Se comprar um Elétrico usado, cuidado com os quilómetros do carro.
Óleo do motor: Dicas para evitar problemas

E se a indústria automóvel errou nas previsões sobre a procura de veículos elétricos?

By on 5 Fevereiro, 2019

A polémica anda por aí aos saltos, com os defensores da mobilidade elétrica a atirar números e outras coisas todos os dias e os apoiantes dos motores de combustão interna a contradizerem tudo com mais números. Curiosamente, os analistas da Deloitte fizeram um estudo que é capaz de ser preocupante. Para as marcas que se atropelaram nos anúncios de gamas elétricas, para os defensores dos ursos polares que diabolizam o gasóleo e para ministros que julgam saber aquilo que mais ninguém sabe.

Os números

Vamos ao que interessa e já que os números são esgrimidos como sabre de luz do Luke Skywalker, aqui estão mais uns números.

Os conselhos de administração dos maiores grupos da indústria automóvel mundial estão, todos, à beira de um ataque de nervos. Andam a queimar dinheiro a um ritmo absolutamente inacreditável para desenvolverem gamas inteiras de automóveis movidos a eletricidade, adicionando mais um sorvedouro de dinheiro com a condução autónoma. O investimento é de tal ordem que alguns já se uniram em junções improváveis para desenvolverem a solução que vem acabar com todos os problemas do mundo: o automóvel elétrico!

Alguns desses construtores já lançaram vários modelos para o mercado e há marcas que até já têm, dizem, gamas completas para apresentar a partir de 2020. Aliás, se na nomenclatura bíblica existe o AC (antes de Cristo) e o DC (depois de Cristo), na industria automóvel até ao ano 2020 será AE e depois de 2020 será DE. Antes do Elétrico e Depois do Elétrico, tal o chinfrim que está a ser feito. Na Volkswagen percebe-se, pois os estilhaços do Dieselgate ainda andam por ai e, volta e meia, aterram no colo do Herbert Diess, o CEO do grupo VW, pelo que distrair e mostrar que a charlatanice americana não passou de um erro de cálculo e que agora a Volkswagen vai ser a locomotiva do desenvolvimento sustentável da mobilidade, é essencial.

Mas, se esta corrida desenfreada para o colo da pura, limpa e imaculada eletricidade, não passar de mais um exagero, daqueles que é fértil a indústria automóvel?

A Deloitte acredita que a maioria dos construtores terá errado, de forma sensível, a procura do mercado por veículos elétricos, estando agora a cair a ficha com muitos deles a perceberem que podem acabar com um stock de carros elétricos impossível de gerir.

Excesso de produção?

Segundo os analistas da Deloitte, em 2030, assistiremos a um dilúvio de propostas de veículos elétricos graças ao excesso de produção dos construtores que, literalmente, queimaram dinheiro para desenvolver os modelos elétricos e necessitam de os massificar, ontem, para conseguir ter lucro.

Ou seja, depois de estarem uma dezena de anos a, literalmente, queimar dinheiro e recursos nos veículos elétricos, os responsáveis da indústria quiseram acreditar, enfim, tinham de acreditar que, depois do ano da graça de 2020 DE, seriam aos magotes os compradores de tudo o que seja veículo elétrico, pequeno, médio, grande, comercial, tudo!

Pois, segundo o estudo da Deloitte, a produção e a oferta de veículos elétricos irá superar, quer dizer, irá ser muitíssimo maior que a procura! Se isso acontecer, inevitavelmente, será uma catástrofe de dimensões impossíveis de quantificar neste momento, mas certamente com repercussões em muitos construtores.

Quer isto dizer que os veículos elétricos são uma anedota? Claro que não.

É inegável que está a formar-se uma tendência clara para o crescimento do mercado dos veículos elétricos, mas a verdade é que é uma moda que não terá as dimensões que muitos pensavam, desejavam ou queriam mesmo muito. Para os defensores do veículo elétrico, não há recuo e o futuro é mesmo carros a voarem, a conduzirem-se sozinhos e a utilizar a energia limpa da eletricidade.

O problema é que o ritmo imposto pelos construtores, devido a terem sido encurralados contra a parede pelos governantes – a diminuição absurda das emissões de CO2 foi combinada com a diabolização do diesel, tecnologia que emite menos CO2 que os motores a gasolina, pasme-se! – é de tal ordem elevado que a travagem vai ser violenta, mas para muitos o destino é estatelarem-se contra a parede da indiferença dos consumidores.

E para perceberem a completa idiotice que reina por agora nos corredores de Bruxelas e de outros escritórios mais ou menos afamados, a Deloitte estima que a diferença entre a oferta e a procura de modelos elétricos seja de 14 milhões de unidades! Sim, leu bem, 14 milhões de unidades a mais do que o mercado irá absorver. Pois é… a arena do marketing vai ser mais pequena e a luta muito mais feroz.

Obviamente que isto trará vantagens para o consumidor e mais um enorme sapo que os construtores vão ter de engolir: acredita-se que com o excesso de produção de tal jaez, os veículos elétricos vão baixar, muito, de preço até se igualarem aos veículos a gasolina e a gasóleo que estarão à venda lá para 2024 ou 2025. Será a altura em que estarão a ser produzidos mais de 21 milhões de unidades de automóveis. Sim, o mercado dos automóveis elétricos vai crescer, mas desenganem-se! O crescimento vai ser muitíssimo mais lento do que os investimentos brutais feitos até agora exigiam.

