Entrevista a Chris Harris: “filmar no Autódromo do Algarve foi a melhor semana de trabalho da minha vida”
Nasceu há 45 anos em Beaconsfield, nos arredores de Londres, filho de uma piloto de ralis pelo que no sangue corre gasolina, e a paixão pelo automóvel nasceu no berço. “Adoro carros desde tenra idade, comprei o meu primeiro carro mal tirei a carta e tendo uma mãe que era piloto, a paixão pelos automóveis nasceu cedo.” Chama-se Chris Harris e esteva à conversa comigo sobre a sua vida e a sua prestação no Top Gear.
Christopher James Harris celebrizou-se pela sua presença no YouTube, onde o seu canal “Chris Harris on Cars” tem mais de 440 mil subscritores, construído depois da sua saída do canal The Drive, onde mais de 3,5 milhões de visualizações lhe deram a visibilidade necessária.
Mas muito antes disso e da aventura TopGear, Chris Harris começou a sua carreira na prestigiada revista britânica Autocar. “É verdade, comecei nessa revista como estagiário, onde passei tempos muito bons.” Recordamos que Chris Harris foi subindo dentro da hierarquia da Autocar e chegou a editor dos ensaios. “Foram tempos muitos bons!”
A sua escrita acutilante e franca foi construindo a sua credibilidade e a reputação como jornalista. O seu período na Autocar acabou em 2008 e “acabei por fundar em projeto meu que acabou falido por causa da crise mundial da época.” O projeto de que era co-fundador chamava-se “Drivers Republic” e fechou passado um ano, divergindo as opiniões sobre esse facto: um comunicado explicava que tinham sido diferenças de opinião sobre as prioridades do futuro, Chris Harris confessou-nos que foi a crise que espoletou tudo isso.
A saída profissional para Chris Harris foi o regresso às revistas e entrou para a Evo, onde publicou o seu primeiro artigo em outubro de 2009. Mas o seu futuro não estava ali e Harris, como ele diz, “tive a oportunidade de entrar no YouTube naquilo que me pareceu uma ideia interessante”. O próprio reconhece que foi a viragem na sua vida, pois “o YouTube deu-me uma visibilidade que nunca imaginei ser possível.”
Naturalmente que estando exposto e a fazer um excelente trabalho com os ensaios cheios de técnica de condução e uma expressividade inaudita, quando a BBC procurava um apresentador “no universo do automóvel, olharam para o YouTube e lá estava eu, tinha excelentes audiências e deram-me a oportunidade.” Modesto, Chris Harris disse mais que uma vez “foi sorte, apenas sorte, mas resultou! Mas foi sorte, muita sorte!”
Claro que não foi apenas sorte, pois a BBC não oferece essas oportunidades sem a necessária qualidade e talento, pelo que o trabalho árduo que o apresentador do Top Gear desenvolveu nos tempos do “Drive” e mais recentemente no “Chris Harris on Cars” foram os maiores contribuintes para o sucesso que desfruta.
Não quer isto dizer que substituir personagens como Jeremy Clarksson, James May e Richard Hammond seja a coisa mais fácil do mundo. “É um trabalho que não é nada fácil, pois o Top Gear é uma espécie de instituição nacional e internacional, tinha três apresentadores carismáticos e muito populares, por isso substituí-los seriam sempre muito complicado e uma tarefa difícil.”
Não se pode esconder que o programa perdeu o norte no primeiro ano órfão dos três “estarolas” com alguns erros de casting, mas agora parece ter encontrado o rumo certo. “Acho que com a chegada do Paddy McGuiness e do Freddie Flintoff, o programa ganhou bastante e estão a fazer um excelente trabalho, as audiências no Reino Unido subiram e as pessoas estão a divertir-se com o programa. E eu estou a adorar!” Tanto que Chris Harris não se coíbe de dizer que “se quando tinha 17 anos, alguém me dissesse que no futuro iria ser apresentador do Top Gear, nunca, mas nunca iria acreditar.”
Mas a verdade é que Chris Harris é o apresentador do Top Gear na companhia de Paddy McGuiness e Freddie Flintoff. O primeiro é um comediante de créditos firmados que apresenta o programa “Take me Out”, caracterizando-se pelo sotaque. O segundo foi um jogador de cricket internacional pela Inglaterra, sendo hoje apresentador de televisão e rádio.
