Ferdinand Piech deixou-nos aos 82 anos
O antigo presidente do Conselho de Administração e de Supervisão do Grupo Volkswagen, Ferdinand Piech, morreu este domingo dia 25 de agosto aos 82 anos.
Segundo relatório médico, o génio alemão estava a almoçar num restaurante em Rosenheim quando se sentiu mal, desmaiou e foi levado para uma clínica onde acabou por falecer. O ex-executivo de 82 anos tinha se deslocado à Baviera para assistir a um evento. A sua última aparição pública tinha sido em março quando o engenheiro austríaco falou e criticou o projeto Mark Zero do seu filho Anton.
Nasceu em 1937 na Áustria, Viena, sendo o terceiro filho do advogado Anton Piech e da empresária Louise Porsche, cujo avô, Ferdinand Porsche, fundou a marca de Zuffenhausen. A escola foi cumprida na Áustria, seguiu depois para a Suiça e acabou a estudar engenharia mecânica no ETH Zurich. Finalizados os estudos com brilhantismo, Ferdinand Piech juntou-se ao negócio da família… a Porsche.
De 1988 até 1993, foi o CEO da Audi, mudando-se para a Volkswagen em 1993. Em 2002, chega ao topo da gestão, entrando para o Conselho de Supervisão. Foi trabalho seu a reabilitação do grupo VW que, na época em que Piech assumiu a liderança, lutava com uma hemorragia de dinheiro impressionante. Não só cumpriu a recuperação financeira, como criou um gigante ao adquirir várias marcas para o seu portfolio. Moldou o sistema de negócio do grupo VW, adquirindo marcas como a Rolls Royce (que trouxe a Bentley atrelada, acabando esta por ficar e a Rolls Royce por ser vendida á grupo BMW), a Lamborghini ou a Bugatti.
Os avanços rumo ao segmento Premium têm assinatura de Oiech e o ímpeto do grupo e a saúde financeira são obra de Ferdinand Piech que no ano em que se retirou, 2001, registou o melhor ano de sempre com 2,9 mil milhões de euros de lucro após taxas e impostos. Um resultado fabuloso que deu um enorme músculo ao grupo alemão.
O sucesso alcançado tornou-o intocável e o todo o poderoso, de tal forma que ele promoveu a sua esposa, Ursula Piech, ao conselho de supervisão.
Martin Winterkorn foi decisivo na ajuda que deu a Piech para mandar com mão de ferro um grupo que crescia mais e mais com a chegada da MAN, da Scania e de outras marcas como a Ducatti.
Uma luta pelo poder levou a um embate violento entre Ferdinand Piech e Martin Winterkorn, que o veterano acabou por perder saindo pela porta pequena em 2015, cortando as ligações ao grupo quando renunciou aos cargos de presidente do conselho de supervisão e de todos os seus cargos dentro do grupo alemão, vendendo a sua posição no capital do grupo Volkswagen, avaliada em 1,1 mil milhões de euros.. Seria, assim, a saída definitiva de Piech do grupo VW.
O DIeselgate veio abalar os alicerces do grupo e Matthias Muller, sucessor de Winterkorn, clamava por uma nova cultura dentro da empresa: menos centralismo, mais responsabilidade para os gestores e maior liberdade. Tudo aquilo que sempre foi contrário à ideia de Piech. Que ziguezagueava muito pelas fºabricas e era conhecido como o “old man” ou o “velho”. Mas a verdade é que todos tinham medo dele e o seu feito irrascível não ajudava.
Ferdinand Piech era um obcecado pela tecnologia e por isso decidiu criar um império que construísse de tudo, de pequenos carros a carros de luxo, supercarros, desportivos, motos e camiões. Enfim, tudo! Para um engenheiro de qualidade superior, a tecnologia sempre o fez mover e tomar decisões, com uma energia extraordinária, uma visão impressionante e uma resiliência absurda. E os seus inimigos sabiam bem disso. Em 1998 comprou a Rolls Royce, trazendo atrelada a Bentley (posteriormente vendeu a Rolls Royce á BMW) e no mesmo ano adquiriu a Lamborghini e a Bugatti, juntando pouco depois, em 2000, a Scania.
Em 2006, conseguiu afastar o inefável Bernd Pischetsrider do lugar de CEO, na luta pelo poder com a Porsche em 2008-2009, e tornou a Porsche na 10º marca adquirida pelo grupo, a que se seguiu em 2010 a aquisição da maioria do capital da ItalDesign Giugiaro e em 2011, após uma negociação feroz e onde Piech mostrou todas as suas qualidades, adquiriu a MAN. Pelo meio ainda comprou a Ducati.
Foram dele alguns dos projetos mais doidos e dos menos rentáveis. Foi ele que inventou o VW 1 Litro ou o motor W12. Foi ele que desenvolveu o motor de 5 cilindros, foi ele que deu luz verde ao projeto Quattro, lançou o Audi V8, enfim, muitas são as coisas que Piech fez.
Arriscou e perdeu dinheiro na Bugatti com o Veyron, mas tem na sua conta, ainda, o VW Phaeton, um carro Premium num segmento de familiares. Uma vida longa e cheia de episódios importantes no moldar da vida de várias marcas
Um homem que deixa um legado, mas também uma forma muito particular de fazer as coisas, tiques de ditador e um mau feitio proverbial, talvez ao nível do seu talento como engenheiro e visionário. Deixa também doze filhos de vários casamentos, sendo que Ursula Piech é a viúva de Ferdinand Piech. Descanse em paz!
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