Ensaio: Honda Civic Type R
FÁBULA JAPONESA
O CONTO DE FADAS TYPE R ENTRA NA SUA VERSÃO MAIS AGRESSIVA AO ASSOCIAR-SE À ÚLTIMA GERAÇÃO DO CIVIC. DEPOIS DE UM DIA A ALTA VELOCIDADE AO LADO DE TIAGO MONTEIRO TIVEMOS FINALMENTE A OPORTUNIDADE DE CONDUZI-LO
Passaram-se cerca de sete meses desde que o experimentámos ao lado de Tiago Monteiro. E desde aí nunca mais nos esquecemos daquilo que nos disse o piloto português: “É um WTCC de estrada”, confirmando que o desenvolvimento foi feito com base no carro que atualmente corre no Campeonato do Mundo de Turismos. Nessa ocasião fomos aos arredores de Barcelona, no circuito de Castelolli, provar as suas capacidades dinâmicas com um condutor de luxo a ‘cansá-lo’ de todas as formas e feitios. Mas só agora é que o pudemos ‘sentir’ nas estradas portuguesas, escolhendo para o efeito as bonitas serras de Sintra e da Arrábida.
Lançado com o objetivo de prolongar a fabulosa tradição da Honda no lançamento de grandes compactos desportivos, o modelo que vê nas imagens é a quarta interação do Type R no Civic, e também a mais potente, exibindo uns impressionantes 310 cv e 400 Nm, extraídos de um motor 2.0 turbo – uma estreia que coloca um fim na tradição atmosférica e que o torna, ao mesmo tempo, num dos carros de tração dianteira mais dinâmicos do mercado. Ao olhar para ele, percebe-se de forma quase instantânea que os argumentos ao nível das prestações (0-100 km/h em 5,7s e 270 km/h de velocidade máxima) têm continuidade no dramatismo da carroçaria, em cada rebite do lábio dianteiro e na enorme asa traseira, na dupla ponteira de escape e nas jantes de 19 polegadas, ou na largura dos ‘ombros’ e nos ‘respiradores’, semelhantes às guelras de um tubarão, que pintam as laterais.
MASOQUISMO
Há quem diga que é um exagero. Outros que o Civic Type R acabou de sair de longas horas numa oficina especializada em ‘tuning’. Mas honestamente não nos parece que haja nada de errado com ele. Se há coisa com que sempre sonhámos em criança era com um dia vir a ter um carro igualzinho aos de competição. E este Civic preenche certamente esses requisitos, transmitindo a ideia de ter saído das instalações da JAS Motorsport, após lhe terem sido retirados os autocolantes do Tiago Monteiro. Depois, tem a vantagem de ter as mesmas cinco portas do Civic convencional, e a capacidade de transportar cinco passageiros, o que significa menos uma dor de cabeça se vier a optar por ele (a bagageira de 498 litros – 1427 litros com os bancos rebatidos é outro argumento importante para quem pretende utilizá-lo como carro de família). Bom, talvez não seja tolerável a todos os que gostam de automóveis, e em particular de desportivos. Mas nos três dias que passámos com ele ninguém lhe ficou indiferente, manifestando um entusiasmo que indica que gostariam de ter dado uma voltinha ao volante. Nunca ouviu que quem desdenha quer comprar?
A posição de condução sublime vai buscar grande parte do seu conforto às fabulosas bacquets que pintam os bancos dianteiros. Revestidas a pele e alcantara, têm a particularidade de poderem ser reguladas ao nível das costas, o que nem sempre acontece noutros modelos com este perfil. Longe de serem demasiado ‘secas’, permitem que nos sintamos agradavelmente ‘presos’ ao carro, dando corpo a uma espécie de masoquismo que teima em crescer dentro de nós à medida que vamos descobrindo os seus detalhes e nos preparamos para ligar a ignição. O pesponto vermelho que traça o contorno dos bancos tem continuidade nos assentos traseiros, surgindo ainda no volante, no fole da caixa de velocidades e ao longo do tablier. Mas é o botão ‘+R’, e as informações que este esconde, a sugerir o seu caráter intempestivo. Basta um toque para o painel de instrumentos assumir uma tonalidade vermelha (cor que também pinta os cintos), e para que no pequeno ecrã informativo surjam destacados os gráficos que indicam as forças longitudinais da aceleração e as curvas de binário e potência a serem utilizadas. Outro toque num botão do volante e passamos a contar com um cronómetro com o indicador do tempo por volta, claramente a pensar nos ‘track-days’.
Com ele ligado, tudo é fabuloso. A direção fica mais pesada, o motor mais pontudo. “Existe uma maior agressividade a todos os níveis do suporte da suspensão, da direção, ao motor e a aceleração também. Claro que é tudo eletrónica, mas está muito bem feito”, garantia, em Barcelona, Tiago Monteiro. As maxilas da brembo escondem uns travões incríveis, enquanto os pneus Continental Sport Contact 6, 235/35 ZR19 à frente e atrás, asseguram o ‘grip’ necessário para mantê-lo colado à estrada. É um tração dianteira imponente, como já vimos, com guarda-lamas vistosos, um grande aileron e um difusor traseiro. Rebites e detalhes aerodinâmicos por todo o lado, mas todos com uma função. E isso sente-se, com o Civic Type-R a impressionar pela forma como curva, e por a frente não escorregar quando se carrega no acelerador. Não tem a aceleração pura, nem o controlo do Focus RS, por exemplo. Mas parece mais desafiante que o rival, que hoje conta com a tração integral. É tal e qual o que se esperaria (e o que se ouve na televisão) de um carro de turismo, com uma caixa super mecânica e direta, punho curto à Honda e prestações de sonho. Honda, ‘The Power of Dreams’ ou ‘O Poder dos Sonhos’– e não é que é mesmo?
“Quando o carro ainda era um protótipo, eu e o Gabriele Tarquini conduzimos o carro algumas vezes e tivemos centenas de perguntas dos engenheiros. Seis ou oito meses depois voltámos a guiar o carro e era completamente diferente. Deram-nos ouvidos e acho que queriam mesmo fazer um carro de competição para a estrada. Sem dúvida que a Honda aproveitou muito da experiência do WTCC para este carro e isso nota-se no seu comportamento e na entrada em curva. É um carro que, como podes ver, conduz-se quase como um carro de corrida. É muito divertido e eficaz, e quando o experimentares em estrada vais ver que é quase assustador”, antecipava Tiago Monteiro, no circuito de Castelolli. Tinha razão!
Ficha Técnica Honda Civic Type R
Motor 4 cil. Turbo 1996 cm3
Potência 310 cv/6500 rpm
Binário 400 Nm 1250-4800 rpm
Aceleração 0-100 km/h: 5,7s
Vel. Máx 270 km/h
Consumos médios 7,3 l/100 Km
Consumo AutoSport 12,4 l/100 Km
Suspensão McPherson à frente, eixo de torção atrás
Travagem DV/DV
Peso 1382 kg
Mala 498 litros
Depósito 50 lts
Emissões: 170 g/km CO2
Preço Base 40.780€
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