Os ‘fortes avisos’ de Carlos Tavares, que os políticos da UE têm feito “ouvidos moucos”
Carlos Tavares, diretor executivo do Grupo Stellantis, falou esta semana para vários órgãos de comunicação social portuguesa, tendo igualmente estado no Congresso Nacional da Ordem dos Engenheiros, onde disse coisas muito importantes, que estão a ser dadas à estampa nas publicações generalistas.
Ainda bem.
Porque no seio dos ‘automóveis’, as palavras de Carlos Tavares há muito se fazem ouvir. O problema é que – especialmente – os políticos europeus agem com o ‘politicamente correto’, especialmente para eles e não ouvem quem os anda a avisar há longo tempo das consequências do que estão agora a tentar fazer com a transição energética.
Felizmente, e para falar só em Portugal, finalmente as suas palavras estão a chegar aos jornais generalistas, e o povo pode ficar a saber que os políticos europeus lhe estão a “fazer a cama”.
As palavras de Carlos Tavares são demasiado importantes para ser ignoradas e aconselhamos a todos ouvirem o que diz no vídeo em baixo.
Entretanto, vamos recordar uma entrevista que lhe fizemos em julho, em Vila Real, quando cá veio correr com o CEO da Alfa Romeo, Jean-Philippe Imparato.
Ei-la:
Carlos Tavares: “liberdade da mobilidade está em risco na Europa, os políticos têm que ouvir…”
Carlos Tavares, CEO da Stellantis, tem-se manifestado contra os políticos da União Europeia e contra as suas decisões, mas não está sozinho nesse caminho, pois há outros responsáveis que têm criticado a União Europeia por causa das medidas que têm tomado.
Por exemplo, a Volkswagen, a Ford, e não só. Uns dizem que as políticas da UE são “um tiro no pé” para a indústria automóvel europeia, outros que estão a “criar uma barreira injustificável” para as empresas da indústria automóvel europeia.
As críticas às políticas da UE foram particularmente fortes em relação à proposta da UE de proibir a venda de veículos a combustão a partir de 2035, que como se sabe foi alterada, passando a permitir a venda de veículos com motores de combustão interna que funcionem com combustíveis sintéticos.
A UE tomou esta decisão após pressão das empresas da indústria automóvel, que argumentaram que os combustíveis sintéticos são uma tecnologia promissora que pode ajudar a reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
A UE está a trabalhar com os Estados-membros para desenvolver um quadro regulamentar para os combustíveis sintéticos. O objetivo é que estes estejam disponíveis em quantidade suficiente a partir de 2035 para apoiar a transição para veículos elétricos…porque vai ser necessário. Quando lhe perguntámos como se pode por os políticos a ouvir as pessoas: “Penso que temos uma grande voz. A Stellantis tem 26.000 engenheiros, que fazem um grande trabalho científico. Somos uma grande empresa, mas também um alvo, é suposto sermos rigorosamente cumpridores e somos, mas como cidadãos, podemos ter uma perspetiva maior e liberdade para partilhar o nosso entendimento científico do futuro, com qualquer um que queira discutir isso connosco.
A propósito, criámos o Freedom of Mobility Forum, e a liberdade da mobilidade está em risco na Europa, do ponto de vista da acessibilidade económica, mas como empresa temos que estar em conformidade.
E se os líderes políticos não quiserem fazer perguntas, ou ouvir as nossas respostas, então não há nada que possamos fazer.
A imprensa tem que tomar uma posição, as pessoas nas redes sociais, e dizer, não, vocês governantes têm que ouvir essas pessoas, não forçosamente a Stellantis, pode ser outra, mas deviam ouvir, porque não o estão a fazer, e se não for colocada pressão nos políticos eles não se vão importar.”, disse, deixando claro que os políticos estão em alguns casos a tomar as decisões que os colocam mais bem vistos perante os seus eleitores, ao invés se escrutinarem melhor o que se está a passar e as consequências de eventuais políticas mal definidas…
Carlos Tavares é o CEO da Stellantis, é um grande fã de automobilismo e gere agora um grupo com 14 marcas: “A sociedade quer que nós vamos para os elétricos, e nós vamos, e usamos a eletrificação como um meio para maior competitividade, mais performance, mais binário, mais potência, mas no fim do dia as marcas têm que estar coordenadas com a sociedade em que operam, se a sociedade quer eletrificação, temos que ir e a Stellantis fornece a tecnologia, somos uma grande empresa, fornecemos a tecnologia os tijolos tecnológicos que depois as marcas podem usar, para cozinharem o seu próprio menu e rumar à sua própria direção.
