Renault substitui Thierry Bollore por Clotilde Delbos, mas procura novo CEO
Os estilhaços do escândalo Carlos Ghosn continuam a rasgar a cúpula da Nissan e, agora, da Renault, com Theirry Bollore, próximo de Ghosn, a ser despedido do cargo de CEO da casa francesa.
Curiosamente, esta decisão – que o AUTOMAIS já lhe tinha anunciado ontem – surge depois da Nissan ter pegado na vassoura e varrido da administração executiva todos os resquícios de Carlos Ghosn, incluindo um grupo de três líderes que nada tinham a ver com o executivo brasileiro.
Recordamos que Thierry Bolllore era próximo de Carlos Ghosn, criticou a sua prisão e declarou-se insatisfeito com a posição da Nissan face ao seu CEO e, segundo alguma fontes perto da administração da Renault, Bollore nunca respeitou ou sequer tentou ter um bom relacionamento com o reputado e respeitado ex-CEO da Michelin, recrutado pelo Estado francês para ajudar as relações com a Nissan, Jean-Dominique Senard.
O presidente da Renault, durante a conferência de imprensa que anunciou as novidades na cúpula da casa francesa, rechaçou todas as perguntas sobre eventuais choques de personalidade entre ele e Bollore, dizendo, apenas, que a decisão não era nada pessoal. Tudo se deveu “à necessidade de recomeçar a partir do zero e ter uma nova governança”, ou seja, expurgar toda e qualquer ligação a Carlos Ghosn, exatamente o mesmo que fez a Nissan. E Senard recusou que tenha havido qualquer pressão seja do Governo francês ou da Nissan.
Bastaram três dias para Bollore sair do seu cargo de CEO, situação que chegou ao seu conhecimento quando aterrou em Paris vindo do Japão onde esteve reunido com a Nissan. Numa estratégia, certamente, concertada, a Renault além de varrer Bollore, aproveitou para atirar borda fora vários executivos próximos de Ghosn, enquanto outros assumiram cargos diferentes de menor visibilidade ou importância.
Com esta alteração, a Renault tem uma base nova para reforçar os laços com a Nissan, o mesmo se passando do outro lado com a Nissan. Há, também, condições para recuperar as negociações com a Fiat Chrysler Automobiles (FCA), algo que os investidores desejam.
Segue, agora, o processo de escolha de um novo CEO, tarefa que vai levar algum tempo pois a Renault não tem o talento necessário (deixaram fugir Carlos Tavares e mais alguns executivos de topo para a PSA) dentro de casa. Para já, será Clotilde Delbos quem assumirá o cargo de forma interina. A diretora financeira da Renault (CFO) terá a ajuda de Olivier Murguet, responsável pelas vendas a nível global, e Jose Vincente de los Mozos, vice-presidente da Aliança Renault Nissan Mitsubishi responsável pela produção e fornecimento da cadeia de produção.
A pessoa que vier de fora terá de conseguir lidar com a sempre complicada relação com o acionista Estados (15%) que tem sempre voto na matéria no que toca, principalmente, a questões sociais como o emprego. Terá de ter uma boa saúde para as constantes viagens entre Paris e Tóquio e, sobretudo, ter a aprovação da Nissan, da mesma forma que o novo CEO da Nissan, Makoto Uchida, teve de receber a aprovação de Jean Dominique Senard, bem como os seus lugares tenentes, o COO Ashwani Gupta (embora este seja akguém bem conhecido dentro da Renault) e o ajudante do COO, Jun Seki. Senard declarou que a nova equipa de gestão “é extraordinariamente pro-aliança”.
A Renault não se quer precipitar na escolha de um novo CEO, pois quer um compromisso de longa duração e terá de ter, como disse Senard, “a capacidade de compreender as necessidades e as prioridades da Aliança num contexto internacional.” Depois, terá de tomar medidas assertivas para recuperar dos efeitos de vendas à mingua.
A marca francesa tem sofrido bastante nos últimos 18 meses com uma gama envelhecida, mas depois de renovar o Clio e com o Captur a caminho, a Renault renovou, já, os dois modelos mais vendidos da marca. O pesado e agressivo investimento de Carlos Ghosn na eletrificação – muito criticado, mas agora uma bênção para a Renault – vai ajudar a casa francesa a cumprir as metas de emissões sem grandes investimentos e sem pagar multas, podendo assim amortizar esse violento investimento.
Seja como for, a Renault precisa de reforçar os laços da Aliança, para conseguir reduzir os custos de desenvolvimento, conseguir baixar os preços das compras de matérias primas e outras, através da escala da Aliança e reduzir os investimentos em termos de desenvolvimento de novas tecnologias.
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