O pequeno Sion equipado com painéis solares já não vai ser produzido

O projeto da empresa alemã Sono Motors que pretendia lançar no mercado um automóvel com painéis fotovoltaicos integrados na pintura foi encerrado, o que permite à marca focar-se apenas na sua tecnologia.

Ainda que não fosse muito conhecido do público em geral, o projeto “Sion” da Sono Motors parecia reunir condições para chegar ao mercado e fazer parte deste novo mundo eletrificado com uma nova ideia que parece continuar a não ser muito explorada, a dos automóveis equipados com painéis solares. Até agora, a grande maioria dos sistemas utilizados tem uma dimensão bastante compacta, por ainda ser uma tecnologia cara de integrar numa produção em série e tem estado destinada a equipar apenas equipamentos de conforto e não o sistema elétrico de um automóvel que se move usando apenas eletricidade. Tirando a Lightyear dos Países Baixos, que está a recuperar de um processo de insolvência para tentar fazer regressar o seu Lightyear 2 à produção, mais nenhum construtor de automóveis parece querer apostar nesta solução.

O pequeno Sion da Sono Motors, no entanto, ia um pouco mais longe no que diz respeito à tecnologia de captação de energia solar. Em vez da simples instalação de painéis fotovoltaicos, a Sono Motors criou uma forma de integrar estes pequenos painéis na própria pintura do carro, sendo ainda mais complicados de produzir é certo, mas com a grande vantagem de conseguirem alcançar todo e qualquer centímetro quadrado da carroçaria, permitindo uma maior capacidade de captação de energia e com a vantagem de a poder enviar para a bateria do sistema elétrico, aumentando a autonomia do Sion.

E para termos uma ideia de valores, a Sono Motors chegou a fazer um teste solar de Inverno em condições reais, em dezembro, o mês com menos luz do dia, na zona de Munique, em que conseguiu atingir um alcance solar puro calculado de 28 quilómetros por semana. Segundo a empresa, isto significa que este sistema seria capaz de alcançar uma média de 5.800 km de alcance solar na área desta cidade alemã, graças à integração única dos módulos solares em toda a carroçaria. Em zonas como Portugal, por exemplo, o valor seria certamente substancialmente maior. E tudo com energia 100% limpa e num automóvel compacto, perfeito para uma utilização citadina.

Seja como for, para já, não vai acontecer. Por motivos relacionados essencialmente com custos de produção, a Sono Motors optou por encerrar o seu projeto de automóveis de passageiros e focar-se apenas na sua tecnologia de painéis solares integrados, que já conta com 23 clientes em toda a Europa, Ásia e Estados Unidos e já está a ser utilizada em diversos autocarros e camiões, mas também automóveis OEM de outras marcas, veículos refrigerados e veículos recreativos. Os operadores de frotas podem beneficiar da integração da tecnologia da Sono Motors para poupar combustível, custos e CO2, contribuindo assim para a luta contra as alterações climáticas através de uma redução das emissões de gases com efeito de estufa.

Aliás, o potencial da tecnologia da Sono Motors foi validado não só pelas parcerias comerciais da empresa, mas também pela União Europeia, uma vez que, em janeiro deste ano, a Sono Motors obteve um financiamento de 1,46 milhões de euros da “European Climate Infrastructure and Environment Executive Agency” (CINEA) para fazer avançar o desenvolvimento da sua tecnologia solar.

“Este é um passo significativo no desenvolvimento empresarial da Sono Motors”, referiu Laurin Hahn, cofundador e CEO da Sono Motors. “Apesar de termos de terminar o nosso projeto original, o programa “Sion”, deslocando todo o nosso foco para soluções solares B2B, oferece-nos uma oportunidade de continuar a criar produtos inovadores com esta tecnologia. Foi uma decisão difícil e, apesar de já existirem mais de 45.000 reservas e pré-encomendas para o Sion, fomos obrigados a reagir à instabilidade do mercado financeiro em curso e a racionalizar o nosso negócio”. Esta, infelizmente, é também uma decisão que vai levar ao despedimento de, aproximadamente, 300 trabalhadores.