ENSAIO: Range Rover Sport SVR

By on 11 Janeiro, 2016

Sem rodeios: este é o mais potente e veloz modelo alguma vez construído pela Land Rover. É, também, uma das realizações do recém criado departamento SVO do JLR, encarregue de desenvolver as versões mais especiais dos modelos da Land Rover e da Jaguar. Identificado pela designação Range Rover Sport SVR, custa em Portugal mais de 178 milhares de euros, o que é praticamente irrelevante para as suas pretensões comerciais: mesmo em latitudes fiscalmente menos penalizantes para o automóvel, e com outro poder de compra, como é normal em propostas deste género, o seu objetivo nunca serão os grandes volumes de vendas, antes servir de montra para ilustrar as capacidades do seu construtor e, assim ajudar a alavancar as vendas dos seus modelos ditos “normais”. Uma semana se convívio com este portento é mais do que suficiente para concretizar o quanto o Range Rover Sport SVR pode ser eficaz, quanto mais não seja, enquanto cartão de visita da marca britânica (e é-o em muitos outros domínios…). Os seus atributos e as suas capacidades, enquanto SUV de pendor desportivo, são tais, que facilmente são esquecidos os seus poucos defeitos. E o encanto tem início logo num primeiro olhar, fruto de uma decoração exterior que pode não ser consensual, mas não deixa de atrair atenções e fazer jus ao enorme potencia mecânico, prestacional e dinâmico do veículo, e ao seu estatuto e posicionamento muito específicos. A par das jantes de 22”, o que mas se destacará será a cor azul da carroçaria, exclusiva desta versão (que está disponível, naturalmente, com cores mais convencionais), combinada com as aplicações e logos em preto – indubitavelmente tendendo a agradar a todos quantos consideram que automóveis especiais merecem uma aparência, não banal, mas igualmente especial.

No interior, é impossível evitar que o olhar fique de imediato refém das soberbas bacquets em pele de duas cores, praticamente idênticas nos lugares dianteiros como nos laterais traseiros. Com encostos de cabeça integrados e um excelente apoio lateral, a sua aparência é, pelo menos, tão deliciosa quanto o encaixe que proporcionam, o que, como será fácil de concluir, praticamente impossibilita o transporte de um terceiro passageiro atrás, acabando a lotação, na prática, por ficar limita a quatro ocupantes. Para além dos primorosos bancos, o interior deste SVR é, no essencial, idêntico aos das restantes versões do RR Sport, pese embora os materiais e acabamentos sejam ainda mais nobres e faustosos, garantido uma qualidade e refinamento interiores de ainda de maior excelência, só não o tornando opulento porque a desportividade está sempre presente. Mas passemos ao que realmente interessa num automóvel deste género: a mecânica e tudo o que, de uma forma ou de outra, se lhe relaciona. Sob o capot está o motor V8 de 5,0 litros já conhecido de alguns modelos da Jaguar, sobrealimentado por um compressor mecânico, e capaz de disponibilizar nada menos do que 550 cv de potência, e um binário máximo de 680 Nm às 3500 rpm. Valores que impressionam sempre, embota até estejam longe de ser referencia neste tão exclusivo subsegmento de mercado: o BMW X5 M oferece 575 cv; o Mercedes-AMG GLE 63 4Matic 557 cv; e o Porsche Cayenne Turbo S 570 cv… Assim posto, até pode parecer que o RR Sport SVR não é nada de assim tão marcante. Nada mais errado! Mesmo perante um peso superior a 2,3 toneladas, este motor garante prestações que a ninguém deixarão indiferente, como os 4,7 segundos anunciados nos 0-100 km/h, ou uma velocidade máxima que só porque eletronicamente limitada se “fica” pelos 260 km/h. Para lidar com valores desta ordem de grandeza, o RR Sport SVR conta com a caixa automática de oito velocidades; amortecimento pneumático continuamente variável; sistema de vetorização de binário; diferencial traseiro ativo; barras estabilizadoras ativas; e, obviamente, tração integral permanente. Um lote de soluções que tornam a sua condução uma tarefa por demais agradável, não raro entusiasmante, e por vezes, até, desafiante – quando se pretende explorar em pleno os seus limites.

