Os “teimosos” da faixa do meio
Estou
a caminho de Elvas na A6 a 120km/h, muito pouco transito, e círculo como manda
a lei, na faixa da direita. Durante 3 ou 4 quilómetros não alcancei nenhum
outro carro, mas a dada altura começo a vislumbrar um ponto branco lá ao fundo
e sei que vou aproximar-me de um outro veículo mais lento. Ao fim de mais um
quilómetro estou já a 300m do tal carro que, reparo agora, circula na faixa do
meio em velocidade mais lenta. Faço sinais de luz para o avisar da minha
presença. Não reage, mantem-se na mesma faixa no meio da auto-estrada. Na
prática não tenho qualquer obstáculo na minha frente, pois circulando na faixa
da direita eu não tenho ninguém na minha frente, posso continuar calmamente na
minha velocidade e ultrapassar pela direita, o “teimoso” que segue à minha
frente a 20 km/h menos do que eu. Vou fazê-lo? Eu devia dar-lhe esta lição,
pois ao ver-me a passar pelo lado errado, talvez este condutor irresponsável,
consiga compreender que está na via errada, talvez ele aprenda alguma coisa com
isto.
Mas
o que a lei manda é que ultrapasse sempre pela esquerda, pelo que tenho de sair
da faixa da direita, cruzar 2 faixas, ultrapassar o carro mais lento pela
esquerda e voltar tudo para a direita para me situar novamente na faixa da
direita.
300m
mais à frente, a situação repete-se, pois, na verdade a grande maioria dos
portugueses gosta de circular no meio das auto-estradas. De Lisboa a Elvas num
sábado de manhã, a 120km/h ultrapassei 23 carros mais lentos, sendo que 15
deles circulavam na faixa do meio, 3 doutros seguiam pela faixa da esquerda
(pasme-se!!!) e apenas 5 circulavam corretamente pela direita.
Tendo
em conta esta estatística, que obviamente não é representativa da realidade
portuguesa, mas anda lá perto, o caro leitor que neste momento me lê, muito
provavelmente é um dos condutores que se sente melhor na faixa do meio!!!
Pois
se esse é o caso, não vou certamente elogiá-lo pois esse é um hábito que não só
não tem qualquer razão válida que o justifique, como é contra as regras do
Código da Estrada.
As
grandes questões que eu gostaria de ver respondidas, e talvez o estimado leitor
possa usar a área de comentários no final do artigo para nos esclarecer, são as
seguintes:
-Porque
é que gosta tanto de circular no meio? Sente-se mais seguro, gosta de
dificultar a vida dos outros que seguem mais depressa? Qual é a vantagem para
si, uma vez que à velocidade em que circula, não vai certamente ultrapassar
ninguém? E porque é que não se afasta para a direita quando repara ter um carro
atrás que o deseja ultrapassar? Porque insiste sempre em manter-se na sua
querida faixa do meio?
Sabe
que é uma infração considerada “Muito Grave”, punível pela lei com uma multa
que vai de 60 a 300€?
Alguém me pode responder?
Eu
poderia basear-me na mesma estatística e traçar um perfil fiel do “condutor da
faixa do meio”, pois tive o cuidado de tomar nota do sexo, desculpem do género,
faixa etária, estilo do condutor e outros passageiros, além do tipo de veículo,
incluindo marca e modelo, pois tive o cuidado de tomar nota de tudo. Mas não o
vou fazer, poderia ser ofensivo.
Por
mais que queiramos ser tolerantes, não há como aceitar a baixa aptidão para a
condução que muitos condutores apresentam e que infelizmente está sempre
patente em manobras perigosas a que assistimos a todo o momento nas ruas e
estradas portuguesas. É uma verdade incontornável e que deveria ser bem
resolvida pelas autoridades. Tanto o modelo de ensino, como o de exame prático
de condução que se pratica em Portugal, não contempla a confrontação do novo
condutor com situações adversas ou de perigo, ou mesmo com situações correntes.
O aluno em exame, limita-se a ter que demonstrar que sabe operar (minimamente) o
veículo, conhecer os sinais de transito e fazer a manobra de inversão de marcha
e parquear o automóvel. Básico! Mas é insuficiente! O aluno em fase de
aprendizagem não é confrontado com qualquer situação de perigo, mesmo que
simulada, pelo que não é ensinado a reagir corretamente perante essas adversidades.
Não aprende a travar de forma repentina face a uma emergência, ou guinar
rapidamente face um peão que se atravessa, ou controlar o carro em situações de
aferência precária…nada. Apenas o básico manuseamento do volante, acelerador,
travão e comandos da caixa de velocidades. O aluno em aprendizagem na verdade
não aprende a conduzir, apenas aprende a manusear o automóvel. Não chega!
Sente-se
perfeitamente na estrada, que há muitos condutores que não estão a controlar os
acontecimentos. Eles levam o seu carro penosamente e em pânico total, do ponto
de partida ao ponto de chegada, com grande sacrifício e esforço. Cada pequena viagem
é uma aventura, repleta de situações de perigo.
Outras
pessoas sentem total descontração e naturalidade na condução, mas na realidade
essa também pode ser uma grave ameaça aos restantes condutores, pois essas
pessoas vão a pensar em tudo menos na estrada, conversam ao telefone, enviam
mensagens, distraem-se com os sofisticados sistemas de infotainement, e correm
riscos ainda maiores…
Conduzir
um automóvel implica uma enorme concentração. Há que controlar tudo o que se
passa à nossa frente, mas não só. Há que controlar as laterais e o que vem de
trás. O retrovisor e os espelhos laterais são ajudas fundamentais à condução em
segurança, mas muito pouco utilizadas…
E
por isso lá seguem alegremente na faixa do meio em velocidade reduzida,
obrigando os outros a um cansativo ziguezaguear da faixa da direita para a da
esquerda e de volta à da direita, vezes sem fim ao longo de uma viagem.
Não
é normal que as pessoas não consigam interiorizar esta regra, mas as forças de
segurança não parecem estar muito preocupadas em forçar a sua aplicação, talvez
porque não é geradora dos mais graves acidentes, ou porque os culpados não o
praticam com má intenção…
Mas
circular na faixa do meio é proibido! E seria bom que todos conseguissem
entender as vantagens de aplicar esta simples regra do código da estrada, que
tanto mais conforto e segurança traria a todos os outros condutores.
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