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Como é que a Jaguar Land Rover passou de um lucro de 2,9 milhões de euros para um prejuízo de 360 milhões?

By on 28 Janeiro, 2019

A Tata Motors não pode continuar a suportar um grupo que começa a arrastar para a lama um dos maiores conglomerados da Índia.

As campainhas de alarme soaram em dezembro quando a S&P Global Ratings reviu o “rating” do crédito da Tata e da Jaguar Land Rover (JLR) enviando-o para a condição de lixo, justificando essa alteração com a menor dificuldade em gerar lucro que o esperado. Arrastada para a lama pela JLR, a Tata Motors exigiu mudanças e depois deste anúncio, a JLR divulgou uma nota a dizer que iria reduzir, dramaticamente, os custos através do despedimento de colaboradores e redução do orçamento de pesquisa e desenvolvimento. E não está fora de hipótese o fecho de uma das quatro fábricas da JLR no Reino Unido e uma dramática mudança de rumo para a Jaguar.

Mas, o que levou a JLR a chegar a este ponto? Uma queda abrupta das vendas, nomeadamente, na China onde a JLR perdeu 44% no último trimestre de 2018, provocada pela menor confiança do consumidor nos produtos da marca e nos elevados custos com as taxas de importação. Reduzir dramaticamente a produção foi a solução, com a fábrica chinesa de Changshu, arredores de Xangai, a estar parada durante o mês de outubro.

A China foi, durante muito tempo, o maior mercado da JLR, chegando a essa posição em 2017 quando foram vendidos 146 399 unidades, produzindo, localmente, o Range Rover Evoque, o Land Rover Discovery Sport e ainda as versões de chassis longo dos Jaguar XE e XF. Tempos houve em que o grupo britânico conseguia mais de 60 mil euros de lucro em cada Range Rover vendido! A JLR entregou-se aos chineses, pensou que tinha encontrado a cornucópia do lucro a leste, acabou por cair de quatro em cima de uma realidade diferente que a fez sair de lucros impressionantes para um primeiro ano de prejuízos desde que Ralf Speth, ex-BMW, chegou a uma JLR comprada à Ford e à beira da falência.

A Jaguar Land Rover tem uma gama alargada, mas exceção feita ao Discovery (36 996 unidades, mais 9% que no período entre janeiro e outubro de 2017), e o novo Velar (55 922 unidades vendidas), todos os outros modelos perderam vendas face a 2017, com destaque para o Jaguar F-Pace (menos 25% para 47 950 unidades), o Jaguar XF (menos 20% para 27 872 unidades) e o Jaguar XE (menos 22% para 26 218 unidades). O Jaguar E-Pace vendeu, apenas, 33 872 veículos. O Discovery Sport é o líder da JLR com 80 994 unidades vendidas (mesmo assim um recuo de 23%), seguido pelo Range Rover Sport (63 672 unidades, menos 9%) e o Evoque (61 212 carros, menos 33%).

Fica evidente que a Jaguar está a arrastar o grupo para baixo e por isso há planos para transformar a mítica marca britânica num construtor de veículos elétricos. Os indicadores de vendas do i-Pace são animadores, mas a margem de lucro libertada pelo modelo é muito curta, apesar de ser bem mais caro que um F-Pace, e na realidade, o i-Pace serve é para manter a média de emissões baixa. Se assim for, a Jaguar não precisará do XE e acabara com a vida do modelo que tanto prometeu.

Contas feitas, a Jaguar Land Rover terá de ultrapassar as dúvidas e eventuais consequências do Brexit. Estima-se que se o acordo não for bom, a JLR pode perder, uma vez só, 1,12 mil milhões de euros de lucro. Felizmente que já têm uma fábrica a funcionar na Eslováquia o que vai permitir outra flexibilidade. Depois, a guerra comercial com os EUA, cujas taxas de importação podem custar milhões de euros de prejuízo. Depois, terão de aumentar a fiabilidade dos seus produtos, pois tem sido uma inesperada fragilidade que torna os clientes da marca receosos. Finalmente, a capacidade de lidar com a fuga dos clientes europeus das motorizações diesel. A JLR tinha 84% das vendas ancoradas neste combustível. Como se dá a volta a isto?

O problema da Jaguar Land Rover não é de margens ou de lucros, mas sim de custos. A JLR necessita de uma abordagem igual á da Volvo: a marca sueca deitou fora todos os motores acima de 4 cilindros, criou uma gama de motores de 4 cilindros e uma gama apostada nos SUV. Foi assim que Hakan Samuelsson tirou a Volvo da lama e a colocou no topo. A JLR precisa do mesmo tratamento de choque e precisa de desacelerar e reduzir o ritmo de consumo de recursos. A Land Rover é lucrativa, a Jaguar nem por isso. Portanto há que fazer um corte drástico nos custos e olhar para a produção com outros olhos e ainda maior qualidade.

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