Kia Picanto 1.2 CVVT GT Line – Ensaio
Kia Picanto 1.2 CVVT GT Line 5p
Texto: Francisco Cruz
Quando o hábito (não) faz o monge…
Pequenino mas espevitado, o Kia Picanto tem, finalmente, nesta nova geração, uma versão à imagem da sua irrequietude. Denominada GT Line e marcada por uma estética exterior verdadeiramente estimulante, além de mais espaço e equipamento, só é pena não ter – para já, pelo menos – um motor à altura. É que como e bem diz o povo, “nem só o hábito faz monge”…
Modelo de entrada na oferta da marca sul-coreana, rival de propostas como o italiano (e líder do segmento A em Portugal) Fiat 500, o alemão Volkswagen up! ou o francês Peugeot 108, entre muitos outros, o Kia Picanto é, no entanto e desde há muito, um utilitário apreciado. Não só pelo seu preço tradicionalmente atractivo, mas também pela agilidade que revela. Perdendo terreno, nesta luta sem quartel, face a rivais de respeito, apenas e quanto muito, em aspectos como a estética, ou até mesmo no sex-appeal!
Contudo e com o lançamento, já este ano, daquela que é a terceira geração do modelo, profundamente melhorada face à antecessora, parece-nos consensual dizer que o futuro do pequeno citadino sul-coreano surge agora bem mais risonho. Com as novas linhas, baseadas numa nova plataforma, mais rígida (+12%) mas também mais leve (-28 kg, para os 908 kg), além de com maior distância entre eixos (+ 15 mm, ou seja, 2,40 m no total) mas também as mesmas dimensões exteriores, a garantirem, logo à partida, uma estética bem mais atraente e moderna. Em particular, na até aqui inexistente versão GT Line, que agora tivemos oportunidade de testar!
Visual exterior “a matar!”
Na verdade e a garantir um visual que simplesmente lhe fica “a matar” (não literalmente, claro está!…), surgem pormenores verdadeiramente deliciosos, como é o caso, na nova secção frontal, sólida e expressiva, da enorme entrada de ar central. Emoldurada, no caso do “nosso” Picanto de cor branca, por um friso em plástico negro brilhante e com as luzes de nevoeiro metalizadas integradas. E a que se juntam (supostas) entradas de ar laterais a negro com moldura (parcial) em cor contrastante; grelha frontal idêntica à da versão standard, mas com apontamentos na mesma tonalidade de contraste; além de luzes diurnas em LED integradas nas ópticas.
Já nas laterais, saias na cor da carroçaria, com um friso de cor vermelha, preta ou cinza (depende da cor escolhida para a carroçaria), assim como jantes em liga leve de 16 polegadas, têm continuidade numa traseira com não menos impacto, fruto dos generosos farolins esculpidos que partilha com os restantes Picanto, mas principalmente de um pára-choques traseiro específico e claramente mais desportivo. “Culpa” da integração de um difusor traseiro com duas ponteiras de escape integradas. Em suma, um mimo!…
Interior desportivo, mas também com mais espaço
Já no interior, um ambiente quase totalmente a negro, embora com apontamentos de cor metalizada no volante, tablier, manche da caixa de velocidades e bancos, e que não escondem uma notória evolução na qualidade de construção e até dos materiais. Mesmo se e neste último caso, mantendo muito do plástico rijo e nem sempre agradável ao toque, que é já também tradição no segmento.
Num habitáculo de fácil acesso e funcional, com vários espaços de arrumação e comandos globalmente bem posicionados, destaque ainda e a par da inspiração desportiva, transmitida também pela convincente posição de condução que, quer o volante de óptima pega e ajustável em altura (mas também algo “descompensado” na disposição dos botões), quer o banco de bom apoio lateral e regulável tanto em altura como profundidade, suportam, para a melhoria conseguida igualmente na habitabilidade. Permitindo, por exemplo, que nos lugares traseiros, seja possível acomodar, ainda que não deixando de exigir alguma boa vontade dos passageiros, até três ocupantes – os quais beneficiam, inclusivamente e apesar do não muito espaço para pernas ou largura, de uma das melhores habitabilidade do segmento!
