Clássicos, Lancia Delta S4: Brutal!
Chama-se Delta porque o departamento de marketing do grupo Fiat assim o exigia, pois este Lancia não possui virtualmente nada que o ligue ao Delta de produção, um carro de motor e tracção dianteira. O Delta S4 possuía um chassis tubular em cromo-molibdénio com suspensões de duplo triângulo sobreposto com um conjunto mola/amortecedor na frente, dois amortecedores e mola separados atrás. O motor é central traseiro e a tração é feita às quatro rodas. O Delta S4 tinha a carroçaria feita em fibra de carbono com amplo acesso às partes dianteira e traseira graças a generosas tampas. As portas eram igualmente realizadas em fibra de carbono.
O carro de série – dos quais foram feitas apenas 200 unidades – era menos radical, exibindo pára-choques à frente a atrás. O modelo de série exibia eixos de aço – o de competição tinha-os em titânio – enquanto como sucedia no carro de competição, o compartimento do motor estava totalmente isolado do habitáculo para criar maior refrigeração para o motor, alimentado de ar pelas enormes entradas colocadas no topo da tampa traseira e atrás dos vidros.
A transmissão usava um diferencial central epicíclico que era o responsável por distribuir o binário entre os dois eixos nas proporções 25/75 até um máximo de 40/60 (fr./tr.). Para melhorar a distribuição de pesos e aproveitar os espaços disponíveis, o depósito de combustível estava dividido em duas partes colocadas por baixo e nas costas dos bancos, sendo o acesso ao bocal de enchimento apenas possível pela abertura da enorme tampa traseira.
A caixa de velocidades está montada à frente do motor, colocando-se entre os dois bancos, tendo de cinco velocidades. Porém, o grande destaque deste Delta S4 é mesmo o motor. O bloco de quatro cilindros e 1.8 litros foi escolhido para se enquadrar na regulamentação FIA.
Que na época dizia que um motor sobrealimentado tinha um fator de conversão de 1.4. Ora, para ficar na categoria abaixo dos 2500 c.c., cujo peso mínimo era de 890 quilogramas, os técnicos da Lancia fizeram um bloco em alumínio com 1759 c.c.. Largamente baseado no motor que deu vida ao 037, este bloco contava com algumas particularidades interessantes. Primeiro a utilização da cerâmica ligada com o alumínio para fazer as paredes dos cilindros, assegurando assim um melhor rendimento térmico e maior resistência ao desgaste. Depois a dupla sobrealimentação.
No 037, a Lancia tinha utilizado um compressor volumétrico para evitar o alargado tempo de resposta que os motores turbo exibiam na época. Com essa técnica os engenheiros da Lancia conseguiram anular essa dificuldade ao mesmo tempo que extraiam do bloco respeitáveis 350 cv.
Mas não era suficiente e para o Delta S4, os homens da Lancia foram mais longe e colocaram um turbocompressor em paralelo com o compressor volumétrico. Este assegurava a pressão necessária para ter mais de 300 cv, um binário elevadíssimo nas baixas rotações e anulava o tempo de resposta do turbo a baixas rotações, pois este apenas entrava em acção acima dos regimes intermédios. O carro de série não teria, oficialmente, mais de 250 cv mas todos concordam que o valor seria mais próximo dos 350 cv.
A versão de competição tinha, também números oficiais, 550 cv. Mas com acelerações 0-100 km/h, em piso de terra, de 2,3 segundos, o valor da potência do S4 andaria acima dos 750 cv. Muitos radiadores e “intercooler” eram necessários para arrefecer esta mecânica tão poderosa e por isso é que o S4 não tinha espaço para bagagens.
Para conter o ruído, o carro de série tinha apenas uma saída de escape, onde convergiam os gases produzidos pela combustão e os que saiam da “wastgate” ou válvula de descarga. No carro de competição, essa descarga era feita diretamente sem passar pelo escape tradicional.
O interior do Delta S4 era refinado, com revestimentos em alcântara, volante em pele, bancos semelhantes aos da competição, mas forrados em alcântara e generosa informação sobre a mecânica. A qualidade de construção é que deixava a desejar, o que tem tido reflexos negativos na vida dos poucos exemplares que restam no Mundo. São poucos e como não poderia deixar de ser,
caros. Mas este foi um dos precursores dos “superdesportivos” e ficará para sempre ligado a um extraordinário piloto: Henri Toivonen que pagou com a vida o preço de andar tão depressa com uma máquina feita para ganhar ralis.
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