e deixou tudo o que era bom intocado. A plataforma é a mesma desde 2012 e a maior diferença é mesmo o aumento da capacidade das baterias. Ainda assim, a Renault aproveitou para dar um “jeito” à frente do Zoe, deixando-o mais perto do resto da gama. Olhem, gostei! Já no interior, tudo está diferente.
Interior muito diferente
Como disse, o habitáculo do Zoe está totalmente diferente do anterior… e para melhor! Primeiro percebem-se os melhores materiais e maior abundância de plásticos revestidos e suaves ao toque. Depois, destaca-se um ecrã de generosas dimensões colocado na consola central. Os mais atentos já perceberam que por baixo do “tablet” estão os comandos da climatização vindos do… novo Clio. É verdade, a Renault elevou a fasquia e colocou muito daquilo que está no Clio no Zoe, deixando claro – juntamente com a alteração feita na frente que o coloca mais perto do Clio – que a casa francesa quer ligar os dois carros e assim alavancar as vendas do Zoe. Por isso mesmo é que há muito mais qualidade no interior, mais tecnologia e um desenho muito mais agradável.
Outra grande diferença reside na posição de condução: anteriormente, o banco estava fixo no que toca á altura e o volante não podia ser regulado em profundidade; hoje o banco continua a não regular em altura, mas o volante tem ampla regulação em profundidade. Ou seja, o Zoe pode ser encarado como um carro para usar fora da cidade que não vai ficar com cãibras nas pernas e nos braços.
O volante também é novo e atrás esta um ecrã de 10 polegadas totalmente digital que é oferecido em todos os Zoe, mesmo no mais barato. Claro que não tem opções de personalização, mas os grafismos são interessantes e a informação é clara e inteligível. A meio do carro lá está o “tablet” que não é de série em todos os Zoe (os mais baratos só como opcional) e tem 9,3 polegadas. Colocado na horizontal, destaca-se da consola, colocado numa posição que permite uma visualização mais fácil e um acesso simples. Depois há uma série de botões sem função por cima dos comandos da climatização, o que revela como o interior do Clio veio para o Zoe tipo “Plug and Play” e algumas coisas não são usadas no modelo elétrico.
Há várias portas USB, verdadeiras e não as novas USB-C, o carregador sem fios do smartphone, o botão do travão de mão e a alavanca da caixa. Dizer que o sistema de carregamento sem fios é lento, aquece bastante o telefone e este pode sair disparado pois não há uma barreira forte para impedir que ele saia do local.
Outra coisa que a Renault se preocupou no novo Zoe, foi onde encontrar espaço extra e como deixar a ideia que o Zoe é um carro responsável. Bom, o tabliê e a consola central é feita com o material resultante da reciclagem de garrafas de plástico e cintos de segurança. Um toque interessante e que apesar de ser um material reciclado, dá muito bom aspeto ao habitáculo, juntamente com os materiais de melhor qualidade que já referi.
O habitáculo do Zoe não aumentou e por isso a habitabilidade está na mesma e quem se senta atrás tem sempre algumas dificuldades para arrumar as pernas. As costas dos bancos não têm bolsas, por isso mesmo, mas a Renault poderia ajudar um nadinha com bancos redesenhados, mais finos e que oferecessem um pouco mais de espaço para os joelhos. Já espaços para arrumação há de sobra, nas portas, contrabalançando o pequeno porta luvas.
Comportamento saudável
Para um modelo elétrico, o Zoe tem um comportamento muito saudável e um conforto assinalável. Claro que em estradas mais degradadas, o Zoe anda ali meio tonto aos saltinhos, mas na maior parte do tempo – até porque as nossas estradas estão cada vez melhores em redor das cidades – o Zoe é muito composto e curva com à vontade. Consegue, mesmo, ser divertido, especialmente em cidade onde o binário imediato do motor elétrico permite ganhar corridas dos semáforos e a sua capacidade de recuperar a aceleração, autoriza que nos esgueiremos do tráfego. Ou seja, na cidade, o Zoe está como peixe na água, mas com o novo motor mais potente e a maior bateria, o citadino elétrico consegue, agora, ser divertido fora do casco urbano. Ai temos direito a uma direção leve e precisa e apesar dos 326 kgs da bateria, que levam o peso para os 1502 quilos, o Zoe é surpreendentemente ágil! É verdade, o Zoe consegue nos divertir e com a ajuda do binário imediato, tudo se torna mais interessante.