Aliás e a confirmar igualmente a evolução, os ganhos conseguidos na bagageira. Que, apesar de mantendo o acesso alto face ao piso, assim como um rebatimento 60/40 das costas dos bancos traseiros que pouco ajuda (ficam demasiado altos), anuncia agora mais 55 litros que anteriormente, passando a oferecer 255 litros; 1.010 l, com bancos rebatidos. E que fazem dela, mais uma vez, uma das melhores bagageiras do segmento… também pela inclusão de soluções de funcionalidade como é o caso dos dois pequenos alçapões por baixo do piso falso (não há pneu sobressalente, ganha-se na arrumação!) ou até mesmo dos ganchos porta-sacos nas laterais!
Equipamento completo… e até mais!
Mas se o espaço interior regista melhorias, o equipamento, especialmente nesta versão GT Line, é um colírio para os olhos! Com o pequeno Picanto a exibir, inclusivamente, atributos habitualmente mais frequentes em modelos maiores. Com destaque e desde logo, para o sistema de info-entretenimento particularmente funcional e intuitivo, cujo impacto acaba sendo garantido logo à partida através da inclusão de um ecrã táctil flutuante de 7,0 polegadas, com botões nas laterais. O qual, além de beneficiar já de funcionalidades como o Apple CarPlay ou o Android Auto, pode ainda incluir mais-valias como o sistema de navegação, ou Pack Navegação, por 600€.
Igualmente de série, equipamentos como os faróis em halogéneo com projectores bi-funcionais, luzes diurnas e traseiras em LED, jantes de 16″, retrovisores exteriores com regulação eléctrica, vidros traseiros escurecidos, dupla ponteira de escape, bancos em tecido, volante e alavanca da caixa de velocidades em pele, pedais em alumínio, bancos em tecido, ar condicionado manual, ligação USB + Aux, rádio leitor MP3 com comandos no volante, Bluetooth mãos livres, vidros eléctricos à frente e atrás, e sensor de luz. Opcional e passível de ser incluído, neste domínio, só mesmo a pintura metalizada, por 300€.
Já no capítulo da segurança, apenas a Travagem Autónoma de Emergência em Cidade tem de ser paga à parte (450€), sendo que, do pacote inicial, faz já parte, além dos airbags frontais, laterais e de cortina, o imobilizador ou até o alarme, sistemas como o ABS, Sistema de Gestão da Estabilidade do Veículo (VSM), o Controlo Electrónico de Estabilidade (ESP) e o Sistema de Monitorização da Pressão dos Pneus (TPMS). Com o Picanto a ser também a primeira proposta do segmento equipada com sistema de vectorização do binário por travagem (Torque Vectoring by Braking – TVBB), para uma melhor inserção em manutenção da trajectória, quando em curva.
Motores: à espera de melhores dias
Com o conhecido tricilíndrico 1,0 litros turbo de 100 cv já prometido, embora ainda por chegar (ao pequeno citadino sul-coreano, bem entendido…), o Kia Picanto está obrigado a desenrascar-se, mesmo nesta versão GT Line, com um maior, mas também bem menos expedito, 1.2 CVVT a gasolina de 82 cv. Que, apesar de acoplado a uma caixa manual de cinco velocidades de manche bem posicionada, agradável no funcionamento e que não deixa de tentar espicaçar um pouco o propulsor, pouco mais consegue oferecer que uma subida de regime linear. Para terminar numa ponta final, já perto das 6.500 rpm a que surge o red-line, mais em esforço, que em potência.
De resto e embora bem insonorizado, até mesmo pelos consumos, este 1,2 litros a gasolina dificilmente poderá ser considerado a melhor escolha para um pequeno citadino com visual tão chamativo e promissor. Com as médias por nós obtidas de 6,0 l/100 km (a marca anuncia uns bem mais atraentes 4,6 l/100 km, mas parece-nos difícil…) a confirmarem aquilo que acreditamos ser também a posição da Kia Portugal; ou seja, que venha rápido o 1.0 litros turbo de 100 cv!
