Indústria automóvel na Eslováquia esta a derrapar do céu para o inferno
Muitos construtores descobriram um paraíso a Leste e foram instalando fábricas em vários países, entre eles a Eslováquia. Mas o “el dorado” parace estar a transformar-se num inferno.
O Automotive News Europe entrevistou uma das 3 mil pessoas que receberam a inesperada notícia de despedimento. Recusando indicar o último nome, David chegou à linha de produção da Volkswagen, na Eslováquia, feliz porque todos lhe diziam que não teria de se preocupar pois tinha emprego até à reforma. Isto foi há dois anos, e passados 24 meses, David foi chamado aos recursos humanos e passou a ser um dos 3 mil colaboradores da fábrica que produz o VW Touareg, Porsche Cayenne, Audi Q7, Audi Q8 e o VW Up.
“Todos os meus colegas me diziam que não tinha que me preocupar, pois se me habituasse ao trabalho e à carga horária, o salário iria subir gradualmente e teria um trabalho estável até à minha reforma.” Infelizmente para este jovem eslovaco, o seu futuro é agora incerto, depois desta onda de cortes de força e trabalho que colocou em choque a industria automóvel da Eslováquia, o país com maior produção automóvel por capita… do Mundo!
Esta perda de postos de trabalho no maior empregador privado da Eslováquia, vem sublinhar os riscos que o país báltico enfrenta para manter um dos motores da economia local a funcionar, responsável 12% do PIB eslovaco e por um em cada 10 postos de trabalho na Eslováquia.
Razões para esta situação residem na mudança para a mobilidade elétrica, as tesões comerciais globais, novos países com oferta de mão de obra mais barata e a economia não muito segura do centro da Europa. A própria Volkswagen, que despede 3 mil pessoas na Eslováquia, procura um local para erigir nova unidade de produção, estando a Bulgária, Sérvia e Turquia na lista final de escolha.
Felizmente para David, o eslovaco entrevistado pelo Automotive News Europe encontrou emprego em outra unidade fabril ligado ao automóvel, mas o que se passou na fábrica de Bratislava foi um alerta para o governo eslovaco, mas também para o resto do Velho Continente, nomeadamente, Portugal.
E o ministro da economia da Eslováquia, Peter Ziga, entrevistado pela Reuters, deixou clara a preocupação. “Para usar uma metáfora automóvel, diria que acabamos de ver uma luz de aviso, é apenas um aviso, ainda não precisamos de fazer uma reparação geral. Apenas lidar com este aviso. Tenos 300 mil pessoas a trabalhar no setor automóvel (direta e indiretamente), pelo que se alguma coisa acontecer, será sério!”
Tudo começou com a oferta de benefícios fiscais e baixo valor da mão de obra para seduzir o investimento. Os sindicatos aceitaram as condições, mas rapidamente entraram no modo exigência, nomeadamente, de aumento de salários. O despedimento de 3 mil pessoas, fez a união de sindicatos recuar e em declarações à Reuters, Zorolasv Smolinsky, referiu que “neste momento, não estamos focados nos salários, pois a nossa prioridade é a estabilidade do emprego. Temos de estar preparados para a adversidade e esperar por melhores tempos.”
Perante este cenário de alerta e tentando apoiar uma industria que representa 44% da produção industrial e 40% das exportações da Eslováquia, o executivo aprovou uma série de subsídios para aumentar a venda de veículos elétricos e benefícios fiscais até 200% do montante investido em pesquisa e desenvolvimento.
Porém, as preocupações habituais dos políticos na sobrevivência, levaram o mesmo executivo a aumentar o salário mínimo do país e aumento do valor do trabalho noturno e por turnos, algo que espoletou esta situação na fábrica da VW, tornou a Eslováquia muito menos competitiva.
Em declarações á Reuters, Jan Pribula, secretário geral da Associação da Indústria Automóvel da Eslováquia, referiu que “esta é a altura das grandes empresas da indústria automóvel decidirem onde vão produzir novos modelos nos próximos sete anos, pelo que é importante enviar um sinal que somos todos pessoas responsáveis, pois estamos a perder competitividade e podemos ficar para trás.”
A crise não se restringe à Eslováquia, pois a República Checa (casa da Skoda) e a Hungria (onde a BMW e a Daimler têm fábricas) também estão alavancadas na indústria automóvel. E para se perceber como todos vivem no fio da navalha, segundo a Deloitte, se os Estados Unidos insistirem no aumento das taxas de importação para 25%, a indústria automóvel da República Checa perderia mais de 500 milhões de euros por ano.
Por aqui fica claro que a indústria automóvel está a passar por momento complicados e como referiu Carol Thomas, analista da LMC Automotive, “era dado como certo que fábricas como a de Bratislava seriam eternas, mas já não podemos colocar a mão no fogo por nenhuma unidade. Isto porque as diversas fábricas vão lutar por novos modelos, mas terão de enfrentar concorrência de outras paragens. Não será fácil.”
No que toca à fábrica de Bratislava, o grupo VW tem vindo a reduzir a produção ao longo dos primeiros meses de 2019 e fez regressar á Hungria os trabalhadores que tinham sido recrutados à fábrica da Audi em 2016. Segundo Oliver Grunberg, CEO da VW Eslováquia, “este é o ano chave para o futuro da fábrica da Eslováquia e acreditamos que melhorias no ambiente económico irão ajudar a incrementar a atratividade da fábrica de Bratislava.” Fica dado o recado!
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