Tecnologia é uma ‘Power House’ na Stellantis, que todas as 14 marcas podem usar, para cozinhar o menu que seja consistente com a visão do seu destino. Mas a tecnologia é uma consequência do que as pessoas querem, elas querem mobilidade limpa, segura, mobilidade acessível, a Stellantis fornece e as marcas traçam o seu destino”
Há muito que Carlos Tavares, CEO da Stellantis, se insurge face a algumas decisões da UE e ao AutoSport/Auto+ disse uma coisa muito simples: os políticos são nossos representantes na UE, se não concordamos, só temos de lhes dizer para fazer diferente. Como? Pelo voto…
Carlos Tavares, CEO da Stellantis, tem sido uma voz crítica de algumas decisões da União Europeia relativamente à indústria automóvel. Há muito que argumenta que muitas das políticas da UE estão a prejudicar a competitividade da indústria automóvel europeia.
Tavares tem criticado particularmente a proposta da UE de proibir a venda de veículos a combustão a partir de 2035 e argumentava que esta proposta era irrealista e que iria levar à perda de empregos e à redução da inovação na indústria automóvel europeia.
Ainda em 2021, Carlos Tavares disse que a proposta da UE de proibir a venda de veículos a combustão a partir de 2035 era “uma loucura” e que ia levar à perda de empregos e à redução da inovação na indústria automóvel europeia, e que por isso devia ser renegociada.
Na altura, Tavares advertia que “a decisão dogmática que foi tomada de proibir a venda de veículos térmicos em 2035 tem consequências sociais que não são controláveis”.
Tavares disse que forçar uma transição para veículos elétricos, que são mais caros do que os equivalentes a combustíveis fósseis ou híbridos, tornará a propriedade de um carro inacessível para muitos: “Se negarmos à classe média o acesso à liberdade de circulação, vamos ter sérios problemas sociais”, disse Tavares.
Recorde-se que a Comissão Europeia comprometeu-se depois das palavras de Carlos Tavares e da pressão da Alemanha, criar uma via legal para que as vendas de automóveis novos que funcionem apenas com combustíveis sintéticos possam continuar depois de 2035, o que oferece uma potencial tábua de salvação aos veículos tradicionais, embora neste momento os combustíveis sintéticos ainda não sejam produzidos em grande escala, sendo portanto, muito caros.
Neste contexto, a Stellantis já está a fazer testes de e-combustíveis numa série de famílias de motores de 2014 para cá, embora tenha salientado que “continuava empenhada” em vender apenas veículos elétricos a bateria na Europa até 2030: “Ao trabalhar para garantir que os nossos motores Stellantis são compatíveis com os combustíveis sintéticos pretendemos dar aos nossos clientes mais uma ferramenta na luta contra o aquecimento global”, disse há algum tempo Carlos Tavares, em comunicado de imprensa.
Agora, em conversa com o AutoSport/Auto+, assegura que as pessoas devem estar mais atentas ao que andam a fazer os políticos da União Europeia, pois arriscam-se a tornar impossível a mobilidade para muitos milhões de pessoas que não vão conseguir adquirir carros que possam circular, e isso é algo que, num país como Portugal ainda é mais crítico, pois é enorme a percentagem de carros com mais de 20 anos a circular nas estradas: “Temos que observar”, alerta: “Somos todos europeus e tudo o que estamos a executar agora, foi decidido pelas pessoas no parlamento Europeu e as pessoas que estão sentadas no Parlamento Europeu foram selecionadas por nós todos.
São os nossos representantes no Parlamento Europeu, decidiram coisas que depois o Conselho Europeu aprovou. E tornou-se lei e assim que se tornou lei, nós tivemos que cumprir, portanto o ponto é muito simples: se queremos mudar alguma coisa temos de votar de forma diferente, ou temos de dizer aos nossos representantes que não concordamos com o que eles estão a fazer. O que está a acontecer foi despoletado pelo Parlamento Europeu, e foi aprovado pelo Conselho Europeu e pela Comissão Europeia, e essas pessoas é suposto serem os nossos representantes. Portanto, se nós os cidadãos não queremos ir nessa direção temos que dizer aos líderes políticos que discordamos, e a melhor forma de o fazer é votar de forma diferente para o Parlamento Europeu pois é onde as decisões são tomadas”, disse.
