Honda Civic 1.0 Turbo – Ensaio
Honda Civic 1.0 Turbo: Muito melhor!
Texto: José Manuel Costa
Decisivo? Não chegarei a tanto, mas esta décima geração do Civic é importantíssima para a Honda, o que ficou bem evidente quando soube que a casa japonesa colocou “toda a carne no assador” para dar á luz aquele que, na minha opinião, será o melhor Civic de sempre. O ensaio completo a versão a gasolina com motor 1.0 litros sobrealimentado com 129 CV.
Quando você vai ás compras, seja do que for, e decide investir de uma forma que nunca fez em alguma coisa, é porque acredita na sua escolha e, naturalmente, espera que esse investimento dê algum tipo de resultado, seja material ou somente satisfação pessoal. Afinal foi um investimento e tanto! Ora, foi exatamente isso que a Honda fez: investiu mais do que alguma vez fez em 70 anos de história e dedicou o tempo necessário a colocar em causa tudo o que fez até esta geração do Civic. Não ficou pedra sobre pedra e somente o nome perdurou porque é uma espécie de garantia de reconhecimento mundial. E fizeram-no porque acreditaram que podiam fazer melhor que no anterior. Já o disse acima, na minha opinião é o melhor Civic de sempre, mas vamos a factos para que possa, você, chegar a uma conclusão. Pode me chamar maluco ou coisa pior… já estou habituado!
Tudo novo!
A nona geração do Civic foi infeliz porque nasceu antes da crise, chegiu ao Velho Continente em plena crise e, ainda por cima, manteve-se alternativo na escolha do estilo, com um interior demasiado longe daquilo que os europeus gostam e com algumas falhas de qualidade, uma gama de motores desajustada que foi sendo melhorada, mas nunca esteve do lado certo do passeio. A Honda evoluiu o Civic, mas nunca deixou de estar atrás da concorrência, explicando-se, assim, o insucesso que o modelo conheceu. A versão carrinha não ajudou e o Type R também não, portanto, a coisa mais inteligente foi parar, reagrupar e, investindo um terço do seu orçamento total para pesquisa e desenvolvimento, fazer um totalmente novo Civic.
Como tudo é novo, a plataforma também é e merece que percamos algum tempo, pois além de ser mais larga e, sobretudo, mais longa e baixa, é uma obra prima em matéria de rigidez, especialmente face ao anterior. Contas feitas, são 52% mais de rigidez torsional e 88% (!) de rigidez lateral. Ou seja, o Civic está maior e, sobretudo, está mais apto a oferecer um comportamento eficaz e também maior conforto. Ficamos sentados mais perto do chão – sente-se melhor o carro nessa posição – e o centro de gravidade também é mais baixo. E onde anteriormente existia um plebeu eixo de torção, agora vive um complexo e eficaz eixo independente multibraços. Tudo isto para cumprir aquilo que o caderno de encargos desta geração Civic pedia: melhor comportamento, maior conforto, maior envolvimento na condução.
Enfim, a Honda tudo fez para que o Civic tenha o sucesso de outros tempos e que as últimas gerações sejam olvidadas rapidamente.
Estilo: ADN americano e japonês
Um dos calcanhares de Aquiles da Honda e que as marcas coreanas já resolveram, é o estilo. Olhem bem para as fotos; o carro é uma atarefada combinação de linhas e de formas, algumas delas sem rima, particularmente na traseira demasiado marcada pelos grupos óticos. E a frente também não rima com a traseira. Mas… ao vivo o carro é mais sedutor, porque tem ali aquele gostinho americano que o faz parecer enorme e muito largo. Confesso que está absolutamente longe de ganhar, algum dia, um prémio de beleza, mas pelo menos é diferente, melhor que o anterior e não choca ninguém.
Abrindo a porta, abre-se a boca de espanto pois aqui a Honda conseguiu mesmo fazer melhor e mesmo que não fosse difícil, a verdade é que o habitáculo do novo Civic é um luxo! Primeiro, não há invenções nem inspirações em jogos de consola ou em naves espaciais. Depois, o tablier tem mesmo muito bom aspeto, os instrumentos estão nos locais certos e até o sistema de info entretenimento, o Honda Connect, tem bom aspeto e não é confuso. A qualidade de construção nunca foi um problema e a Honda há muitos anos que nos oferece interiores com uma construção de primeira água e materiais que até podem parecer de menor valia, mas são a toda a prova. E neste Civic essa situação permanece.