SINFONIA ARREPIANTE

Sublinhe-se, desde já, que, numa utilização convencional, daquelas para que não é necessário dispor de um “supermotor”, o SVR comporta-se quase como qualquer outro RR Sport, sendo inclusive capaz de garantir um nível de conforto equivalente, e exigindo apenas alguma atenção ao pedal da direita nas manobras de estacionamento em espaços mais apertados, para evitar correr-se o risco de acabar irremediavelmente demasiado próximo da parede ou do veículo estacionado à frente atrás. Mesmo a ritmos “civilizados”, a baixa velocidade e a baixo regime, o V8 brinda sempre quem segue a bordo, ou com o SVR se cruza, com uma sonoridade incrível, absolutamente magnífica, possível mesmo de incrementar através do botão que ativa a válvula existente no circuito de escape e destinada a amplificá-la (algo que ocorre de forma automática sempre que se seleciona o modo de condução mais dinâmico). Gigante com press a Quando se aumenta o ritmo, e as passagens de caixa passam a ocorrer mais perto da red line, este troar do motor torna-se num verdadeiro rugido, que estampa um sorriso infantil no rosto de quem vai ao volante, do mesmo modo que os sonoros estampidos emitidos pelo escape em desaceleração chegam a assustar os transeuntes mais incautos e desprevenidos. A par deste estímulo auditivo, os sentidos do condutor são ainda atraídos pela forma impressionante como os 2335 kg ganham velocidade, sendo igualmente notável o modo como se processa a operação oposta, graças aos enormes discos ventilados montados nas quatro rodas. Se andar em frente, e depressa, com o RR Sport SVR é tarefa grata e relativamente simples, enfrentar troços mais retorcidos a ritmos realmente empenhados já é algo que exige maiores recursos, cuidados e atenções. Afinal, apesar do bom trabalho levado a cabo pelos seus muitos recursos tecnológicos, sempre estamos em presença de algo com praticamente cinco metros de comprimento por quase dois de altura, 2,3 toneladas de peso, um centro de gravidade alto e muita potência à disposição do pé direito. Por exemplo, sobre asfalto molhado, qualquer atuação mais intempestiva sobre o acelerador, sobretudo quando as rodas da frente não estão direitas, traduz-se num piscar incessante da luz do controlo de estabilidade, que nestas circunstâncias recomendase não seja desligado. Já quando a motricidade é perfeita, elogios para o amortecimento e barras estabilizadoras ativas, que controlam muito bem os movimentos da carroçaria, tornando as importantes transferências de massa nas trocas de apoio bastante menos limitativas do que aquilo que seria de esperar. Também por via disso, a inscrição da frente em curva é relativamente fácil, e bastante precisa, cabendo depois ao condutor decidir pelo estilo que quer adotar na saída: mais suave e lienar, ou esmagando o acelerador para, com o ESP desligado, fazer

rodar a traseira e tirar partido da forma controlada como tudo se processa, graças ao meritório trabalho desenvolvido pelo sistema 4×4 com diferencial traseiro ativo e pela vetorização de binário – assim a largura da estrada o permita…

RAZÃO OU EMOÇÃO?

Curioso, o fato de o SVR contar com os mesmos recursos para a prática do todo-o-terreno que qualquer outro Range Rover Sport, das redutoras ao sistema HDC de controlo de descidas, passando pela Terrain Response 2, ou por um altura ao solo que pode variar entre 163 mm e 348 mm. E curioso é porque é difícil imaginar quem sujeite mais de 178 mil euros a uma utilização realmente intensiva no fora de estrada, para mais quando equipado com pneus sem grandes aptidões TT, com perfil 40 e montados em jantes de 22”! Melhor, mesmo, será aproveitar todo o potencial deste “super- SUV” sobre o alcatrão mais plano, se possível esquecendo consumos que nunca são os mais apelativos, que facilmente disparam para valores na casa dos 25,0 l/100 km quando o respeito pelo pedal da direita desaparece, e que chegam a ser preocupantes (nem que seja pela diminuição da autonomia) numa utilização verdadeiramente “a fundo”. Algo que dificilmente preocupará quem esteja na disposição de adquirir um automóvel deste género, apto a proporcionar uma memorável experiência de condução, e a estimular os comportamentos mais infantis, como acelerar desnecessariamente sempre que se travessa um túnel, só para se deliciar com o ecoar do fabuloso rugido do seu motor.

Texto: António de Sousa Pereira

RANGE ROVER

Preço €178 105

Motor: 8 cil. V a 90°, inj. direta compressor, intercooler, gasolina, 5000 cm3

Potência: 550 cv/6000-6500 rpm

Binário: 680 N.m/3500-4000 rpm

Transmissão: integral permanente, cx. auto de 8 veloc.

Suspensão: Independente multibraços

Travagem: DV/DV

Peso: 2335 kg

Mala: 489-1761 litros

Depósito: 105 litros

Vel. máxima: 260 km/h

Aceleração 0-100 km/h: 4,7s

Consumo médio: 12,8 l/100 km

Consumo médio AutoSport: 12,22 l/100 km

Emissões de CO2: 298 g/km