Carlos Tavares e os e-fuels: “já temos uma autoestrada que podemos estudar…”
Apesar dos desafios, os combustíveis sintéticos têm o potencial de desempenhar um papel importante na descarbonização. Devem ser usados em conjunto com outras medidas de descarbonização para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e com isso mitigar as mudanças climáticas. Os combustíveis sintéticos podem ser usados em motores de combustão interna, como os que estão atualmente em uso em carros, camiões e aviões.
Mas para já são caros de produzir. O custo de produção está a diminuir, mas ainda é preciso desenvolver tecnologias mais eficientes para tornar os combustíveis sintéticos mais acessíveis: “os e-fuels devem tornar-te neutrais em carbono e ainda não são neste momento. Tem que se trabalhar mais para o tornar neutro. E a segunda questão é que, para já é caro. Portanto não é uma solução para a classe média e nós temos que encontrar uma solução para a classe média. Porque senão, a classe média vai perder a sua mobilidade e isso iria redundar num grande problema social.
Ainda é cedo, há empresas muito poderosas a trabalhar nesse sentido, e nós não sabemos o que pode acontecer numa questão de anos, para já ainda não estamos lá, mas pelo menos já temos uma autoestrada que podemos estudar…
Carlos Tavares e a pergunta a que os políticos fogem: “quantos anos serão precisos para substituir 1.4 biliões de veículos a combustão?
Há muito se sabe da necessidade da indústria automóvel em todo o mundo reduzir as emissões de gases de efeito estufa, e esta tem estado a fazê-lo a reboque do que os políticos têm vindo a decidir, mas os responsáveis da indústria têm vindo a alertar para as consequências sociais que essa transição vai provocar e não estamos só a falar entre os construtores, devido ao brutal aumento de custos.
Carlos Tavares alerta que se a classe média perder a sua mobilidade isso vai redundar num grande problema social.
Não tem faltado quem alerte os políticos que estão a fazer mudanças sem se preocuparem com as consequências, e estes só não fazem ouvidos moucos à pressão dos seus eleitores.
É por isso que Carlos Tavares alerta para a pressão que as pessoas têm que fazer nesses políticos para que estes tomem as decisões certas.
E Carlos Tavares traz a lume uma questão que se devia estar a falar muito, mas que pouco se ouve: “Não há nenhum líder político que levante essa questão: neste momento em todo o planeta, temos 1.4 bilhões de veículos, que são ICE, motores de combustão. Mesmo que se vendam 50% de 80 milhões de carros por ano, como elétricos, quantos anos serão necessários para substituir 1.4 biliões de veículos? Seja como for é preciso uma solução para esses veículos e até agora não há…”, disse.
Carlos Tavares e a ‘ofensiva chinesa’: “vai ser muito duro e vai haver consequências na sociedade”
Não é de agora que o CEO da Stellantis, Carlos Tavares vê a indústria automóvel europeia numa encruzilhada em relação aos seus rivais chineses. Estes chegam à Europa com custos de produção 25% mais baixos, e com isso a indústria automóvel europeia poderá ser forçada a reduzir massivamente a sua capacidade de produção face à crescente concorrência da China.
Perguntámos a Carlos Tavares o que pensa dessa ‘ofensiva’ chinesa e como é que se pode lidar com isso? “Essa é uma questão que se deve pôr aos políticos! Se nos perguntarem se na Stellantis temos receio, não. De modo nenhum! Vamos lutar. Mas sabemos que vai ser muito duro e vai haver consequências na sociedade. Lutar contra os chineses significa que temos de lidar com 25% de vantagem competitiva que eles têm portanto vai ser uma luta dura.
Quando se trata de falar de mudanças, todos concordam com elas, desde que seja para o vizinho! Não para eles próprios. Os europeus não sabem o que significa mudança.
Quando começarmos a ter de mudar na luta contra os chineses, isso vai ser muito duro, e pode colocar em risco construtores europeus.
