Porsche 718 Boxster: Três letrinhas apenas
E um motor turbo que faz toda a diferença. Já conhece o novo Porsche 718 Boxster? Orgulhosamente só, o Porsche Boxster traçou o seu próprio caminho numa época em que ninguém dava nada por ele. Considerado a primeira grande ‘heresia’ da casa de Zuffenhausen, antes do lançamento de Cayenne e Panamera (o sucesso comercial de ambos, bem como a evolução do mercado, fez com que o Macan fosse imediatamente aceite como um produto de grande relevância), o desportivo de dois lugares e até aqui modelo mais acessível da sua gama (o Cayman prepara-se para herdar esse título) está hoje consolidado no seio da marca alemã e no coração dos seus adeptos. Sim, o 911 mantém-se como modelo mais emblemático, e sabemos bem que o Boxster, ou 718 Boxster, como agora se designa, nunca atingirá esse estatuto. A não ser, claro, que venha a assumir a longevidade do ‘irmão’ mais velho, há mais de cinquenta anos a deixar a sua impressão digital no mercado dos automóveis de sonho.
A nova designação pode parecer uma ‘modernice’, e sejamos claros, é – porquê mudar quando o Boxster, a ‘brincar’, já existe há 20 anos? Mas é daquelas que até têm (muita) correlação com a história. É um regresso à tradicional numeração em três dígitos que a Porsche quase sempre utilizou nos seus modelos, como o famoso 911 ou o precursor 550 Spyder, vencedor da Targa Florio em 1956, e precisamente aquele (em conjunto com a ‘evolução’ 718 RSK que também triunfou na clássica italiana em 1959, 1960 e 1963) a quem este 718 Boxster foi buscar inspiração, não fossem desportivos de dois lugares e motor central (com a possibilidade de serem conduzidos, no exemplo mais recente) sem capota.
Nessa época, o Porsche 718 era movido por um bloco de quatro cilindros de 1.5 litros, recorrendo à dupla ignição para extrair 142 cv de potência. Hoje conta com uma família de motores boxer de quatro cilindros turboalimentados, com potências entre os 300 e os 350 cv, três desenhos distintos do sistema e saídas de escape, e opção de escolha entre uma caixa manual e uma automática PDK.
O SEGREDO ESTÁ NO TURBO
Na Porsche, já se sabe, a tecnologia é rainha. E é por isso que as grandes mudanças neste 718 Boxster, além da nomenclatura e de alguns (grandes) detalhes da carroçaria, estão na mecânica e no conforto. Embora não pareça, a casa germânica garante que no design tudo é novo, excetuando a tampa da bagageira, o pára-brisas e a capota. Mas o modelo não assume oficialmente o cariz de uma nova geração, sendo antes uma evolução da terceira, com o nome de código 981, lançada em 2012.
A marcar a diferença está, sobretudo, a turboalimentação, sendo que o mais potente Boxster S, de 2,5 litros (e não 2,0 litros do Boxster ‘normal’) utiliza um turbocompressor com geometria variável. Com isso a marca promete mais 35 cv e menos 13% de consumo para as duas versões, tudo o que se quer nesta era de desportivos cada vez mais ‘poupadinhos’. É verdade: também o binário cresceu, para 380 Nm entre as 1950 rpm e as 4500 rpm no 718 Boxster (+100 Nm), e para 420 Nm entre as 1900 rpm e as 4500 rpm no Boxster S (+60 Nm) – o maior aumento na história da Porsche. A ajudar estes números está o reforço das paredes dos cilindros, mais resistentes, e com isso a reduzir a fricção, a colocação do injetor no centro da câmara de combustão e o aumento da pressão até 250 bar. Há ainda a modificação da posição da árvore de cames, e igualmente do curso de válvulas de admissão, bem como a sua refrigeração indireta.
SOPRO CARACTERÍSTICO
Tal como as linhas da carroçaria, o habitáculo também foi cirurgicamente melhorado. Recebeu um volante à imagem do superdesportivo 918 Spyder, com 360 ou 375 mm de diâmetro (a escolha cabe ao cliente, sendo que o primeiro, mais desportivo, inclui um pequeno botão multifunções que permite selecionar os diversos modos de condução), e um novo PCM – Porsche Communication Management com um ecrã tátil de sete polegadas. Conta ainda um módulo ‘connect’ que permite a ligação a um smartphone da Apple e o respetivo controlo das operações, e um ‘connect plus’, mais avançado, com informação real do tráfego, ‘wi-fi’ e dados do Google Earth e Street View.
Ao volante, tudo é bom, sobretudo na versão S, cuja sonoridade ganha um novo elán. A presença do turbo nota-se imediatamente a baixos regimes, com uma força impressionante nas duas versões. Mas é impossível abstrair-nos da ausência do sopro tão característico dos motores boxer atmosféricos da Porsche, agora mais ‘abafado’ e ligeiramente artificial. Admitimos que esta crítica possa ser uma pequena picuinhice. Mas, novamente, o Boxster S seria aquele que escolheríamos. Não só pelo acréscimo da potência, mas sobretudo porque as vibrações e emoções são muito mais intensas. O comportamento é, como sempre, excecional, com as transferências de massas a surgirem a velocidades impressionantes, mais ainda quando o 718 Boxster S vem equipado com a suspensão ativa desportiva que o rebaixa em 20 mm e a fabulosa caixa manual. Tudo com a vantagem de poder ser conduzido com os prazeres da capota aberta.
FICHA:
718 Boxster 300 cv 380 Nm 7,4 l/100 km (manual) 6,9 l/100 km (PDK) 168-158 g/km 4,7s 0-100 km/h; 275 km/h
A partir de 64 433€/66 813€ (PDK)
718 Boxster S 350 cv 420 Nm 8,1l/100 km(manual) 7,3l/100 km (PDK) 184-167 g/km 4,2s 0-100 km/h; 285 km/h
A partir de 82 046€/83 311€ (PDK)
André Bettencourt Rodrigues
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