OPINIÃO: Descarbonização da economia: porque precisamos de combustíveis de baixo carbono?
Por António Comprido, Secretário Geral da Apetro
Embora o tema esteja quase omnipresente no nosso quotidiano, nomeadamente com a realização e conclusões da COP 28, gostava de expressar a minha opinião. No entendimento de muitas pessoas menos familiarizadas com a temática dos combustíveis, esta designação é confundida com combustíveis obtidos a partir de petróleo bruto, isto é, de origem fóssil. Isto leva muitos, alimentados pela narrativa de alguns, a acreditar que a descarbonização só se consegue com a eletrificação total da economia.
Este conceito encerra alguns mitos e equívocos, criados por ignorância ou deliberadamente, deixo o benefício da dúvida, que convém esclarecer. A eletrificação só conduziria à descarbonização da economia, se fosse apenas obtida a partir de fontes primárias renováveis, como são os casos da biomassa, água, vento e sol. Mesmo assim, não seria totalmente isenta de emissões, já que o processo de fabrico e a manutenção dos equipamentos que permitem captar essas fontes primárias e transformá-las em eletricidade “verde”, bem como transportá-la até aos lugares de consumo, podem eventualmente consumir apreciáveis quantidades de energia de origem não renovável.
Convém sermos claros nesta matéria: não temos dúvidas que a eletricidade terá uma quota crescente no cabaz da energia final e é um dos caminhos para acelerar a transição energética e reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, contribuindo para a sustentabilidade climática do sistema energético. Mas, a esta dimensão da sustentabilidade há que juntar as vertentes ambiental, económica e social, bem como a questão crucial da segurança do abastecimento e da consequente qualidade de vida a que nos habituamos. Por isso, advogo que é um erro desprezar todas as soluções que poderão contribuir, e nalguns casos acelerar, o processo em que todos estamos empenhados.
É aqui que entram em jogo os combustíveis de baixo carbono. Numa análise de ciclo de vida completo, incluindo a produção e utilização desta forma de energia final, bem como dos equipamentos que a permitem utilizar, eles podem apresentar benefícios significativos que os tornam um complemento indispensável à eletrificação. E passo a citar algumas das suas vantagens. Podem ter emissões líquidas quase zero, pois o CO2 que emitem na sua utilização corresponde ao que foi capturado pela matéria-prima que lhes deu origem. Permitem a utilização de infraestruturas existentes para a sua produção e de equipamentos para a sua utilização, minimizando o investimento necessário e evitando a criação de ativos improdutivos. Permitem que, no imediato, todos possam contribuir para a descarbonização da economia, sem ter de esperar pela construção de novas infraestruturas e pela aquisição de novos equipamentos de consumo, em todos os setores de atividade, incluindo a mobilidade, a indústria e a climatização. Aumentam a diversidade de fontes energéticas e, consequentemente, a segurança do abastecimento, tornando-nos menos dependentes de países detentores das tecnologias e de muitas matérias-primas essenciais. Contribuem para a economia circular, aproveitando resíduos e desperdícios como matéria-prima para a sua produção. E, não menos importante, aumentam as possibilidades de escolha dos consumidores, quer privados quer empresariais, tornando-os participantes ativos e não forçados nesta importante jornada.
Terminaria com uma recomendação: não afunilemos os caminhos que a ciência, a tecnologia e os mercados nos podem proporcionar. Não criemos políticas e regulamentos que impeçam o desenvolvimento desses vários caminhos. Deixemos que os méritos das várias soluções e a escolha das pessoas, sejam os critérios que levem à adoção das que melhor se adaptam às suas necessidades, sem comprometer os objetivos da descarbonização. Sim, precisamos de eletrões verdes, mas vamos também precisar de moléculas verdes.
Como dizia Henry Ford, em 1925, “the fuel of the future is going to come from fruit like that sumac out by the road, or from apples, weeds, sawdust – almost anything”.
FOTO Freepik
Ensaios: consulte os testes aos novos carros feitos pelos jornalistas do Auto+ (Clique AQUI)
0 comentários