Na Stellantis estamos confiantes que somos os mais resilientes na Europa, de longe.
Mas basta ver nos últimos dias o que Volkswagen tem dito. Vai ser mesmo muito duro.
E eu digo, quando os líderes políticos virem quão duro vai ser, vão ter receio, porque vai haver consequências.
Quando se mantém o mercado aberto, convida-se os construtores chineses que têm uma vantagem competitiva de 25%, e de momento temos de digerir 40% de custos superiores, que é o custo da eletrificação, é uma grande, grande divergência.
Vamos lutar porque temos essa capacidade, mas quando as pessoas me perguntam, o que vai ser das fábricas, dos empregos, quem sabe? Quem sabe? Isto vai ser super difícil.
Mas foi decidido pelos políticos europeus e pelo Parlamento Europeu com as pessoas em quem votamos. As pessoas que estão sentadas no Parlamento Europeu, porque nós votámos nelas. Portanto o que é que nós cidadãos queremos dizer a estas pessoas?
Essa é a questão…
Os políticos têm que fazer alterações já, senão as pessoas vão sofrer.
Têm que o fazer. Têm que ouvir as pessoas, têm mesmo, isto vai ser muito duro, e na Stellantis estamos preparados para isso.
Temos a tecnologia, temos as soluções low-cost, temos os modelos, as marcas a estratégia de Marketing, nós estamos preparados para a luta, mas ninguém na Europa deve pensar que isto vai ser fácil, vai haver consequências, mas os políticos decidiram e nós temos que fazer. Nós votamos neles, e se não dissermos que estamos em de acordo, é com eles…
Carlos Tavares diz que eleições na UE e nos EUA podem “fazer mudar políticas”
O CEO da Stellantis, Carlos Tavares, diz que as eleições na UE e nos EUA podem desacelerar as vendas de carros elétricos. Tratam-se das eleições para o Parlamento Europeu em junho e as eleições nos EUA em novembro que segundo o CEO da Stellantis podem fazer mudar políticas, e com isso a empresa pode ter também de mudar a sua estratégia “se a opinião política e pública tender para menos carros elétricos”, disse Carlos Tavares à Automobilwoche, à margem de uma conferência de imprensa na fábrica de Mirafiori, em Torino. Tavares refere-se às eventuais consequências de uma reversão na regulamentação do CO2 na Europa ou nos EUA, pois visões muito distintas do mesmo problema pode causar uma inversão total, ou muito significativa dos planos para já traçados.
Já se nota alguma desaceleração nas vendas de carros elétricos, o mercado espera agora por modelos melhores e mais baratos e embora seja certo que o investimento em veículos elétricos vá continuar forte na Europa.
Esta semana em Portugal, repetiu muito do que já nos tinha dito. Como combater a invasão chinesa, referindo-se à vantagem de custo de 30% à saída das fábricas na China, e agora no Congresso Nacional da Ordem dos Engenheiros, disse algo que fez ‘tremer’ muita gente: A Europa está a “impor venda de veículos elétricos que a classe média não pode comprar”, referindo-se ao que já nos tinha dito: “se a classe média perder a sua mobilidade isso vai redundar num grande problema social”. Agora falou na transição para a mobilidade elétrica na Europa, onde não se está a acautelar a necessidade de uma “mobilidade limpa, segura e acessível para a classe média”, colocando em risco um dos pilares da democracia, que é o da liberdade de movimentos para todos.
Na conferência da Ordem dos Engenheiros, Tavares disse: “a demagogia e o dogmatismo, que são dois dos principais problemas na Europa”, mas disse mais, está tudo no vídeo abaixo:
“Não se pode dizer ‘amanhã de manhã, já não pode utilizar o seu automóvel. Porquê? Porque eu lhe disse!’”
“se se for buscar ao parque de veículos em circulação um carro com 15 ou 20 anos, tirando-o do mercado e criando um subsídio para um carro mild hybrid, as emissões [de CO2] vão passar de 300 para 100 gramas.”
“quer-se impor a venda de veículos elétricos que custam entre 35 e 40 mil euros. Portanto, a classe média não pode comprar. Logo, não há volume, não há impacto e não se trata do problema do planeta”
Ensaios: consulte os testes aos novos carros feitos pelos jornalistas do Auto+ (Clique AQUI)
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