Ensaio: Abarth 124 Spider
Filipe Pinto Mesquita
Brinquedo masculino
Gémeo falso do Mazda MX-5, o Abarth 124 Spider tem personalidade própria e bem vincada. Desportivo e, por vezes, irreverente, pode-se tornar viciante! Dependendo de quem o conduz…
Mulheres e homens! Provavelmente a dicotomia mais antiga do planeta e a que mais tinta fez correr até hoje. Até o sector automóvel não se coibiu de a explorar, concebendo carros mais masculinos ou mais femininos, de acordo coma sua filosofia de interpretação dos mercados automóveis. Vem isto a propósito da Abarth 124 Spider ser considerado um carro verdadeiramente masculino. Mas será que é mesmo? Fomos tirar a prova…
-“Querida? Importaste de levar o Abarth hoje, que eu preciso do nosso carro para levar umas coisas?”, joguei para o ar, à espera de um tiro de sorte!
-” Claro, é um prazer!”, respondeu sem hesitar com aquele ar de quem sabe que vai impressionar! Mas será que vai? A resposta chegou três horas depois, com um furioso bater de porta, de indisfarçável desilusão:
“- Fica lá com o teu ‘carrinho’ que isto não serve para nada! Sair do carro de saias é uma aventura! Encontrar um sítio para
guardar os óculos de sol é pior que procurar uma agulha num palheiro! Falar ao telemóvel com a ‘barulheira’ do motor [ainda bem que não é proibido, pensei num rasgo de lucidez!] é mais difícil que ir ao cabeleireiro no Natal! E como se não bastasse, param ao meu lado, fazem perguntas sobre o carro que não sei responder, para já não falar dos piropos! Privacidade é igual a zero! Boa sorte! Espero que te divirtas muito!”, disparou enquanto quase me acertou com a chave que lhe escorregou da mão!
Ora, não a censuro! Tal como imaginava, o Abarth 124 Spider adapta-se muito melhor à personalidade masculina (há sempre exceções!). Desde logo, porque a sua concepção de desportivo de dois lugares, roadster, tração traseira com centro de gravidade baixo, imagem agressiva, som potente e herança histórica de competição, parece ser uma faísca para a… virilidade!
Pode não ser o mais potente Abarth da atualidade, mas, convínhamos, este 124 Spider é um brinquedo perfeito para quem elegeu a diversão ao volante como o seu passatempo preferido. Partilhando o chassis do Mazda MX-5, o cabrio italiano recebeu retoques únicos dos engenheirositalianos que o transformaram num poçode virtudes dinâmicas.
Ao baixo peso (1060 kg), foi adicionado um motor 1.4 litros turbo, com 170 Cv, que estando longe de ser explosivo, responde sempre de forma eficaz a partir das 2500 rpm e está bem auxiliado pela caixa manual de seis velocidades, de rapports bem escalonados, num conjunto bastante económico, que não ultrapassa os 7,8 l/100 km reais, em condições normais e os 11,5 l/100 km, em registos de “corrida”. O autoblocante é, depois, a peça-chave para a diversão, permitindo derivas de traseira com o botão do ESP desligado, muito fáceis de controlar dado o equilíbrio geral do carro italiano, que não tem reações intempestivas e é até bastante permissivo a erros por excesso de confiança. A função “Sport”, para além de “vitaminar” ligeiramente o motor, torna mais direta e “transparente” a direção, suficientemente precisa para colocar sempre o “escorpião” na trajetória certa, desde que, obviamente, se conheçam bem as regras da lei da gravidade. Na mesma linha, os amortecedores Bilstein não deixam o carro adornar demasiado e os travões, assinados pela Brembo, estão perfeitamente adequados às exigências dinâmicas dos 232 km/h de velocidade máxima; 6.8s para atingir os primeiros 100 km/h; e das velocidades a que se atingem antes da necessidade efetiva de pisar o pedal do meio. Mas não há, de facto, apenas virtudes a registar. O som extraído dos escapes Record Monza pode ser um catalisador de adrenalina em regimes altos, mas em ritmos baixos chega a ser incomodativo, sobretudo, se a capota de lona manual (com abertura e fecho manual tão fácil e rápido que não justifica um mecanismo elétrico) estiver aberta. Para o rol de queixas, entram também os botões do volante, demasiado pequenos e concentrados de funções.
Menos objetivo, em termos de gosto, é a decoração deste Abarth com pintura Portogallo (750 €) que recorda a unidadeque venceu o Rali de Portugal em 1974, com capô, tampa da bagageira e jantes em preto fosco, combinado com cinzento, e retrovisores e barra dianteira a vermelho, que, para os menos conhecedores, poderá aproximar esta versão do “tuning”.
No habitáculo, é que não há razões para críticas. Os revestimentos em couro e alcântara do tablier, travão de mão e fole da alavanca de velocidades dão um ar muito distinto ao Abarth, completado por um conta-rotações de dimensões generosas e fundo vermelho, do mesmo modo que os sedutores volante e bancos em pele com pospontos vermelhos e diversas inscrições “Abarth” (incluindo uma placa numerada se for uma das primeiras 2500 unidades produzidas), lembram que estamos na presença, não de um Fiat melhorado, mas sim de um verdadeiro Abarth de 42.000 € (48.500€ com diversos extras)! O mesmo preço para um homem ou uma mulher ao volante!
FichaTécnica
Motor Gasolina,4 cil Inj. electrónica e turbo, 1.368cm3
Potência 170 cv – 5.500rpm
Binário 250 NM – 2.500rpm
Vel Max 232 Km/h
Aceleração 6,8s (0-100km/h)
Consumo 7,8 l (Autosport)
EmissõesCO2 148 g/km
Transmissão traseira
Cx Vel Manual 6 vel
Suspensão dianteira independente, triângulos duplos
Suspensão traseira independente multibraços
Travões dianteiros discos ventilados
Travões traseiros discos não ventilados
Peso 1.060 Kg MALA
Mala 140 l
Depósito 45 l
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