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Carlos Ghosn usava o dinheiro da Nissan para comprar casas

By on 20 Novembro, 2018

Diz o livro sagrado que “não há homem que não peque” e Carlos Ghosn não foge à regra. Além de gostar de luxo, tinha uma forte tendência para o imobiliário tendo, alegadamente, comprado casas no Rio de Janeiro, Beirut, Paris e em Amesterdão com o dinheiro da Nissan.

Após ter sido preso, ontem, no Aeroporto Taneda, Tóquio, quando chegava ao Japão a bordo do avião particular da Nissan, Carlos Ghosn saltou para o noticiário internacional, deixando boquiabertos os especialistas do setor, não tanto pelo facto de estar acusado de esconder parte do seu vencimento, num ato de fraude fiscal, mas sim pela conduta menos própria na compra de imóveis com o dinheiro da Nissan.

Segundo a imprensa japonesa, a Nissan pagou largos milhões de euros por casas em quatro cidades mundiais onde não há justificação para tal.

Confirmada está a acusação feita pelo Ministério Público japonês de falsas informações sobre os valores de remuneração, tendo escondido qualquer coisa como 44 milhões de dólares ao fisco nipónico nos últimos cinco anos. Trata-se de incentivos ligados ao preço das ações da Nissan em bolsa e que não foi reportado. Fontes próximas de Carlos Ghosn, citadas pelo Nikkei Asian Report, dizem que o brasileiro entendia que esses incentivos ou compensações devido à excelente performance da Nissan em bolsa, não deveriam entrar no relatório das suas remunerações.

Apenas isto foi confirmado, depois de Hiroto Saikawa, CEO da Nissan, ter dado uma conferência de imprensa à noite (madrugada em Portugal), em Yokohama, fora de Tóquio, onde se mostrou visivelmente incomodado com o assunto. Recusou confirmar que a Nissan tinha pago as casas de Ghosn no Brasil, Líbano, França e Holanda e manteve a firmeza do discurso apontando para a saída do presidente da Nissan, deixando de fora qualquer considerando sobre a Renault e a Aliança Renault Nissan Mitsubishi. Confirmou, apenas, que Ghosn tinha sido preso devido a irregularidades na comunicação da sua remuneração e pelo uso indevido de fundos da companhia, falando de despesas não justificadas e fundos de investimento.

Passadas mais de 24 horas sobre a detenção de Carlos Ghosn no Aeroporto Haneda, em Tóquio, começam a surgir alguns detalhes que clarificam a forma como Carlos Ghosn perdeu a noção da realidade.

Segundo a imprensa japonesa, foi a Nissan quem pagou as casas que Ghosn tem no Rio de Janeiro, Beirut, Paris e Amsterdão, mas nada está refletido nas contas da empresa entregues à CMVM japonesa, a “Tokyo Stock Exchange Securities”. Nenhuma das casas citadas tem legitima razão de existirem em termos de negócio para a Nissan e Ghosn não estava a pagar nenhuma renda ou compensação pelas casas à Nissan.

O sítio Nikkei Asian Report avança, citando fontes anónimas próxima do processo, que Ghosn usou dinheiro da Nissan para estabelecer um mini império imobiliário, através de “off shores”, tentando, assim, apagar o rasto do dinheiro.

Esta situação tem sido vista por alguns analistas como um “golpe de estado” contra Ghosn, mas, sobretudo, contra a Aliança e contra a Renault. Já explicámos em outro artigo as implicações desta situação. Porém, se em outras questões foi vago, Hiroto Saikawa, CEO da Nissan, foi veemente ao negar qualquer teoria da conspiração. Seja como for, Carlos Ghosn continuará detido, pois segundo a lei japonesa, um suspeito pode ser mantido em custódia do Estado, sem acusação, durante 23 dias.

Digerida a situação pelos investidores, a Nissan recuperou alguma coisa no mercado bolsista amparando a queda nos 6,5%, ainda assim, o valor depreciativo mais elevado desde novembro de 2016. Quanto ao impacto da detenção do presidente da Nissan, acredita-se que será pouco importante já que Carlos Ghosn já tinha cedido muito do controlo que possuía. Já a Mitsubishi sofreu algo mais, pois as ações caíram para os valores de 2016 depois de conhecidas as infrações em termos de comunicação dos consumos e das emissões poluentes. E para provar que nada disto foi um golpe palaciano para libertar a Nissan, o poderoso Ministro da Indústria do Japão, Hiroshige Seko, concorda com o gabinete de Emanuel Macron, apelando a uma rápida estabilização da Aliança.

Leia também: Carlos Ghosn: a queda de um anjo ou o fim de um demónio?

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