Mas, olhemos novamente para os números. Em 2018 foram vendidos, grosso modo, 2 milhões de veículos elétricos em todo o mundo, o dobro dos que foram vendidos em 2017. Wow!!! Estão nesta altura os defensores dos veículos elétricos a dizer “palerma, não sabe aquilo que diz.”

Porém, convirá perceber que o mercado mundial vendeu quase 95 milhões de veículos em 2018 (uma quebra face a 2017) e que as previsões apontam para um valor de 96 milhões de unidade em 2019, 98 milhões em 2020 e quase 102 milhões de veículos em 2021. Contas feitas, apenas um em cada 250 carros na estrada é elétrico! E que não será num par de anos que esta situação se vai inverter, pois mesmo que o mercado de veículos elétricos duplique a cada ano, em 2021 seriam apenas 8 milhões de unidades dentro de um universo de 102 milhões de veículos vendidos em todo o mundo, ou seja, menos de 10% das vendas.

E quando escutamos Elon Musk que quer vender meio milhão de Tesla por ano, que o grupo VW e a Daimler estão a pensar na casa dos milhões e que todos os construtores vão fazer carros elétricos, o problema do excesso de produção vai se colocar com muita acuidade e deixar claro que a indústria automóvel se enganou, redondamente, nas perspetivas de vendas. Mas tinham de o fazer, pois a partir do momento que torraram tanto dinheiro, terão de o recuperar seja como for.

Vai o gasóleo acabar e os carros perderem valor daqui a quatro anos?

Claro que não! É uma mentira sem sentido que veio alarmar os consumidores e prejudicar, de forma sensível, a industria do setor com especial impacto no mercado dos usados. Os carros a gasóleo não vão acabar e o seu valor residual será, como sempre, ditado pelas financeiras e pela lei da oferta e da procura.

Naturalmente que não se pode esconder uma tendência perfeitamente visível de uma mudança dos veículos a gasóleo para os modelos a gasolina. Esta situação é potenciada pelas constantes declarações bombásticas e alarmantes que são feitas e por estudos esculpidos à medida dos interesses de casa um.

Por exemplo, diz-se que a poluição rodoviária causou, em 2016, danos que custaram à União Europeia 79,8 mil milhões de euros, ou seja, 50,5% do orçamento europeu. E que grande fatia disso é caudado pelos motores diesel. Logo, se até 2030 se acabasse com os motores que não cumprem a norma Euro6D-Temp, se os carros elétricos fossem um terço dos modelos existentes e com mais um terço de híbridos, os custos com os danos da poluição rodoviária cairiam para 15 mil milhões de euros.

Então, quer isto dizer que a poluição das fábricas, das centrais que produzem energia e do transporte aéreo não tem custos para a saúde pública. Portanto, o automóvel, a verdadeira galinha dos ovos de ouro de qualquer economia é o bastardo que anda a matar as pessoas.

Pensemos de outra forma. E que tal se a União Europeia desse as mãos aos construtores e ao invés de banir, amachucar, agredir e humilhar a industria automóvel com limites ridículos de CO2, gizasse um plano no Velho Continente para acabar com os veículos mais antigos, criando condições para que o parque automóvel europeu reduzisse a sua idade para os cinco anos, por exemplo? Se ao invés de gastar dinheiro a subsidiar combustíveis ou os veículos elétricos, subsidiasse o abate dos carros mais poluentes?

Como disse, há estudos para tudo e mais alguma coisa e quando queremos muito uma coisa, fazemos um estudo. Há estudos que dizem que beber café faz bem, mas há estudos que dizem que o café mata! Há estudos que dizem que as mulheres gostam dos barrigudos, as associações de ginásio esgrimem estyidos que dizem que elas gostam é de rapazes musculados. Enfim, há estudos que dizem que 90% das pessoas não querem a condução autónoma porque não querem ser conduzidas pelo seu próprio automóvel, mas, dessas, 95% admitem gastar até 350 euros para terem a condução autónoma no seu carro.

Há uma certeza: ninguém sabe quando é que vão acabar os motores de combustão interna, ninguém sabe quando é que o gasóleo acabará de vez. Ninguém pode afirmar que daqui a quatro, cinco, dez, vinte anos, os carros a gasóleo vão perder valor ou não vão valer nada.

Outra certeza é que o gasóleo, desperdício da gasolina, continuará a brotar o segundo não existe sem o primeiro e seria muito perigoso, mesmo, que ele não fosse valorizado de forma correta. Os construtores mundiais têm muita tecnologia pronta para minimizar os efeitos da poluição.

Eu acredito que daqui a umas décadas – já cá não estarei, certamente –  os motores de combustão serão apenas uma memória. Mas como diz o povo, “com quem ferros mata, com ferros morre” e não espantaria muito que daqui a alguns anos tenhamos aqueles que hoje para manter viva a fogueira dos elétricos, a reguem com cada vez mais dinheiro, tenham a necessidade de deitar mão do bom e velho motor com ciclo Otto ou ciclo Diesel para não se desmoronarem como castelos de cartas, despojados de vendas, clientes e valor.

José Manuel Costa

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