Desempenho ágil, despachado… e a pedir mais!
Assim e embora exibindo uma roupagem a denotar, à partida, outras ambições, a verdade é que este novo Picanto continua ser, mesmo naquela que é à partida a sua versão (visualmente) mais desportiva, acima de tudo e principalmente, um autêntico, genuíno e competente citadino! Papel que, aliás e mesmo com um propulsor aquém das suas capacidades, não deixa de desempenhar na perfeição, destacando-se, desde logo, pela competência, naquele que é o seu território de eleição – a cidade, naturalmente! E onde a irrequietude natural, a facilidade de condução e a boa estabilidade e segurança, marcam facilmente pontos, também entre os rivais.
Disfrutando de uma direcção a que não falta sequer algum feedback, além de uma razoável adaptação a velocidades mais elevadas, assim como um sistema de travagem eficaz, garantido também pelo facto de contar com discos de travão nas quatro rodas, nem mesmo um motor pouco espevitado acaba sendo suficiente para beliscar a boa atitude em estrada do novo Picanto. Marcada, de resto e igualmente, por um bom nível de conforto, inclusive, em pisos um pouco mais degradados. Onde, aliás, é também perceptível a boa qualidade de construção deste citadino.
Bem posicionados ao volante, com uma boa visibilidade em redor e com um correcto acesso à generalidade dos comandos – não falta sequer um bom apoio pé de esquerdo ou até mesmo uma pedaleira em metal para maior sensação desportiva – tornam-se assim fáceis e agradáveis as horas passadas ao volante deste Picanto GT Line. Momentos em que só faltará, na verdade, uma maior diversão ao volante que o pequeno citadino deixa indicações de poder dar. Embora, para isso, necessitasse de um propulsor com mais genica e capaz de juntar, ao “hábito”, uma personalidade de genuíno “monge”.
Resumindo…
Agora esteticamente ainda mais cativante, com um bom nível de solidez, mais espaço interior, um equipamento muito completo e, ainda por cima, um comportamento que dá vontade de explorar, é caso para dizer que, ao novo Kia Picanto, e mais concretamente à nova versão GT Line, não falta nada para cativar! Ou melhor, faltar-lhe-á; mais concretamente, um motor à altura das promessas de irrequietude transmitidas pelas linhas exteriores. Mas mesmo isso, garante a própria Kia, estará prestes a conhecer solução…
FICHA TÉCNICA
Motor
Tipo – Quatro cilindros em linha, naturalmente aspirado, com injecção multiponto
Cilindrada (cm3) – 1.248
Diâmetro x curso (mm) – 71.0 x 78.8
Taxa compressão – 10.5:1
Potência máxima (cv/rpm) – 84/6.000
Binário máximo (Nm/rpm) – 122/4.000
Transmissão, direcção, suspensão e travões
Transmissão e direcção – Dianteira, com caixa manual de cinco velocidades; direção de pinhão e cremalheira, com assistência eléctrica
Suspensão (fr/tr) – Tipo McPherson/Eixo de torção
Travões (fr/tr) – Discos/Tambores
Prestações e consumos
Aceleração 0-100 km/h (s) – 12,0
Velocidade máxima (km/h) – 173
Consumos Extra-urb./urbano/misto (l/100 km) – nd/nd/4,6
Emissões de CO2 (g/km) – 124
Dimensões e pesos
Comprimento/Largura/Altura (mm) – 3,595/1,595/1,495
Distância entre eixos (mm) – 2,400
Largura das vias (fr/tr) (mm) – 1.420/1.423
Peso (kg) – 1.400
Capacidade da bagageira (l) – 255/1.010
Depósito de combustível (l) – 35
(Preço inclui desconto de campanha no valor de 1.400€)
Preços
Preço da versão ensaiada (Euros): 14270€
Preço da versão base (Euros): €
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