Carlos Tavares é o novo Sergio Marchionne?
Os que acompanham o universo automóvel, sabem que Sergio Marchionne tinha como missão encontrar um parceiro para promover a consolidação, pois acreditava que só com escala global um construtor poderia ser sustentável.
Com uma habilidade pouco comum, conseguiu vender e recomprar a Fiat à general Motors, ganhando sempre dinheiro com as operações, ressuscitou a Fiat com um modelo revivalista como o 500, desenhou planos de recuperação da Alfa Romeo, apenas para evitar ter de vender a marca de Arese a Ferdinand Piech, o patrão do grupo VW e, num golpe de mestre, comprou o grupo Chrysler, formando a Fiat Chrysler Automobiles (FCA).
Ainda assim, não chegava para os desejos de Marchionne e por isso procurou, afincadamente, um parceiro de peso para fundir com a sua FCA. A doença e a morte roubaram o sonho a Marchionne, mas os seus delfins, Mike Manley, mas sobretudo, John Elkann (membro da família Agnelli), aceitaram o seu legado e empenharam-se em conseguir aquilo que Sergio Marchionne não teve tempo de fazer.
É verdade que o grupo PSA não foi a primeira escolha de Elkann e dos executivos da FCA, mas o clã Agnelli encontrou em Carlos Tavares, o novo Sergio Marchionne. O português parece ter o toque de Midas e depois de sair do grupo Renault, pela teimosia de Carlos Ghosn em entregar a cadeira do poder executivo, Tavares pegou numa muito ferida PSA e levou-a à gloria com uma margem de lucro operacional superior a 8%. Comprou a Opel à General Motors numa negociação duríssima, mas rápida e dois anos antes do previsto, a Opel começou a gerar lucro.
O português de 61 anos tem uma ambição sem limites, partilha da visão de Marchionne, da necessidade de ter escala global para ser sustentável, acredita na consolidação e é mestre a desenhar planos de redução de custos e aumento de valor.
Mas face a Marchionne, Carlos Tavares tem uma enorme vantagem: planeamento. Marchionne confiava no instinto, na varinha mágica que parecia ter nascido consigo na análise ao mercado. O sucesso do 500, a compra da Chrysler, a revitalização da Jeep, a maior contribuinte para os lucros da FCA, são episódios que mostram como era Sergio Marchionne. Os falhanços com a Alfa Romeo, a Maserati e o desprezo dado à Lancia, mostram o outro lado de Marchionne.
Carlos Tavares estudo muito bem cada passo que dá e quando decidiu comprar a Opel à GM, estudou durante meses a forma de o fazer e de como integra a marca alemã, rapidamente, no seio de um grupo francês. Com grande classe e jogo de cintura, Carlos Tavares resolveu todos os problemas e a Opel já dá lucro, dois anos antes do previsto.
O português desenha plano de corte de custos e de poupanças impressionantes na precisão e descrição das razões parta a tomada de atitudes.
Este avanço súbito, rápido e bem-sucedido, só acontece porque Tavares estudou muito bem a forma como uma fusão com a FCA poderá funcionar, sempre dentro do mantra do executivo português “crescer, mas com custos controlados, sempre”.
Marchionne e Tavares têm muito em comum: ambos pegaram em construtores que estavam em péssimas condições e recuperaram-nos; ambos são vistos como visionários e tinham como visão a consolidação da industria, clamando Marchionne ser um desperdício as marcas duplicarem muita coisa perdendo milhões de euros sem necessidade, quando poderiam partilhar. Ambos entendem o negócio como sustentável desde que a escala seja global, pois só assim encontraremos lucro e sustentabilidade da industria.
Curiosamente, quando a FCA se virou para a Renault, Carlos Tavares não poupou nas palavras ao considerar a transação como “particularmente oportunista” para a FCA e uma simples “aquisição da Renault por parte da FCA”. Lançada a semente da discórdia, o negócio acabaria por ruir e ser agora feito com a PSA. Naquilo que é um reatar de conversações que têm muito tempo.
Recordamos que desde a crise de 2008, John Elkann e Sergio Marchionne desesperavam por um parceiro que salvasse a Fiat, antes de comprarem a Chrysler. Na altura conselheiro de François Hollande, Emmanuel Macron entabulou conversas com membros da FCA em 2013. No ano seguinte, Marchionne foi informado que Carlos Tavares estava interessado na FCA. Finalmente, os elos juntaram-se e está criado o quarto maior construtor mundial, com mais de 8 milhões de veículos vendidos e uma receita superior a 180 mil milhões de euros. Um colosso!
Ensaios: consulte os testes aos novos carros feitos pelos jornalistas do Auto+ (Clique AQUI)
0 comentários