A posição de condução melhorou, não só porque estamos sentados mais baixo 34 mm (é muito!) mas porque o depósito de combustível desapareceu debaixo do nosso rabo! Passou para debaixo do rabo dos passageiros do banco traseiro. Com a nova plataforma, há mais espaço no banco traseiro e desapareceu a sensação de claustrofobia – e a bagageira está maior, estando agora o Civic perto das referências do segmento no que toca ao espaço habitável e à bagageira. A forma descendente do tejadilho, porém, não prejudica a visibilidade, mas os mais altos poderão bater com a cabeça no forro do teto.
Comportamento eficaz
O carro tem um equilíbrio fantástico em quase todas as situações e um comportamento excelente que não prejudica o conforto. A suspensão absorve de forma impressionante os ressaltos da estrada e mesmo em ritmo forte, o Civic não exige especial atenção ou empenho para curvar depressa e bem. Muda facilmente de direção, sempre controlado e equilibrado com alguma sensibilidade na direção, algo sempre bem-vindo nos dias que correm, e uma precisão que impressiona. E com o modo Dynamic para os amortecedores, o Civic tem um comportamento excelente que prejudica um nadinha o conforto. A excelente posição de condução e o facto de estarmos sentados com o rabo quase no chão, permite sentir como funciona bem o chassis.
Como sucede habitualmente, a Honda tem alguma dificuldade em acompanhar as tendências e, habitualmente, chega tarde à festa. Porém, faz valer a sua entrada com peças excelentes. Foi assim com o bloco 1.6 litros turbodiesel, aconteceu de novo com o bloco de três cilindros com um litro de cilindrada e sobrealimentação. O bloco conta com o célebre sistema VTEC e por isso o turbo é ligeiro e não muito agressivo para evitar entrar em choque com aquele sistema. A verdade é que tudo está muito equilibrado e nem parece um tricilindrico. Potente e disponível, o bloco Honda é muito utilizável rimando perfeitamente com este Civic.
O ruído emanado pelo motor não incomoda, a vivacidade a subir de rotação surpreende e a capacidade para mexer de forma competente o Civic deixou-me espantado. Um excelente motor muito bem acompanhado por uma caixa excelente.
Veredicto
Após uma semana com o Civic, fiquei surpreendido com a tristeza que me invadiu ao devolver a chave. O primeiro contacto não é brilhante, mas é como aquela velha história “primeiro estranha-se, depois entranha-se” e as qualidades deste Civic são muitas e boas. Está bem, o estilo poderia ser melhor, mas que caramba! um carro não é só estilo! O Civic tem um conteúdo que vale bem mais que o que parece e, sobretudo, é um carro que marca a diferença e não é mais um puto giro com cérebro de galinha. Não quero saber dos cânones e das ditaduras, para mim este Honda é dos melhores carros do segmento. Não está isento de problema e algumas falhas, mas tudo o resto faz que esqueçamos isso e nos deliciemos com a qualidade do comportamento, o bem-estar a bordo, o conforto e até a chapeleira de enrolar de comando lateral que podemos levar para todo o lado. Não funciona de forma perfeita, mas é uma ideia gira! Podia gastar um pouquinho menos (a minha média foi de 6,9 l/100 km com picos próximos dos dois dígitos) e ser um nadinha mais expedito. Mas, no balanço final, estamos perante um automóvel de qualidade e que no segmento se posiciona entre os melhores, com o motor 1.0 litros a ser mais uma das mais valias deste Honda. E além disso até tem carregador por indução do telemóvel. Perfeito… para quem não tem um iPhone…
FICHA TÉCNICA
Motor
Tipo – 3 cilindros em linha, injeção direta, turbo
Cilindrada (cm3) – 988
Diâmetro x curso (mm) – 73 x 78,7
Taxa de compressão – 10,0:1
Potência máxima (cv/rpm) – 129/5500
Binário máximo (Nm/rpm) – 200/2250
Transmissão, direcção, suspensão e travões
Transmissão – Caixa manual de 6 velocidades
Direcção – Direção de pinhão e cremalheira, com assistência elétrica
Suspensão (fr/tr) – Independente,tipo McPherson/independente multibraços
Travões (fr/tr) – Discos ventilados/discos
Prestações e consumos
Aceleração 0-100 km/h (s) – 8,4
Velocidade máxima (km/h) – 200
Consumos Extra-urb./urbano/misto (l/100 km) – 5,0/7,9/6,1
Emissões de CO2 (g/km) – 139
Dimensões e pesos
Comp./largura/altura (mm) – 4518/1799/1434
Distância entre eixos (mm) – 2697
Largura de vias (fr/tr) (mm) – 1537/1565
Peso (kg) – 1275
Capacidade da bagageira (l) – 420
Depósito de combustível (l) – 46
Pneus (fr/tr) – 215/55 R16 (235/45 R17)
Preços
Preço da versão ensaiada (Euros): 29730€
Preço da versão base (Euros): €
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