Portanto o fardo de substituir os míticos apresentadores e estar no meio de tantos profissionais da apresentação e da representação, deve ser pesado. Será que Chris Harris consegue gerir isso. “Acho que descreveste isto da melhor forma que já ouvi! É isso mesmo! Sabia que aceitar o trabalho poderia ser a mesma coisa que um frasco de veneno numa garrafa bonita, mas que bebendo poderia me liquidar (risos). Felizmente acabou por ser uma bênção e não um pesadelo.”
Inevitavelmente, teria de saber se Chris Harris, no meio destes profissionais da apresentação e da representação, se sente mais um ator ou um jornalista. “Definitivamente, sou um jornalista! Não sou um ator, não tenho jeito (risos). Respondo genuinamente às situações que me são colocadas.” E aquelas coisas todas que vão acontecendo, são mesmo verdade? “Os produtores colocam-nos em situações limite, sim, mas só assim há uma realidade que dá mais sabor ao programa. Acreditem que eles criam situações assustadores, complicadas, aterradoras e largam lá os apresentadores e depois registam as nossas reações. E é isso mesmo, não há outra forma senão reagir ao que nos propõem.”
Isso acaba por ser uma mudança radical, pois sabíamos que anteriormente, tudo era muito bem encenado. Será que isso mais valia para o programa, essa genuinidade de reações? “Sim, acho que é uma mais valia e que é bom para o Top Gear, pois fazemos coisas diferentes do que eles faziam, pois não podíamos ter a veleidade de imitar o que já estava feito. Temos de ser nós próprios e ser diferentes, pois de outra forma não iria funcionar.”
Para Chris Harris, “a televisão está a mudar bastante e as pessoas querem, agora, mais ‘reality shows’ e menos encenações, menos performance cénica e mais espontaneidade. Claramente, as pessoas não têm paciência para ver coisas encenadas.” Não podia deixar escapar um dos episódios mais divertido, filmado na Etiópia. Lembram? Aquele em que havia uma camisola de lã super quente que tinha de ser usada por quem perdesse as diversas provas realizadas. Se Freddie Flintoff a usou no primeiro desafio, Chris Harris teve de andar com ela vestida durante quase todo o episódio. Foi assm mesmo?
“Podem ter a certeza! A camisola era muito quente e debaixo daquele calor, passei mesmo mal. Claro que a produção e a equipa médica não me deixariam morrer, mas sofri a bom sofrer com a brincadeira (risos)! As vezes que sai do carro e quase cai desmaiado, foram verdadeiras!” Lembrei também a brincadeira com os choques elétricos, “sim, a realidade do programa está aí bem plasmada. Os choques foram reais e foram horríveis (mais risos).”
Chris Harris tem um passado na competição automóvel, tendo
ganho a sua primeira corrida na Fórmula Palmer em 2000, mas passou por várias
disciplinas e carros tão diferentes como o Porsche 911 Cup e Renault Clio 2.0
RS, Aston Martin Vantage e Rover SD1, o Fórmula Ford VanDiemen FF1600 e o
Bentley Continental GT e, ainda o McLaren 650S GT3. Lógica a pergunta: quando
teremos o Chris Harris de volta à competição?
“As corridas estão numa espécie de hibernação. Tinha a esperança de fazer esta ano algumas corridas, mas não há certezas quanto ao regresso das provas. Se regressarem, talvez faça uma corrida em Spa Francorchamps.” Tanto ele como eu desejamos “o regresso rápido das corridas, para o bem dos adeptos da competição, para as equipas e para os pilotos.”
Com a entrevista a chegar ao final, Chris Harris teve tempo para confessar que “uma das pistas que mais gosto é a de Portimão (Autódromo Internacional do Algarve) onde já fiz muitas filmagens.” E qual foi o melhor carro que ensaiou? “Posso dizer que a melhor semana de filmagens que tive foi em Portimão com o McLaren P1, o Ferrari La Ferrari e o Porsche 918 Spyder.” E para quem já testou tanto carro de sonho, qual é o carro de sonho de Chris Harris? “O meu carro de sonho muda todos os dias, devido á minha profissão, mas neste momento gostaria de ter um Ferrari 288 GTO, preto! Seria o meu carro de sonho.”
Fechada a conversa, tempo para Chris Harris deixar uma mensagem para os espectadores do Top Gear, que agora passam a vê-lo, regularmente, às terças feiras no canal Blaze TV no cabo. “Quero dizer muito obrigado a todos por verem o programa! Divirtam-se a ver o novo Top Gear, de preferência juntem a família convosco, tentem conhecer mais sobre os carros, mas, sobretudo preparem-se para viajar ao redor do mundo sem sair do sofá!”
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