Para os mais conhecedores, o Zoe passa a ter o motor R135, ou seja, tem o equivalente a 135 CV e 245 Nm de binário, tornando o carro mais reativo, chegando dos 0-100 m/h em 9,5 segundos com uma velocidade máxima de 140 km/h. Claro que com estas características, o Zoe é menos eficiente que o anterior modelo, mas é bem mais espigado. A bateria de 52 kWh oferece uma autonomia é de 400 km, algo que é mais que o Honda e e bem mais que a dupla e-208/e-Corsa. Claro está que a Renault sabe que na vida real as coisas são diferentes e na realidade, aponta para uma autonomia de 370 km. Isto sem ligar a climatização, pois aí a coisa piora, muito, a autonomia que desce para os 238 km. O consumo energético não é o melhor e não consegui melhor que 18,9 kW/100 km, reclamando a Renault 17,7 kW/100 km. O quer isto dizer? Bom que será capaz de fazer 370 km sem grandes problemas e se carregar no botão Eco, o ar condicionado passa a assoprar e as limitações de performances são muitas. O pedal parece que foi desligado do carro e os ganhos são mínimos. Esqueça!
Já mais interessante é o modo “B”, inexistente anteriormente, que aumenta a capacidade de regeneração de energia. Curiosamente, não se pode desligar totalmente, pois sente-se uma maior desaceleração mesmo desligando o “B”. Quando este está ligado, não temos o “e-pedal” da Nissan, mas não fica muito longe. E se tiver algum cuidado e sensibilidade, poderá conduzir o Zoe quase sem tocar no travão.
Veredicto
O título diz tudo: um enorme passo em frente sem mudar aquilo que é essencial e que eram pontos positivos do Zoe. Tenho de tirar o chapéu aos homens da Renault que não se encostaram à “bananeira” confortável que é vender um em cada cinco carros elétricos comercializados no Velho Continente. Mais! A Renault, não estragando a relação custo/benefício e não levando o Zoe a perder dinheiro, conseguiu dar-lhe maior qualidade no habitáculo, uma frente nova que lhe assenta bem e mantendo a flexibilidade de comprar o carro com bateria ou alugando a mesma. Isso torna-o mais barato que os outros e mais flexível em termos de financiamento. E no final deste ensaio posso dizer que as novidades que estão a chegar – exceto o Honda e que a marca japonesa não me deu o prazer de ensaiar, por isso não sei o que vale – não vão tirar o Zoe do poleiro facilmente. Para si que quer abraçar a defesa dos ursos polares e ser mais um que se junta à guerra contra as alterações climáticas, tem aqui no Zoe um belo início de conversa. Um belo automóvel elétrico que é séria opção ao novo Clio.
Ficha técnica
Motor: elétrico R135; Potência máxima (CV/rpm): 135/4200 – 11.163; Binário máximo (Nm): 245; Transmissão: Dianteira; Direção: Pinhão e cremalheira assistida eletricamente; Suspensão (ft/tr): McPherson/eixo de torção; Travões (fr/tr): Discos ventilados; Aceleração 0-100 km/h (s): 9,5; Velocidade máxima (km/h): 140; Consumo misto (kW/100 km): 17,7; Emissões CO2 (gr/km): 0; Comprimento/Largura/Altura (mm): 4084/1730/1562; Distância entre eixos (mm): 2588; Largura de vias (fr/tr mm): 1506/1489; Peso (kg): 1502; Capacidade da bagageira (l): 388/1225: Capacidade da bateria (kWh) 52; Pneus (fr/tr): 195/55 ZR16; Preço da versão base (Euros): 23.690; Preço da versão Ensaiada (Euros): 27.490
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