Os problemas de um carro elétrico na atualidade
Os
carros elétricos têm evoluído bastante nos últimos anos, e a todos os níveis,
desde o design, à autonomia ou ao carregamento. Porém, e à luz da nossa
experiência com tais modelos, há ainda várias questões que tornam estes carros
um investimento que tem que ser muito bem ponderado, bem mais que um modelo
convencional, a gasolina ou a gasóleo.
Há
dois alicerces bases que justificam os modelos elétricos: as questões
ambientais e o serem mais económicos. Neste artigo, iremos focar-nos apenas no
segundo ponto.
Em
Portugal, ter um carro elétrico na atualidade obriga, na maioria dos casos, a
ter forçosamente um segundo carro com motor de combustão. Talvez tal não
aconteça se residirmos nas áreas de Lisboa ou Porto, e mesmo aí com algumas
reservas, mas uma vez fora dos grandes centros, não é possível aventurarmo-nos
em grandes viagens com segurança, porque não temos a confiança necessária de
onde poderemos carregar o veículo.
Mesmo
que pesquisemos através de aplicações, corre-se o risco de chegarmos a um posto
de carregamento e este encontrar-se desativado, avariado… ou ocupado. Até
mesmo em Lisboa esta questão é um problema frequente.
Acreditem,
haverá coisas piores, mas sentir a impotência de ter um carro com o qual não
podemos andar, apenas e só porque não temos um sítio para o carregar, enquanto
vemos o mundo a abastecer os depósitos confortavelmente com gasolina ou gasóleo
e a seguir viagem, é uma delas. Esta situação, recorrente, de facto causa um
grande transtorno.
Mas
a este junta-se outro. O tempo necessário para um carregamento. Termos de estar
duas ou três horas a fazer tempo para carregar condignamente um veículo, é exasperante.
Num posto de carregamento público com uma potência de 15 Amp, por exemplo, um
smart fortwo electric drive demora cerca de 3/3,5h para carregar 80% da
bateria. A autonomia anunciada são 160 km, mas a real anda na casa dos 90 km, o
que não permite grandes viagens, e obriga-nos de facto a esperar bastante tempo
pelo carregamento. O Nissan Leaf 40 kWh, que tem uma autonomia real de 240 km,
demora 5h30 numa tomada de 12Amp para carregar cerca de 50% da bateria.
As
tomadas de 15 Amp são as que existem em maior número na rede pública, mas este
problema ficava resolvido com os postos de carregamento rápido. No entanto,
mais uma vez, na atualidade, há apenas cerca de 60 destes postos em Portugal, estando
prevista a criação de mais 100 até ao final do ano. Ainda assim, um número
pequeno se olharmos o país no seu todo, e não as grandes áreas metropolitanas. Estas
questões tornam aquilo que se pode poupar por cada 100 km com um carro
elétrico, face a um veículo convencional, quase esquecido. Com a questão carregamentos,
é fácil chegarmos a um ponto que nem pensamos na poupança, pensamos: “como é
que posso carregar o carro para o usar?”
Obviamente
que todos os carros elétricos podem ser carregados numa tomada doméstica, mas
aí demoram longas horas. Podemos ter um wall box em casa, que resolve ou
ameniza o tempo de carregamento, mas se sairmos de casa para viagens maiores,
voltamos a estar dependentes dos postos de carregamento existentes e aí surge
outra questão, além do tempo de carregamento, se estão livres para eu os usar
quando lá chegar. Porque também acontece querermos carregar, termos só aquele
sítio, mas alguém ter acabado de colocar lá o carro e termos de esperar… ou
procurar outro. Acreditem, tudo isto já nos aconteceu, e não é tão difícil de
suceder quanto isso.
Por
outro lado, o tipo de casa em que vivemos também importa. Se tivermos garagem,
não há problema, mas se vivermos num prédio, por exemplo, num segundo ou
terceiro andares, sem garagem, os carregamentos na rede doméstica ficam desde
logo limitados ou impedidos. Porque à partida não iríamos estar com extensões
da varanda para o parque de estacionamento, e aí ficaríamos dependentes
unicamente da rede pública para os carregamentos.
Queremos
com isto desincentivar a compra de um carro elétrico? Não, pelo contrário, o
objetivo é alertar para questões que ainda estão numa fase prematura de
resolução e que são próprias de quando uma nova área está a ser desenvolvida e
explorada. Os carros elétricos podem ser já uma boa opção, mas para utilizações
e contextos específicos. O objetivo com este artigo, e à luz da nossa
experiência com modelo elétricos, é alertar para questões que facilmente podem
surgir, e que quando nunca andámos com um modelo elétrico, ou temos pouca
experiência, elas podem nem nos surgir. Por isso, antes de uma compra, ter a
consciência de tudo o que ela envolve, nunca é demais.
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