Jaguar XF 2.0d R-Sport
Historicamente, o segmento de prestígio tem sido dominado pelos fabricantes alemães, raros tendo sido os modelos provenientes de outras paragens que se conseguiram entre eles imiscuir-se. Desde que saiu da órbita da Ford, e lançou a primeira geração do XF, a Jaguar tem constituído das raras exceções a esta regra – desde o seu aparecimento, tem vindo a cativar adeptos, impondo argumentos como a imagem de marca; a elegância das linhas; a boa qualidade geral; e a dinâmica de nível superior. Com a chegada da sua nova geração, o XF passa a dispor, como nunca antes, de argumentos para se bater de igual para igual com os seus poderosos opositores. Desde logo por via de uma estética que faz jus à tradição da marca e do modelo, combinando atributos como elegância e distinção com formas que nunca foram tão dinâmicas e contribuem decisivamente para incrementar o seu apelo visual. E tudo isto continuando a seguir um rumo, nesta matéria, totalmente distinto dos tais modelos alemães.
Esta evolução poderá levar os menos atentos a julgar que o novo XF não é muito mais do que uma atualização do anterior, o que de todo corresponde à realidade – na sua génese está a nova plataforma modular em alumínio da Jaguar, a mesma que já serviu de base ao novíssimo XE e é um dos seus componentes fulcrais, por eliminar uma das características mais criticadas na sua anterior geração: o peso. Mas já lá iremos. Para já, sublinhe-se que o interior é extremamente amplo, uma referência em termos de habitabilidade, principalmente ao nível do espaço para pernas atrás. A bagageira conta com um bom acesso e 540 litros de capacidade, valor, também ele, referencial para o segmento. Ainda no habitáculo, pela positiva, o excelente posto de condução e uma decoração que honra a fama dos construtores britânicos, mais uma vez imperando o bom gosto, a classe e o requinte.
Mas alguns detalhes carecem de revisão: se os materiais são, quase todos, de qualidade superior, existem alguns menos nobres; algumas falhas de montagem traduzem-se em ruídos parasitas difíceis de aceitar a esta nível, e que, pela negativa, fazem a diferença para os dominadores da classe; e também seriam bem-vindos um grafismo do sistema de infoentretenimento menos elementar, uma forma mais intuitiva de selecionar os modos de condução disponíveis e que algumas funções deixassem de só ser possíveis de visualizar no ecrã do painel de instrumentos, e de comandar através dos botões no volante e das alavancas na coluna de direção. Como é da praxe em Portugal, o grosso das vendas do novo Jaguar XF assentará no motor Diesel de 2.0 litros, e muito provavelmente na mais dotada variante para já disponível do novo motor turbodiesel Ingenium, com 180 cv e 430 Nm, já que o diferencial de preço para a de 163 cv é de pouco mais de dois mil euros, e os consumos nem por isso são muito superiores.
Já conhecido do XE, este motor, sem deslumbrar, cumpre com brio a sua tarefa, primando pela boa disponibilidade na maioria das situações de utilização, e garantindo uma condução fácil e económica. Com a chegada do novo XF, as versões a gasóleo de 2.0 litros passam a estar disponíveis também com caixa manual de seis velocidades – opção que se não recomenda, a menos que não seja mesmo possível despender os cerca de €2660 extra exigidos pelo modelo equipado com a excelente caixa automática de oito velocidades. É que, para manter os consumos no mesmo patamar, mas contando com menos duas relações, o XF 2.0d de caixa manual é forçado a adotar um escalonamento excessivamente longo das duas últimas relações, e em especial da sexta, o que, desde logo, obriga a um recurso muito mais frequente à caixa nos percursos com maiores variações de velocidade ou relevo. As recuperações também não deixam de ser negativamente afetadas por esta situação, ao passo que o comando suave e relativamente preciso da caixa, mas lento e desprovido de boa parte dessa precisão quando se pretende que seja efetivamente rápido, não facilita as trocas de mudança e acaba por ter consequências também quando se pretendem obter os melhores registos nos arranques. Menos mal que o objetivo primeiro deste escalonamento longo é alcançado: excelentes consumos a velocidades estabilizadas – mas como a versão de caixa automática garante praticamente os mesmos valores, o melhor mesmo é optar por este tipo de transmissão, que em muito aumenta o agrado de condução e garante prestações bem mais interessantes.
Já para o comportamento sobram elogios, tal como para os consumos. Para o desempenho do XF neste particular a nova plataforma é determinante, por ter permitido eliminar um dos principais defeitos do modelo na sua primeira geração: o peso excessivo. E isso nota-se! A par do elevado conforto de marcha, o comportamento dinâmico é simplesmente soberbo, graças à forma exemplar como são controlados os movimentos carroçaria, à precisão do eixo dianteiro, à forma fidedigna como a traseira o acompanha. Este é, de fato, um felino cheio de garra, senhor de uma condução deveras envolvente, e o único representante deste segmento com competência não só para se bater de igual para igual com a até aqui referência da classe nesta matéria, mas até para batê-la: o BMW Série 5 (pelo menos até à chegada da sua nova geração, prevista para o próximo ano). Por tudo isto, para os pretendentes de um grande familiar de prestígio que deem especial valor ao prazer que é ocupar o lugar atrás do volante, o novo Jaguar XF é, decisivamente, uma opção (a opção…?) a ter em conta. Disponível a partir de €46 931 na versão Diesel de acesso de 163 cv e caixa manual, é proposto a partir de €51 774 na variante de 180 cv e caixa manual, e desde €54 358 quando equipado com a muito recomendável transmissão automática – valores que não deixam de ser competitivos para esta classe de veículos. Quanto à versão R-Sport em análise, já dotada de um nível de equipamento muito interessante, exige o dispêndio de pouco menos de 60 mil euros.
Texto: António de Sousa Pereira
Jaguar XF
Preço 56 990€
Motor: 4 cil. em linha Diesel, inj. direta common-rail e turbo, 1999 cm3
Potência: 180 cv/4000 rpm
Binário: 430 N.m/1750-2500 rpm
Transmissão: traseira, caixa manual de seis vel.
Suspensão: Triângulos sobrepostos na frente, multibraços atrás
Travagem: DV/D
Peso: 1585 kg
Mala: 540 l
Depósito: 66 l
Velocidade máxima: 230 km/h
Aceleração 0-100 km/h: 8,0 s
Consumo médio: 4,3 l/100 km
Consumo médio: AutoSport: 6,62 l/100 km
Emissões de CO2: 114 g/km
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