Carlos Ghosn fugiu à justiça japonesa e está no Líbano
Se a prisão de Ghosn há um ano em Tóquio foi uma enorme surpresa, a fuga do ex-CEO da Nissan e da Renault para o Líbano é ainda mais surpreendente.
Mas o que mais impressiona é a justificação que Carlos Ghosn dá para ter escapado para o Líbano, pais onde cresceu, onde tem cidadania e está protegido legalmente contra a possibilidade de extradição.
“Eu não fugi à justiça” diz Ghosn num email enviado hoje às redações de vários órgãos de comunicação social mundial. “Escapei a uma injusta e politica perseguição!”
Assim justifica Carlos Ghosn a sua fuga do Japão de uma forma ainda não conhecida, já que os seus advogados disseram que os passaportes do ex-gestor (francês, brasileiro e libanês) foram confiscados e que ele estava debaixo de severa vigilância.
Segundo alguns relatos vindos a lume na imprensa libanesa, terá chegado ao país via Turquia, num avião privado. O “Annhar”, jornal libanês, diz que o Ministro do bem Estar do Líbano (!), Salim Jreissati, afirmou que Carlos Ghosn entrou no país com um passaporte francês.
Recordamos que Ghosn está acusado de má conduta financeira e aproveitamento de recursos da Nissan em proveito pessoal, algo que o executivo de 65 anos refuta de forma veemente. Porém, de nada valeu a sua veemente negação pois as autoridades japonesas desenharam os termos da fiança de Ghosn para o manterem controlado: não podia passar mais de uma noite fora de casa sem autorização do juíz, tinha uma câmara de vigilância instalada frente à sua porta e no final de cada mês, o brasileiro tinha de entregar uma lista das pessoas com quem se tinha encontrado. Não tinha permissão para falar com a esposa, exceto uma videoconferência em novembro e outra no Natal.
Com esta fuga, Ghosn passou de suspeito a fugitivo à justiça e não poderá voltar mais ao Japão, pois isso levará à prisão imediata. O advogado de Carlos Ghosn, Junichiro Hironaka, afirmou que soube da fuga pela televisão e da parte das autoridades japonesas – Ministério Público, Tribunal de Tóquio, Imigração japonesa ou até do primeiro ministro – e da Nissan, ninguém comentou esta fuga espetacular de Catlos Ghosn. Do lado francês, a ministra da economia, Agnes Pannier-Runacher disse apenas “estou muito surpreendida” reforçando que Ghosn “não está acima da Lei!”, mais ninguém quis comentar a situação.
A fuga de Carlos Ghosn explica-se de forma fácil: o sistema de justiça japonês tem uma taxa de quase 100% de condenação porque o ministério público tem uma série de vantagens processuais que não existem no Ocidente, que passam, por exemplo, pela apresentação de provas adquiridas sem mandato judicial. Portanto, o sistema está feito para “assustar” e para evitar que hajam mais crimes, nomeadamente, económicos. Precisamente a acusação que pende sobre Carlos Ghosn. A acusação é grave, forte e dificilmente o brasileiro escaparia a uma longa pena de prisão, com poucas chances de sair em liberdade condicional.
Assim, o brasileiro que cresceu no Líbano, escolheu este país para fugir. Sabe que ali será acarinhado e estará perto dos seus negócios de imobiliário e vinhas. Deixará de ser perseguido por carros policiais não identificados e não terá policias à paisana a seguir os seus passos no restaurante ou até no supermercado. Olhado como um ícone dos negócios – as suas presenças espalhafatosas no Forum da Economia de Davos deram-lhe esse estatuto – no Líbano, Ghosn conseguiu unir o povo em torno dele, pois além da sua cara aparecer em selos dos correios do Líbano, um cartaz com a sua face e a frade “Somos todos Carlos Ghosn” está no meio da cidade de Beirute. Aliás, o embaixador do Líbano no Japão comprou um colchão para que Ghosn se sentisse mais confortável e fez pressões diplomáticas para que ele saísse da solitária, onde estava confinado há alguns dias. E nessa mesma ocasião, os sempre azougados e divididos políticos libaneses, uniram-se e exigiram ao governo japonês que deixasse Ghosn entrar em contacto com a família.
No seu comunicado, Carlos Ghons diz que “a culpa é presumida, a discriminação total e os direitos humanos básicos são recusados, em flagrante desrespeito das obrigações legais do Japão debaixo da ordem legal internacional.” Diz também que “posso, finalmente, falar livremente com a imprensa e estou ansioso para começar já na próxima semana.” O Japão tem agora uma “pedra no sapato”, num caso que não está a ajudar a imagem do país do Sol Nascente e aguardemos com expetativa aquilo que Carlos Ghosn tem para dizer.
Condições de fiança de Carlos Ghosn
Além de pagar 9 milhões de dólares para sair da prisão, Carlos Ghosn tinha estas condições para permanecer fora da cadeia.
1. Residir em Tóquio
2. Não podia sair do país, teve de entregar o passaporte
3. Tinha necessidade de autorização do juiz para permanecer mais de duas noites fora de casa
4. Foi obrigado a instalar câmaras de vigilância à porta de casa
5. Proibição de utilizar a internet e utilizar o email
6. Podia utilizar um computador, mas apenas no escritório do seu advogado e sem ligação à internet
7. Proibição de contactar com todos os envolvidos no processo
8. Necessitava de autorização do tribunal para assistir a uma reunião do conselho de administração da Nissan
9. Proibição total de contacto com os gestores da Nissan
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